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Nº 1802 - Ano 38
3.12.2012

Saúde, vovó

Workshop sobre envelhecimento saudável reúne na próxima semana, no campus Pampulha, especialistas da UFMG e da Europa

Luana Macieira

O Brasil vive o que os estudiosos chamam de transição demográfica. Na década de 1940, o número de jovens era infinitamente superior ao de idosos, que correspondiam a apenas 4% da população. Hoje, 12% dos brasileiros têm mais de 60 anos e cerca de 2% dos idosos ultrapassaram a marca dos 80 anos, segundo o último Censo do IBGE relativo a 2011.

Segundo especialistas, a população idosa brasileira cresce em um dos ritmos mais velozes do mundo. Para discutir as implicações trazidas pela maturidade, a UFMG promove, entre os dias 12 e 14 de dezembro, o I Workshop sobre envelhecimento saudável. O evento vai reunir professores e especialistas que trabalham com os temas de geriatria, evolução demográfica e ciências biológicas, além de pesquisadores da Universidade de Bolonha, um dos polos mais avançados em estudos sobre o envelhecimento. Foi lá, inclusive, que nasceu o termo “envelhecimento saudável”, cunhado pelo pesquisador Cláudio Franceschi.

A expressão surgiu a partir do termo inflammaging, que faz referência aos processos inflamatórios que surgem no organismo com o envelhecimento. “À medida que envelhecemos, há um aumento de vários processos inflamatórios no corpo. Na Europa e nos países mais desenvolvidos, esse aumento de inflamações está relacionado às doenças degenerativas e cardiovasculares. Por isso, as primeiras pesquisas europeias traçaram as diferenças entre os idosos que tinham essas inflamações e os que não tinham. Estes últimos eram aqueles cujo envelhecimento podia ser classificado como saudável”, explica Ana Maria Caetano de Faria, professora e pesquisadora do Departamento de Bioquímica e Imunologia da UFMG, e uma das organizadoras do workshop.

As diferenças entre as rotinas do idoso europeu e do brasileiro também distinguem os critérios usados para classificar um idoso como saudável aqui e lá. “Para os europeus está muito claro o que é envelhecimento saudável. Eles têm critérios muito rígidos de classificação, a partir de protocolo que define os níveis de colesterol, doenças regenerativas ou inflamatórias que podem aparecer e como a saúde desse idoso deve ser”, afirma Ana Caetano Faria.

A pesquisadora explica que um dos objetivos do workshop é debater a definição de critérios aplicáveis à realidade brasileira: “Aqui temos o idoso urbano, por exemplo, que é totalmente diferente daquele que mora em uma área rural ou endêmica. Em locais com incidência de doenças como a esquistossomose, já temos alguns parâmetros que classificam um idoso como saudável: ele não pode ter doenças crônicas ou mentais e seus exames de fezes, por exemplo, precisam dar negativo. Agora falta criarmos esse critério para localidades com outros perfis”.

Remodelar para viver melhor

O sistema imunológico alcança sua maturidade quando a pessoa completa cinco anos de idade e, a partir daí, entra em processo de envelhecimento. O timo, glândula que produz linfócitos T, importantes para a defesa do corpo, diminui com o passar dos anos; na fase idosa, a produção de linfócitos T é reduzida drasticamente.

Segundo a pesquisadora Ana Caetano Faria, as pessoas que envelhecem de forma saudável são as que conseguem remodelar seu sistema imunológico. “Elas conseguem compensar os declínios, principalmente o de linfócitos T, produzidos pelo timo. Descobrir quem consegue fazer esse remodelamento imunológico é essencial para a criação de medidas governamentais que ajudem mais pessoas a envelhecerem com saúde”, afirma.

O envelhecimento populacional traz, ainda, diversos impactos sociais e econômicos que podem comprometer a qualidade dos serviços de saúde pública e previdência. “Se o idoso não é saudável, ele gera uma carga maior para o sistema de saúde. Quem se aposenta, mas continua trabalhando, ainda contribui para a economia do país”, destaca Ana Caetano Faria.

A UFMG e o idoso

O Hospital das Clínicas da UFMG é um dos pioneiros do estado no tratamento do envelhecimento nas áreas de pesquisa e extensão. Um dos destaques de sua atuação é o Programa de Atenção à Saúde do Idoso, que trabalha por meio de parcerias com as secretarias municipal e estadual e Ministério da Saúde.

O Instituto Jenny de Andrade Faria, sede do programa, conta com 27 consultórios, ginásio de reabilitação de fisioterapia e uma sala de reabilitação cognitiva. O Instituto atende cerca de 2.400 pessoas por mês que o procuram em busca de atendimento em diversas especialidades, como geriatria, clínica médica, otorrinolaringologia e oftalmologia, por exemplo. Seu coordenador, o professor Edgar Nunes de Moraes, será um dos palestrantes no Workshop, organizado pela UFMG em parceria com o Centro de Pesquisas Rene Rachou, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e a Universidade do Vale do Rio Doce (Univale).

O projeto de colaboração com a Universidade de Bolonha, intitulado Envelhecimento saudável em populações europeias e brasileiras, é coordenado pelos professores Ana Caetano Faria, Olindo Assis Martins Filho (Fiocruz) e Lúcia Alves Fraga (Univale).

Além do instituto, a Faculdade de Medicina mantém o programa de pós-graduação Saúde do Adulto, com linhas de pesquisas dedicadas aos idosos. Na Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional, também são ofertados o curso de especialização Fisioterapia em Geriatria e Gerontologia e o programa de extensão Maioridade.

A programação do I Workshop on Healthy Aging está disponível no site www.workshophealthyaging.com