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Nº 1802 - Ano 38
3.12.2012
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Itamar Rigueira Jr.
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Moda é muito mais do que se vê nas passarelas e vitrines, afirma a jornalista Iesa Rodrigues, que cobre o assunto desde quando, segundo ela, era difícil conseguir depoimentos coerentes dos estilistas. O comentário de Iesa vem a propósito do livro – que ela prefacia – Moda em diálogos: entrevistas com pensadores (editora Memória Visual), do professor Tarcisio D’Almeida, da Escola de Belas Artes da UFMG.
Produzida desde a segunda metade da década de 1990, a obra reúne sete entrevistas com pensadores de áreas diversas das humanidades. “Esse trabalho reflete uma inquietação minha, antiga, por entender esse universo para além da ideia de glamour, e dos conceitos e interpretações preconceituosos que sempre permearam as discussões sobre moda”, conta Tarcisio D’Almeida, responsável por quatro disciplinas do curso Design de Moda.
Os diálogos, todos realizados em São Paulo – onde o autor cobriu, como jornalista, desfiles e eventos acadêmicos –, aparecem transcritos na ordem em que aconteceram. Tarcisio conversou com o filósofo francês Gilles Lipovetsky, a historiadora norte-americana de moda Valerie Steele, os antropólogos Massimo Canevacci, italiano, e Ted Polhemus, anglo-americano, a socióloga norte-americana Diana Crane, o presidente da Federação Francesa da Costura, do Prêt-à-porter dos Costureiros e dos Criadores de Moda, Didier Grumbach, e o embaixador da marca de joias H. Stern, Christian Hallot.
“Acho que o resultado do trabalho é diferente na medida em que consegue uma miscigenação rica entre abordagens da história, filosofia, arte e estética, entre outras”, enfatiza Tarcisio D’Almeida. Ele destaca também a relação que oferece ao final do livro com mais de 100 obras e 40 autores, incluindo as “bíblias” Filosofia da moda, de Georg Simmel, Sistema da moda, de Roland Barthes, e O Império do efêmero, de Gilles Lipovetsky.
O professor das universidades de Grenoble e de Nova York é, por sinal, quem inaugura a série. Como escreve D’Almeida na introdução da entrevista, Lipovetsky não vê a moda e a modernidade como uma coisa única. “Ele opõe a frivolidade sistemática dos estudos de moda à cientificidade técnico-acadêmica.”
Dedicada à relação da moda com o erotismo, encarnada sobretudo no fetiche, Valerie Steele escreveu sobre o tema a partir de teorias de Freud e Foucault. Em duas conversas com o autor de Moda em diálogos, a curadora do Fashion Institute of Technology (da Universidade do Estado de Nova York), conhecida como a “dama da teoria da moda”, abordou, entre muitos aspectos, os cruzamentos entre corpo, roupas, acessórios e sonhos.
De Diana Crane, professora da francesa École des Hautes Études em Sciences Sociales, de Paris, e emérita da Universidade da Pensilvânia, Tarcisio D’Almeida extraiu uma atualização do pensamento sociológico vinculado à arte, à cultura e à moda. “Ela concilia análises da indústria têxtil, envolvendo técnicas e materiais, e da estética e da produção simbólica da moda”, ressalta o autor, que é graduado em Letras, fez o mestrado em jornalismo de moda e, sempre pela USP, concluiu doutorado no Departamento de Filosofia com projeto (o primeiro sobre o tema aprovado por lá) sobre Teoria, crítica & cultura da moda.
O advogado francês Didier Grumbach, que testemunhou o surgimento do prêt-à-porter, nos anos 1960, e passou a contar a história da moda, defende em seu depoimento a criatividade e, mesmo, a megalomania. “Para ele, a moda existe e se fortalece por meio do espírito megalomaníaco. E os verdadeiros artistas se revelam pela autonomia do processo criativo, e não por atender às exigências do mercado”, explica Tarcisio D’Almeida, que já planeja um volume reunindo conversas com os criadores de moda (estilistas, produtores, fotógrafos, diretores artísticos, maquiadores etc.).
Livro: Moda em diálogos – entrevistas com pensadores
De Tarcísio D’Almeida
Editora Memória Visual (Coleção Moda de Bolso)
140 páginas / R$ 30
(http://bit.ly/Uk6bIV ou http://bit.ly/T0fnGv)