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Nº 1774 - Ano 38
7.5.2012

Muito além de tubos e estações

Critérios ambientais e socioeconômicos compõem índice criado para aferir qualidade do saneamento na RMBH

Cinthya Oliveira

Por mais bem dotada que seja, a infraestrutura de tratamento de água, lixo e esgoto não é medida suficiente para avaliar se determinada região ostenta condições satisfatórias de saneamento. Para além de redes e estações, é desejável que se incorpore a essa análise critérios como áreas verdes, espaços não ocupados, existência de corpos hídricos e vulnerabilidade a alagamentos e fatores socioeconômicos, como educação e renda.

Essa concepção, proposta pelo pesquisador Paulo Eduardo Alves Borges da Silva, foi condensada em um índice que afere a qualidade de saneamento na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) e está descrita na dissertação de mestrado defendida em março deste ano no Programa de Pós-graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais do IGC. Para o pesquisador, somente a observação de aspectos infraestruturais não é o bastante para se fazer uma análise mais aprofundada da qualidade do saneamento. “Não podemos tratar a questão por um viés único e marcadamente técnico. É preciso dar a devida atenção ao homem e ao meio ambiente”, defende Borges, que é consultor ambiental e professor do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG).

Paulo Borges construiu o Índice da Qualidade do Saneamento Ambiental, traduzido pela sigla IQSA, a partir de dados apurados nos mais de três mil setores censitários existentes na RMBH – unidades mínimas de análise sociodemográficas do IBGE definidas a partir de agrupamento contíguo de aproximadamente 300 domicílios. As informações concernentes às áreas verdes, espaços não habitados, corpos hídricos e áreas potencialmente alagáveis foram coletadas por meio de sensoriamento remoto e geoprocessamento. Já os dados sobre renda, escolaridade e acesso aos serviços de saneamento saíram do último censo do IBGE, divulgado em 2010. As informações foram tratadas de forma ponderada pelo número de domicílios, com a combinação das variáveis em uma análise estatística discriminante. Ao final do estudo, o índice criado categoriza cada setor censitário com um conceito – ruim, regular, médio, satisfatório e bom.

Resultados

A avaliação feita por Paulo Borges aponta que 37,48% dos setores censitários alcançaram o nível “satisfatório”, havendo uma distribuição por toda a extensão da Região Metropolitana, excetuando-se o extremo Norte, como Baldim e Jaboticatubas. No entanto, em torno de 27% das unidades da Região Metropolitana apresentam qualidade de saneamento ambiental considerada “regular” ou “ruim”, também distribuídas majoritariamente pelos municípios de Jaboticatubas e Baldim, além de Raposos. Apenas 2% obtiveram nota máxima, com destaque para municípios das porções Oeste e Sudoeste, como Esmeraldas, Florestal, Rio Manso, Brumadinho e Itaguara, onde a presença de áreas verdes contribuiu decisivamente para o resultado.

Alcançaram conceito “médio” 33,8% das unidades censitárias, com concentração mais representativa em Caeté e Matozinhos. Algumas porções ao norte da Região Metropolitana, como Confins e Lagoa Santa, apresentam setores que vão de “satisfatório” a “bom”, fato que, segundo Paulo Borges, pode ser explicado também pela concentração expressiva de áreas verdes, de casas de veraneio – indício de ocupação por famílias de renda elevada – e pela baixa susceptibilidade a alagamentos, já que ocupam terrenos de topografia regular.

O pesquisador adverte, no entanto, que os fatores renda e escolaridade não eximem determinada região de receber conceito “regular” ou “ruim”, pois, mesmo que possua boa infraestrutura de saneamento, pode estar sujeita a alagamentos ou apresentar baixos índices de espaços não ocupados e de áreas verdes. Exemplo disso são alguns bairros na Pampulha e áreas na região Centro-Sul de Belo Horizonte, que, apesar de habitadas por famílias de classe média, tiveram sua nota comprometida por estarem mais propensas a cheias e enchentes ou com reduzida vacância urbana, respectivamente.

Dissertação: Índice da Qualidade do Saneamento Ambiental aplicado na Região Metropolitana de Belo Horizonte
Autor: Paulo Eduardo Alves Borges da Silva
Orientador: Ricardo Alexandrino Garcia
Defesa: 29 de Março de 2012
Programa: Pós-graduação em Análise e Modelagem de Sistemas Ambientais do IGC