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Nº 1783 - Ano 38
9.7.2012

Alessandra Rodrigues (Química, 4°ano),
Arthur Moraes Faasen (Eletrônica, 3°ano),
Gabriel Gonçalves Santos (Análises Clínicas, 3°ano),
Keila Eduarda Martins de Vasconcelos (Análises Clínicas, 2°ano),
Láyza Silva Jardim (Análises Clínicas, 2°ano),
Luisa Guimarães Carlos Silva (Automação, 3°ano),
Luisa Vilaça Gomes da Silva (Análises Clínicas, 3°ano),
Rafaela Jéssica Calmon Chaves (Química, 4°ano),
Thaís ­Rodrigues de Oliveira (Química, 2°ano) e
Vinícius Leonardo de Oliveira (Eletrônica, 3°ano)

Mutirão Diamantina

Casa da Cidade mobiliza moradores a buscarem alternativas para a gestão autônoma dos espaços públicos

Ana Rita Araújo

Quando os visitantes partirem e os espaços ocupados por grupos de trabalho e apresentações culturais voltarem à rotina, Diamantina certamente será uma cidade diferente. Tudo por causa das sementes plantadas em debates e na troca de saberes durante a 44ª edição do Festival de Inverno da UFMG, que começa neste domingo, 15, e se encerra no dia 26.

As quitandeiras da Associação Mulheres Reais, por exemplo, terão experiência para realizar banquetes públicos, adquirida enquanto disseminavam segredos e sabores de receitas tradicionais da região. Já os moradores do bairro da Palha saberão que deles depende a ação para que o espaço público hoje desativado e sem função se transforme em quadra-praça multifuncional, ativa e preservada.

Experiências como essas fazem parte da programação do ambiente Casa da Cidade, coordenado pelos professores Roberto Andrés e Wellington Cançado, ambos da Escola de Arquitetura da UFMG. Nos últimos oito meses, em visitas a comunidades de Diamantina, eles colheram elementos a partir dos quais definiram os temas dos sete grupos de trabalho. “A intenção é pensar Diamantina e, ao mesmo tempo, abordar questões que também afligem outras cidades e ver como elas lidaram ou estão lidando com esses problemas”, conta Wellington Cançado.

Participação

Localizada em um dos bairros mais pobres da cidade, a quadra da Palha é um sonho adiado que ganhará impulso com o trabalho em mutirão a ser executado por associações de moradores e convidados como o coletivo de arquitetura Al Borde, sediado em Quito (Equador), responsável pela investigação de estratégias construtivas e arquitetônicas com o objetivo de aproveitar melhor recursos materiais e humanos. O mutirão conta, ainda, com a presença da arquiteta Helena Marchisotti, que trabalha com projetos de revitalização de espaços públicos. “A ideia não é resolver os problemas da cidade, mas proporcionar momentos de mobilização e criar condições e ferramentas para que as pessoas assumam a gestão desses espaços”, explica Cançado.

A participação popular é tema de outro grupo, o Mutirão Parque Urbano, que será realizado simultaneamente na quadra da Palha, com o intuito de envolver moradores, lideranças locais e poder público para discussão e elaboração de projeto e plano de gestão do parque. Participam o arquiteto Christiano Ottoni Carvalho e a Paisaje Transversal, plataforma transdisciplinar baseada em Madri (Espanha) que trabalha com novos modelos de gestão e intervenção urbanas, na perspectiva da participação cidadã.

No Casa-mutirão, a intenção é transformar um espaço doméstico, no bairro Rio Grande, em ponto de convergência de pessoas e ideias, ao articular relações de vizinhança e produzir conteúdos sobre a cidade em diversas mídias e formatos. Participam o arquiteto Alexandre Campos, a mestre em estudos políticos Fernanda Regaldo e a artista Graziela Kunsch.

As comunidades do Vau e Quartel do Indaiá vão sediar o Mutirão Saneamento Comunitário, que pretende mapear questões envolvendo saneamento e autoprodução do espaço nesses locais, a partir da noção de bacia hidrográfica. Outro objetivo é investigar possibilidades de coleta e tratamento primário de esgoto e a sua relação com os cursos d´água, além de realizar mutirão comunitário para construção de fossas sépticas experimentais de baixo custo nas duas comunidades. Participam do processo, como convidados, o turismólogo Luciano Amador Jr. e o grupo de pesquisa Morar de Outras Maneiras (MOM), da Escola de Arquitetura da UFMG.

Cidade como direito

O grupo de trabalho Escritório público de arquitetura discutirá o direito à cidade. Segundo o advogado popular Joviano Mayer, coordenador do Núcleo de Direito à Cidade do Programa Polos de Cidadania da UFMG, a proposta é estimular a intervenção coletiva em propostas habitacionais, equipamentos e projetos. “É preciso mudar a lógica de produção das cidades, hoje centrada em modelo de mobilidade poluente, individual e privado”, afirma Mayer, ao defender a mobilização da população e o envolvimento das forças sociais que atuam no cenário urbano, para “fortalecer a luta por uma cidade em que caibam todos e todas”. O grupo tem a presença do coletivo de arquitetura Usina Ctah, que trabalha junto aos movimentos sociais na construção de novas experiências territoriais.

Já crianças de oito a 13 anos participam do grupo que se propõe a “intervir e propor situações, jogos, ações construtivas e conceituais no espaço urbano” a partir do olhar infantil. A atividade tem participação do professor Adriano Mattos Corrêa, da Escola de Arquitetura da UFMG; do pequeno inventor de geradores de energia André de Oliveira Corrêa, de oito anos; e do artista plástico Marconi Marques.

Por fim, no domingo, 22 de julho, o coletivo Mulheres Reais e demais participantes do grupo de trabalho Banquete Público vão exibir o resultado de seis dias de intenso compartilhamento de receitas, modos de fazer, histórias, saberes e potencialidades da culinária local. “Vamos fazer da rua um lugar mais amigável e trazer a história da comida para o espaço público”, comenta Wellington Cançado. O processo é dirigido pela Associação Mulheres Reais, pelo arquiteto Breno Silva e pela consultora Patrícia Brito, do projeto Miguilim.

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