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Nº 1774 - Ano 38
7.5.2012

Retrato da cena

Pesquisa sobre profissionais formados em Teatro na UFMG mostra realização, mas também aponta frustrações

Itamar Rigueira Jr.

Dos egressos da graduação em Teatro da UFMG que trabalham no campo das artes cênicas, 60% são atores e 30%, produtores; 40% lidam com ensino de teatro (formal ou não formal); seis em cada 10 vivem de cachês, e apenas 30% têm vínculo de emprego. Metade desses profissionais realizou plenamente os objetivos traçados ao longo do curso, mas os entrevistados, em geral, ainda se sentem desprestigiados socialmente como profissionais.

Esses são alguns dos números e conclusões que resultaram da análise da pesquisa Perfil de Atuação Profissional do Egresso do Curso de Graduação em Teatro, realizada a partir de 2009. Foram entrevistados 212 dos 226 alunos formados pelo curso entre 2002 e 2009, nas modalidades bacharelado e licenciatura.

O índice de satisfação com os resultados do curso é bastante alto entre os ex-alunos. Aos 50% dos entrevistados que se dizem plenamente satisfeitos, somam-se 46% que têm suas expectativas atendidas em parte. “Essa satisfação está relacionada ao aprimoramento técnico e teórico, à possibilidade de atuar em áreas que não o teatro (cinema, vídeo e performance) e de desempenhar diversas atividades em torno do palco”, explica a professora do curso Rita Gusmão, que coordenou a pesquisa ao lado da colega Mariana Lima Muniz.

A interpretação das respostas aponta alguns aspectos que precisam ser trabalhados. Os egressos se ressentem, por exemplo, de que sua formação não é contemplada pelos editais de concursos, como os de professores na área de artes para o ensino básico. Também sugerem maior ênfase do curso na questão da ética profissional. “São temas que merecem reflexão e posicionamento ainda mais forte por parte da Universidade”, comenta Mariana Muniz.

Correção de rota

A pesquisa procurou, basicamente, medir o impacto do curso sobre o mercado teatral e avaliar o nível de adequação de seu currículo às demandas de um cenário profissional em formação. “O trabalho se desenvolveu de forma que as hipóteses foram construídas ao longo do processo, marcado por perguntas abertas e entrevistas longas. Muitas vezes, voltamos aos entrevistados para aprofundar determinados aspectos”, conta Rita Gusmão.

Como a estrutura curricular da graduação em Teatro sofreu alterações em 2007, e, portanto, ainda não havia à época da pesquisa alunos formados pela nova grade, alguns problemas apontados pelos entrevistados já foram solucionados no currículo em vigor. “Nossos entrevistados falaram da necessidade de estágios práticos na formação de docentes e aprofundamento teórico, com maior produção escrita, no bacharelado. São aspectos já contemplados pelo novo currículo”, ressalta Mariana Muniz.

Mas as manifestações dos ex-alunos expõem um desafio que, segundo as professoras, ainda não está resolvido. Por sua própria natureza, o teatro é uma área de conhecimento transdisciplinar, que contempla grande variedade de possibilidades de formação complementar. Mas os alunos ainda ficam perdidos. “Ainda não se encontrou uma forma de apoiar os alunos na montagem de currículo próprio dentro de uma estrutura flexível como a proposta pela UFMG. Precisamos articular possibilidades de formação complementar para o Teatro em outras áreas, como já fazemos com a Faculdade de Letras”, afirma Mariana Muniz. “Será mais fácil realizar essa flexibilidade quando houver mais projetos de longo prazo envolvendo professores de áreas diferentes”, completa Rita Gusmão.

As organizadoras da pesquisa destacam ainda a constatação, a partir das respostas dos egressos, de que a passagem pelo curso de Teatro – conceito 5 do MEC – possibilitou o que elas chamam de “inserção criativa” dos profissionais no mercado. Eles se revelam capazes de argumentar com propriedade em favor de seus próprios projetos, o que é fundamental nesse campo. “Dominam não apenas os aspectos técnicos e teóricos, mas atuam em uma perspectiva política”, salienta Rita Gusmão.

Os resultados da pesquisa serão publicados integralmente no segundo semestre deste ano. Um resumo do levantamento deverá estar disponível em breve no site da Escola de Belas--Artes (www.eba.ufmg.br).