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Nº 1658 - Ano 35
22.6.2009

Espreme que sai notícia

Dissertação da Fafich analisa estratégias de jornais populares para atrair leitores

Priscila Brito

Destaque para o noticiário policial, manchetes em cores fortes, preço baixo. Sinônimo de jornalismo de má qualidade? Incomodada com a visão depreciativa que predomina sobre os jornais populares, a pesquisadora Flávia Miranda decidiu investigá-los para tentar enxergar o que traziam além do trinômio crimes-futebol-mulheres consagrado pelo senso comum. Em sua dissertação de mestrado, ela analisou os jornais mineiros Super Notícia e Aqui com o objetivo de compreender de que forma eles dialogam com seus leitores.

O primeiro passo da pesquisa foi tentar desvincular os jornais do rótulo “sensacionalista”. A pesquisadora explica que sensacionalismo é o tom de exagero que um meio de comunicação adota em relação a uma informação, sem que ela mereça tanta importância. Para ela, os jornais populares podem até lançar mão dessa estratégia, mas não são os únicos. “Sensacionalista qualquer veículo pode ser. Jornais de referência também apresentam abordagens com esse viés, mas muitas vezes não são alvo de um olhar mais apurado porque partimos da concepção de que esses jornais são ‘de qualidade’. Não se trata de ter visão acrítica em relação ao que é produzido pelos jornais populares, mas se de imediato forem rotulados negativamente, corremos o risco de não ouvir o que eles têm a dizer”, argumenta.

Jogando fora os rótulos, a pesquisadora percebeu que os dois jornais dão espaço para notícias sobre política, economia, reivindicação dos leitores, prestação de serviços e oportunidades de trabalho. Quanto aos temas clássicos (violência, celebridades, esportes), responsáveis pelo preconceito construído em torno dos jornais, a pesquisadora defende que eles podem ser analisados a partir de outra perspectiva. “As notícias salientam aspectos comuns ao cotidiano de quem lê essas publicações: a falta de segurança, a repercussão do futebol mineiro, os valores compartilhados pelos famosos, os problemas da cidade (deficiência no transporte, nas escolas, nos espaços de lazer)”, avalia Flávia, que credita à relação estabelecida entre o conteúdo das notícias e a vida dos leitores o sucesso dos jornais junto a esse público.

Atenta também aos aspectos gráficos, ela ressalta que o estilo da diagramação, principalmente da capa – que investe no uso de textos em negrito e sublinhados sobre cores fortes, como vermelho e preto –, não pode ser entendido apenas como exagero. “Os elementos gráficos colaboram para indicar aos leitores certas ênfases que os jornais dão aos acontecimentos dispostos na chamada ‘vitrine’ do jornal”, completa.

Iguais, mas diferentes

Apesar de temas, público e preço serem os mesmos, Flávia Miranda se concentrou também em buscar as diferenças entre os dois jornais. Ela notou que o Super Notícia tem textos menores e investe mais em narrativas lúdicas se comparado ao Aqui. Na interpretação da pesquisadora, muito mais que uma opção editorial, essa constatação pode ajudar a explicar as diferenças de desempenho comercial dos
periódicos. Levantamento do Instituto Verificador de Circulação (IVC) aponta que, de janeiro a dezembro de 2008, o Super Notícia teve circulação diária de 303.087 exemplares, a segunda maior do Brasil – atrás apenas da Folha de S. Paulo, com 311.287. Por outro lado, o Aqui apresentou circulação inferior a 100 mil exemplares, marca que o deixa fora da lista dos dez jornais mais vendidos no país.

Diante desse quadro, a pesquisadora conclui que a fórmula do jornalismo popular não consegue, sozinha, ganhar leitores. “Não basta abordar os temas do cotidiano das pessoas; é necessário também ter feeling para perceber que ‘cara’ a publicação deve apresentar a seu público e como sua identidade visual e textual pode se comunicar com ele.”

Dissertação: Aqui uma Super Notícia: os lugares do leitor em dois jornais populares
Autora: Flávia Silva Miranda
Defesa: 2 de junho, junto ao programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Fafich
Orientador: Paulo Bernanrdo Ferreira Vaz