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Nº 1812 - Ano 39
18.3.2013

Filosofando na praça

Projeto de extensão discute Conhecimento e arte
no Espaço TIM UFMG

Gabriella Praça

“A marca da filosofia é sua vulnerabilidade pública: ela é uma estrutura argumentativa que se oferece ao outro para ser refutada.” A declaração, feita pelo professor da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich) Marcelo Marques na primeira aula do curso Conhecimento e arte, revela o espírito que o motivou a propor o projeto de extensão Filosofia na Praça.

A forte chuva que caía sobre Belo Horizonte na primeira quarta-feira do mês de março não diminuiu a disposição dos alunos que lotaram a sala no segundo andar do Espaço TIM UFMG do Conhecimento, para aprender e discutir sobre “Mito, poesia e filosofia” – tema da aula inaugural. Na turma, estavam presentes estudantes e profissionais de distintas idades e campos do conhecimento, dispostos a se aprofundar na área para investir em uma carreira acadêmica, aperfeiçoar sua atuação no trabalho ou, simplesmente, ampliar seu repertório cultural.

Um deles, o administrador Paulo Lopes, 58 anos, cultiva há muito tempo o hobby de estudar filosofia, área pela qual se diz “apaixonado”. Graduado em Direito e em História, disciplina da qual é professor, Lopes pretende aplicar os conhecimentos adquiridos no curso tanto à frente da empresa que administra quanto em sala de aula, com seus próprios alunos. Para ele, “a filosofia cabe em qualquer aspecto da situação e da condição humanas.” Como seu local de trabalho se situa no bairro Lourdes, ele encerra a jornada às quartas-feiras e segue a pé para a Praça da Liberdade, que abriga o Espaço TIM UFMG do Conhecimento.

Assim como Lopes, o casal de médicos Maria Lúcia Julião de Oliveira, 66, e Welser Machado de Oliveira, 70, matriculados nos quatro módulos do curso, também quer utilizar o aprendizado filosófico em seu cotidiano profissional. “O convívio com nossos pacientes depende muito do conhecimento para entender o outro. Com isso, conseguimos ajudá-los”, ressaltou Welser.

Já os estudantes da Faculdade de Direito da UFMG Paula Costa e Thiago Diniz, ambos de 21 anos, decidiram fazer o curso para complementar sua formação universitária. Paula soube dos módulos ao receber e-mail de um professor sugerindo-os para quem tivesse interesse em estudar filosofia de forma menos dogmática do que o tratamento que a área recebe na graduação em Direito – e envolvendo outros aspectos, como a arte. Aluna do quarto período, ela tem procurado participar de distintas atividades acadêmicas, para conhecer outras possibilidades de carreira. Thiago Diniz, por sua vez, já está decidido a enveredar pela área de pesquisa em Filosofia do Direito e Teoria do Direito. “A investigação filosófica se encontra no fundamento de várias indagações em meu curso de graduação”, salientou. “O aprofundamento na área a partir de uma abordagem mais ampla é fundamental para a estruturação de qualquer teoria no campo jurídico.”

Arena pública

Para o diretor do Espaço TIM UFMG do Conhecimento, Bernardo Jefferson, o fato de a maior parte dos alunos já ter suas próprias trajetórias acadêmico-profissionais instiga a troca em sala de aula. “Não se trata de levar conhecimento a quem não tem, mas de articular o saber formal com as experiências individuais, estabelecendo o diálogo na praça”, avalia o professor, em alusão à Praça da Liberdade. Segundo ele, o Espaço deverá ser cada vez mais utilizado pela Universidade como um lugar de troca de conhecimentos, para sediar aulas abertas e outras atividades do gênero.

A proposta de democratização do acesso à filosofia é inspirada no trabalho dos professores do Departamento de Filosofia da UFMG Sônia Viegas e Moacyr Laterza, ambos falecidos. De acordo com Marcelo Marques, que foi orientado por Sônia Viegas em pesquisa de mestrado, os dois valorizavam a dimensão de extensão da universidade, ou seja, abriam à comunidade externa o acesso às pesquisas e discussões desenvolvidas nos anos 1970 e 80. “Antes de a pós-graduação se consolidar e adquirir caráter tão estritamente técnico e acadêmico, o Departamento recebia, por exemplo, muitos artistas plásticos para dialogarem com os pesquisadores”, relembra.

O tema do primeiro curso é Conhecimento e arte. As aulas acontecem às quartas-feiras à noite e se dividem em quatro módulos: A tekhnologia de Platão, Estéticas modernas X desestéticas, Arte e pós-história e Barroco e neobarroco. Cada módulo terá duração de um mês e será ministrado por um professor diferente. As inscrições devem ser feitas no posto da Fundep localizado na Praça de Serviços ou pelo site www.fundep.ufmg.br/cursos. Outras informações pelo telefone (31) 3409-4220.