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Nº 1783 - Ano 38
9.7.2012

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No batuque do Naná

Percussionista pernambucano ministrará “workshop orgânico” em Diamantina

Natália Carvalho

Prestes a completar 68 anos, o recifense Juvenal de Holanda Vasconcelos, o Naná Vasconcelos, tem apenas uma vaga ideia de quando começou a dialogar com a música. Filho de violonista, começou a carreira aos 12 anos, tocando bongos e maracás na banda do pai. Mas aos nove já brincava com os sons que extraía daqueles objetos. “Nunca fiz nada a não ser isso, não conheço outro tipo de vida que não seja o guiado pela música”, conta o percussionista.

Eleito oito vezes o melhor percussionista do mundo pela revista norte-americana Down Beat e ganhador da edição 2011 do Prêmio Grammy, na categoria Álbum de Música Regional, com o CD Sinfonia e Batuque, Naná Vasconcelos é uma das atrações da 44ª edição do Festival de Inverno, onde fará show com o cantor e violoncelista Lui Coimbra e ministrará um workshop orgânico.

Além da influência africana, o percussionista também carrega relação íntima com a música mineira. Visita constante na casa dos Borges por volta dos anos 1960, o músico conheceu o Clube da Esquina antes mesmo de ganhar projeção, tendo gravado, em 1967, seu primeiro disco com Milton Nascimento. Com carreira consolidada no Brasil e no exterior, incluindo trabalhos ao lado de nomes como Jon Hassel, Egberto Gismonti, Evelyn Glennie e Jan Garbarek, e 23 discos na bagagem, Naná não para de fazer shows. Continua com intensa agenda de trabalho e se dedica ao projeto ABC Musical, iniciativa socioeducativa voltada para crianças e músicos. Ele trabalha também na gravação de seu próximo CD, que deve ser lançado ainda este ano.

Conhecer pelo corpo

O artista ministrará o único workshop do Festival.

Ele organiza os participantes em círculo e, posicionado ao centro, começa a passar seus conceitos de ritmo, tempo, respiração e as possibilidades sonoras que o corpo e suas funções propiciam. Naná pretende ensinar por meio de técnicas corporais, segundo ele, “fonte inesgotável de conhecimento”, abandonando os preceitos teóricos e partindo para a prática física. O percussionista afirma que muitas são as maneiras de se aprender música, e que a teoria tem inegável importância. No entanto, ele, que nunca pôs os pés em uma escola de música, acredita no poder de apreensão de conhecimento pelo corpo. “O corpo não esquece”, sentencia o artista.

Naná lembra que sua inspiração para montar a atividade surgiu de trabalho realizado na França com crianças que apresentavam dificuldades de coordenação motora. “O workshop tem a vocação de liberar sentimentos, expressões, movimentos e sons que a própria pessoa desconhecia em si mesma. Noto com frequência que os participantes saem leves e felizes dessa experiência orgânica”, conclui.

O multi-instrumentista, que comandou 500 batuqueiros no Carnaval de Recife, pretende revelar aspectos da cultura africana miscigenada no Brasil, que resulta em ritmos como o samba e o maracatu. Naná Vasconcelos acredita que a possibilidade de reafirmar e dar vazão aos sons da cultura africana que carecem de registro é um dos aspectos mais relevantes de sua participação no Festival. “O que se faz ali é um resgate verdadeiro das nossas raízes. Precisamos de movimentos como esse para não deixar que morram manifestações de nossa cultura que, por falta de registro, estão desaparecendo. Isso quase aconteceu com o Maracatu.”

O músico considera impossível dissociar as culturas mineira e africana e afirma que o ressurgimento dos tambores de Minas é a prova viva de que a África continua ocupando lugar de destaque no estado. “Somente somos capazes de absorver o que nossa história tem a nos dizer sobre o que um dia fomos e consequentemente sobre o que somos quando respeitamos nossas raízes e as misturas que compõem a música brasileira”, ensina Naná.

O workshop será ministrado na sexta-feira, dia 20 de julho, a partir das 14h, na Sociedade São Vicente de Paulo, em Diamantina.