Busca no site da UFMG

Nº 1802 - Ano 38
3.12.2012

Travessia do Atlântico

Centro de estudos criado na UFMG estimula cooperação científica com a África

Da redação

Lançado no dia 26 de novembro, o Centro de Estudos Africanos da UFMG abre caminho para o fortalecimento da cooperação acadêmica com instituições daquele continente, ao mesmo tempo em que inaugura uma série de iniciativas de internacionalização da Universidade. Nos próximos meses, serão lançados centros de natureza semelhante dedicados à Europa, América Latina, China e Índia.

De caráter transdisciplinar, o organismo será apoiado física e financeiramente pela administração central e funcionará como referência sobre estudos nas diversas áreas. “Os objetivos principais são incrementar a produção de conhecimento na UFMG sobre o continente, informar na África sobre o que se realiza aqui e estimular a cooperação”, explica o diretor de Relações Internacionais, professor Eduardo Vargas. O Centro é coordenado pelo professor Luiz Alberto de Oliveira Gonçalves, da Faculdade de Educação (FaE).

Em conferência sobre a internacionalização da economia brasileira na África durante o lançamento do Centro, o reitor Jorge Ferrão, da Universidade Lúrio (UniLúrio), de Moçambique, destacou que a nova entidade precisa se inserir no contexto da integração proposta, buscando referências bibliográficas e demais fontes de pesquisa produzidas no próprio continente. “O Centro não pode se tornar refém de bibliografias que venham do Norte”, salientou.

Ferrão enfatizou a diversidade africana e a necessidade de desprendimento de antigos estereótipos. “Muitas vezes, fala-se em ‘África’ como se fosse algo único, mas são 57 Estados com diferentes línguas, mercados e interesses econômicos”, ressaltou. “É preciso que se compreenda a dimensão do continente em uma perspectiva de mercado, de relações internacionais e de inovação científica e tecnológica”, acrescentou.

De acordo com o reitor da UniLúrio, o Egito é o país que mais forma doutores no mundo, uma exceção no cenário da África, atualmente responsável por apenas 0,2% da produção científica mundial. Para ele, a disparidade se relaciona à visão arraigada de que só tem valor a pesquisa feita nos países desenvolvidos. Por muito tempo, a África foi academicamente dependente do Hemisfério Norte, enviando muitos de seus principais pesquisadores para Europa e Estados Unidos – o próprio Ferrão sentiu necessidade de complementar seus estudos na França. “Só nos últimos tempos começamos a estabelecer parcerias com outros atores, sobretudo do Sul, como China, Brasil e Índia”, observou.

Internacionalização

Para o reitor Clélio Campolina, o novo cenário geopolítico tem levado a UFMG a expandir a internacionalização, com a proposta de estabelecer “parceria solidária”, de acordo com o que se conhece como “integração Sul-Sul”. Campolina ressaltou, ainda, que a presença de alunos na UFMG e as visitas de professores africanos são condição fundamental para a criação de laços que gerem futuros desdobramentos.

A programação de lançamento do Centro de Estudos Africanos incluiu exposições de projetos e pesquisas em curso na Universidade e que têm a África como tema. Também ocorreram palestras e encontros entre pesquisadores, como a discussão sobre o projeto de cooperação acadêmica desenvolvido desde 2006 entre a UFMG e a Universidade 11 de Novembro, de Angola, voltado para a formação na pós-graduação e a criação de linhas de pesquisa. A parceria foi possível devido à atuação de um ex-aluno angolano da UFMG que estudou na FaE e voltou para seu país, onde se tornaria pró-reitor de assuntos internacionais naquela universidade.

A proposta do projeto é estabelecer via de cooperação técnica de longo prazo, com a presença de alunos angolanos na UFMG e de professores da Instituição ministrando aulas na universidade africana. De acordo com o professor Luiz Alberto Gonçalves, da FaE, além de formar mestres e doutores, o intuito é criar núcleos de pesquisa que garantam a continuidade da iniciativa.

Também participante do evento, o professor Eduardo Luiz Gonçalves Rios Neto, da Faculdade de Ciências Econômicas (Face), discutiu, entre outros assuntos, a presença de alunos africanos no Programa de Pós-graduação em Demografia da Face. O primeiro deles, Manuel Costa Gaspar, ingressou no curso de mestrado em 1986, um ano após a criação do Programa. Atualmente, Gaspar ocupa cargo de direção do Instituto ­Nacional de Estatística de Moçambique.

“Uma das características dos estudantes africanos que se formam no Brasil é o alto índice de retorno a seus países de origem, o que nos coloca na vanguarda internacional”, salientou o professor, observando que nos centros acadêmicos americanos e europeus os alunos tendem a concluir os estudos e permanecer no lugar. Desde sua criação, o Programa de Pós-graduação em Demografia contabiliza 16 alunos africanos, 13 dos quais já estão formados. Esses estudantes vieram de Moçambique, Guiné-Bissau e Angola.

Pró-Angola

Já o professor Francisco Rubió, da Faculdade de Medicina, falou sobre as parcerias entre Brasil e Angola na área de saúde, com destaque para o projeto Pró-Angola, que estabelece iniciativas para estruturação do atendimento em saúde e formação de profissionais da área médica. Desenvolvido na UFMG desde 2006, o projeto realiza atividades como treinamentos de médicos e busca desenvolver novos modos de tratar doenças que atingem o país africano.