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Nº 1823 - Ano 39
3.6.2013

opiniao

A internacionalização da UFMG: o equilíbrio em intercâmbio de estudantes

Eduardo Vargas* e Nilo Nascimento**

Os esforços de internacionalização da UFMG têm se mostrado muito produtivos ao longo do tempo. Políticas e ações coordenadas em várias frentes têm gerado resultados positivos, que se materializam por meio de indicadores de desempenho. Nos últimos anos, em particular, uma significativa ampliação das modalidades e programas e a dotação de meios financeiros e administrativos para implantar uma política de internacionalização caracterizam esses esforços e correlacionam-se às realizações.

Um dos exemplos mais significativos da política de longo prazo de internacionalização da UFMG é o programa Minas Mundi, que promove a participação de alunos de graduação em iniciativas de mobilidade, ao mesmo tempo em que busca criar oportunidades para a participação de alunos de universidades estrangeiras parceiras em atividades na UFMG.

O Minas Mundi possui conceitos inovadores, entre os quais se destacam: (i) a procura por acompanhamento próximo e personalizado dos alunos participantes; (ii) o esforço para assegurar a avaliação conjunta com as universidades parceiras de conteúdos, métodos e programas de ensino; (iii) o apoio financeiro a estudantes carentes da UFMG que, de outra forma, não poderiam participar de intercâmbio internacional; (iv) a permanente busca do equilíbrio entre a mobilidades out (alunos da UFMG em universidades estrangeiras) e in (alunos de universidades estrangeiras na UFMG); (v) a inclusão de todas as áreas de conhecimento nas modalidades de intercâmbio; (vi) a busca por ampliar com as universidades parceiras as modalidades de cooperação, incluindo a mobilidade docente, o intercâmbio de alunos de pós-graduação e a cooperação em atividades de pesquisa.

No esforço de internacionalização, a mobilidade in, particularmente em nível de graduação, é ainda um desafio. O número de alunos estrangeiros em intercâmbio de graduação na UFMG tem girado, nos últimos anos, em torno de 200 estudantes de intercâmbio frente as 600 vagas ofertadas pela UFMG no quadro do Minas Mundi. Há questões importantes por trás dessa diferença. Uma delas é o fato de que os números da mobilidade in têm se mantido estacionários nos últimos tempos. Por outro lado, o Ciência sem Fronteiras (CsF) naturalmente impactou muito - e positivamente - os números da mobilidade out. A UFMG é a segunda universidade do país a enviar estudantes para o exterior pelo programa.

O Ciências sem Fronteiras, em razão de suas significativas metas de mobilidade, tornou mais claro o desafio que representa a proficiência em línguas estrangeiras nas universidades brasileiras. A UFMG adiantou-se às iniciativas do CsF, criando o Inglês para Fins Acadêmicos, programa de ensino presencial aberto a estudantes da UFMG, de todas as áreas de conhecimento, com nível intermediário de conhecimento da língua. Posteriormente, o programa Inglês sem Fronteiras, associado ao CsF, passou a ofertar um programa de formação a distância. Mas esses esforços são ainda insuficientes quando se consideram o contingente de alunos a ser capacitado, o nível de domínio da língua requerido e o fato de que outros idiomas, além do Inglês, devem ser contemplados.

A promoção de mobilidade in depende de inúmeros fatores, entre eles a difusão das oportunidades oferecidas pela UFMG como instituição de excelência em ensino e pesquisa, a própria imagem do Brasil no exterior e, naturalmente, a questão da língua. Os dois primeiros fatores mencionados vêm registrando significativa melhora. No que concerne à UFMG, a presença de seus professores e estudantes em atividades na comunidade acadêmica internacional, em todas as áreas de conhecimento, e a ativa participação da instituição em fóruns voltados para o intercâmbio e a cooperação acadêmica internacionais têm contribuído de forma significativa para esse quadro. São indicadores disso o número crescente de acordos e convênios firmados com universidades estrangeiras e as frequentes visitas de delegações de instituições estrangeiras para negociar diferentes modelos de cooperação.

Modalidades de intercâmbio e colaboração em pesquisa, como os doutorados em cotutela e os estágios de iniciação científica, têm sido muitas vezes privilegiadas por estudantes estrangeiros, uma vez que, para essas atividades, o conhecimento da língua portuguesa, antes do início do intercâmbio, não é requisito.

A UFMG ampliou, igualmente, em grande medida a oferta de cursos de Português como língua suplementar para alunos, pesquisadores e professores estrangeiros, contemplando do nível básico à proficiência. A oferta de disciplinas em língua estrangeira impõe um desafio maior e possivelmente uma questão para amplo debate com a comunidade acadêmica. Há alternativas de maior potencial a implementar, quando cursos são oferecidos cooperativamente com a participação de professores visitantes ou aqueles já concebidos para uma oferta conjunta, em que alunos e professores de universidades estrangeiras participam de atividades de ensino na UFMG junto com nossos professores e alunos. Essas iniciativas existem na universidade, porém requerem possivelmente um esforço adicional para se tornarem mais regulares. O estímulo à demanda pode ser também uma estratégia para aumentar a oferta dessa iniciativa, o que efetivamente exige trabalho de difusão continuada de possibilidades junto aos parceiros estrangeiros coordenado com os colegiados de curso e a comunidade acadêmica da UFMG.

Iniciativas importantes, como a recente criação dos Centros Estudos Especiais da UFMG sobre África, América Latina, Europa, Índia e China abrem possibilidades para que se ampliem e se intensifiquem as ações de internacionalização da UFMG, incluindo o trato com as questões linguísticas.

A questão da formação linguística desafia não só a UFMG, mas outras universidades brasileiras e, certamente, as instituições dos demais países de língua portuguesa. Em um mundo em que o predomínio da língua inglesa é uma evidência, está claro também que a questão também afeta países em que o inglês não é a língua oficial ou não figure entre os idiomas oficiais.

O Encontro da AULP e o Fórum Brafitec, eventos organizados este mês na UFMG, são ocasiões importantes para tratar dessas questões.

*Diretor de Relações Internacionais da UFMG

**Diretor adjunto de Relações Internacionais da UFMG