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Nº 1816 - Ano 39
15.4.2013

Medeia à mineira

Grupo recorre a método colaborativo para traduzir e montar uma das mais populares tragédias gregas

Melissa Oliveira

Andréia Garavello interpreta Medeia: elenco envolvido na criação cênica

Luana Moreira

Em julho, a Acrópole de Atenas, colina rochosa de topo plano onde ficam construções históricas como o Partenon e o Erecteion, será o palco da consagração do grupo Trupesa – UFMG, formado na Faculdade de Letras (Fale). A trupe levará à Grécia uma versão brasileira de Medeia, tragédia grega criada e encenada em 431 A.C. por Eurípides.

Coordenado pela professora da Fale Tereza Virginia Barbosa, também responsável pela direção de tradução, o grupo Trupersa– UFMG reúne atores, músicos, dançarinos e estudantes de língua e literatura grega que se propuseram a realizar nova tradução do clássico, levando em consideração o contexto atual da língua portuguesa. 

O método adotado pelo grupo baseia-se no processo colaborativo de criação, utilizado pelos atores do Théâtre du Soleil, sob a direção da francesa Ariane Mnouchkine, e nas teorias mais recentes de tradução desenvolvidas por Susan Bassnett, José Lambert e Itamar Even-Zohar. Essas abordagens partem do princípio de que a tradução exige observação e reconfiguração de funções de múltiplos e interativos sistemas. Além disso, todas as pessoas envolvidas na montagem devem contribuir não só para a criação cênica, mas, sobretudo, para a tradução.

“Trata-se de técnica inovadora no país e que quebra o mito da inacessibilidade dos estudos clássicos”, afirma Tereza Virginia Barbosa. “A montagem foi proposta com o intuito de popularizar o teatro grego clássico e ensinar filosofia e literatura por meio dessa arte”, argumenta a professora, que planeja levar o espetáculo para os aglomerados de Belo Horizonte.

Artista visitante

A empreitada, que começou há três anos, é apoiada pelo Programa Artista Visitante, da Pró-reitoria de Pesquisa, que viabilizou a entrada no projeto da atriz e diretora Andréia Garavello, que interpreta Medeia. A tradução foi realizada em parceria com os atores de modo que o texto grego pudesse ser encenado na íntegra, sem adaptação. A estreia ocorreu durante o I Congresso brasileiro de retórica, realizado em setembro de 2012, em Ouro Preto. A montagem também integrou a programação da 39ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança de Minas Gerais, realizada este ano, e foi apresentada sete vezes no Parque Mangabeiras.

O elenco de Medeia participou, ainda, do 1º Congresso luso-brasileiro traduzir e publicar os clássicos, em Coimbra, Portugal, no ano passado, coordenando mesa de debate sobre tradução, ao lado de pesquisadores de Europa e Brasil. A apresentação na Grécia ocorrerá durante festival estudantil da Universidade Museu, em Atenas, de 1 a 10 de julho. Antes, em maio, haverá apresentação para a comunidade da UFMG.

Além de Andréia Garavello, a peça conta com outros três atores – Guilherme Colina (Jasão), Gaia Bouchardet (Ama) e Geraldo Araújo (Pedagogo, Creonte e Egeu) – e com coro de quatro vozes. Figurino e cenário são baseados em materiais recicláveis, como barracas de acampamento, sacos de correio chinês, tambores e pequenas armações metálicas.

O mito

Jasão era rei de Iolco, mas perde o trono para seu tio. Para recuperar o poder, parte em busca de uma pele de carneiro de ouro (tosão ou velocino de ouro), roubada de sua família pelos bárbaros. Jasão organiza a expedição Argonáutica, que o leva à região da Cólquida, onde conhece a princesa Medeia que o ajuda a enganar o pai e a retomar o velocino de ouro. O casal foge para Corinto deixando atrocidades em seu caminho. Lá, Jasão, depois de gerar filhos na princesa, abandona-a e se casa com a filha do rei de Corinto.

Ultrajada, Medeia planeja secretamente uma vingança. O rei de Corinto, temendo a fama cruel da estrangeira da Cólquida, a expulsa da cidade, mas Medeia pede um tempo para se organizar. Ela pede perdão a Jasão e encaminha presentes para a família real por meio de seus filhos. Os presentes estão envenenados e acabam matando a princesa e o rei. Jasão teme pela vida dos filhos e vai até a casa de Medeia. Tarde demais: eles já estavam mortos.