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Nº 1658 - Ano 35
22.6.2009

Direto na fonte

Estudo recorre a produtores para investigar oferta e qualidade das águas em comunidades rurais de Montes Claros

Juliana Paiva

Numa região semiárida, em que a escassez e a irregularidade das chuvas são uma preocupante realidade e impõem condições especiais para a atividade rural, conhecer a situação das águas pode ser fator decisivo para assegurar a continuidade do abastecimento e da atividade agrícola. Em busca desse conhecimento, o pesquisador Rafael Eduardo Chiodi foi atrás de quem mais entende essa realidade: os próprios produtores rurais. O resultado da pesquisa realizada com agricultores familiares da região do Planalto, na zona rural de Montes Claros, Norte de Minas, integra a dissertação de mestrado defendida no Instituto de Ciências Agrárias (ICA), no dia 10 de junho.

O objetivo foi pesquisar a situação das águas na região onde vive grande parte dos agricultores familiares ligados à Associação dos Produtores de Hortifrutigranjeiros da Região do Pentáurea (Asprohpen), parceira do mestrado em Ciências Agrárias/Agroecologia do ICA em vários projetos. Vinte e três famílias de seis comunidades rurais da região do Planalto participaram das entrevistas – o equivalente a 12% dos associados da Asprohpen.

Foram investigados as fontes, a disponibilidade, a média de consumo, a qualidade, o uso e o manejo da água para consumo doméstico e produção. A pesquisa também levantou e avaliou as principais iniciativas públicas relacionadas ao abastecimento e à conservação das águas no local. “O Planalto possui uma significativa disponibilidade de água, o que não ocorre em outras localidades do Norte de Minas”, compara Rafael. Segundo ele, a região dispõe de nascentes e rios em abundância para o uso das famílias rurais, sendo elas as duas principais fontes de água utilizadas para a produção, conforme indicado pelos agricultores entrevistados. Já o número de poços artesianos, fonte mais usada para o abastecimento doméstico, também é considerado satisfatório.

A maioria das famílias – 74,1% das entrevistadas – afirma dispor de água de boa qualidade para o uso doméstico. No entanto, vários são os prejuízos que as fontes dessa região vêm sofrendo. A principal causa, apontada por 47,8% dos agricultores entrevistados, é o desmatamento e assoreamento das nascentes e rios; logo depois, vem a poluição das águas, citada por 30,4% das famílias.

Retorno

Segundo Rafael Chiodi, a pesquisa desenvolvida durante o mestrado procurou sistematizar um conhecimento já dominado pelos próprios agricultores. “Meu trabalho foi coletar informações com várias pessoas e organizá-las”, comenta o pesquisador, que também se preocupou em devolver os resultados do trabalho à comunidade. Isto ocorreu no dia 4 de junho, durante reunião mensal da associação de produtores. O objetivo é que as informações sirvam para orientar as famílias de agricultores e a associação na busca dos melhores caminhos para lidar com questões relacionadas à água.

Na raiz dos problemas

Captar demandas nas comunidades rurais do cerrado norte-mineiro e devolver o resultado dessas pesquisas na forma de tecnologias aplicadas, cursos e oficinas, é o eixo dos trabalhos desenvolvidos no mestrado em Ciências Agrárias/Agroecologia do ICA, desde que entrou em funcionamento, em 2006. Segundo a coordenadora do curso, professora Anna Christina de Almeida, a vinculação com a realidade do Norte de Minas é uma exigência do projeto pedagógico e condiz com uma das missões do campus regional da UFMG em Montes Claros: buscar a sustentabilidade do semiárido.

A Asprohpen é parceira de primeira hora do mestrado, mas os projetos têm se expandido para além das comunidades ligadas à associação. Eles já chegaram, por exemplo, a dois assentamentos do MST (Movimento dos Sem-Terra), em Montes Claros e São Francisco; a comunidades da Bacia do Rio dos Cochos e da Bacia do Rio Pandeiros, em Januária; e a grupos de produtores dos municípios de Francisco Sá e Mirabela.

A partir das demandas levantadas entre essas comunidades, os pesquisadores desenvolvem projetos em três frentes de estudo. Na linha sobre Manejo Ecológico da Produção Agrícola, destaque para trabalhos relacionados a doenças de plantas e utilização de dejetos como fertilizantes. Estudos sobre plantas medicinais e outros que exploram os recursos genéticos típicos da região são exemplos dos trabalhos desenvolvidos na área de Uso, Manejo e Conservação da Biodiversidade em Ecossistemas Naturais e Agrícolas. Na linha de pesquisa sobre Produção Animal Sustentável, grande parte dos projetos trata de alimentos alternativos e tratamentos de doenças. O mestrado em Ciências Agrárias/Agroecologia oferece 25 vagas anuais, divididas em duas entradas.

Dissertação: Programas públicos e disponibilidade de água na região do Planalto, município de Montes Claros – MG
Autor: Rafael Eduardo Chiodi
Defesa: 10 de junho, no Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias com ênfase em Agroecologia do Instituto de Ciências Agrárias (ICA)
Orientador: Áureo Eduardo Magalhães Ribeiro