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Nº 1829 - Ano 39
15.07.2013

Morada da criação

Durante dez dias, Tiradentes reunirá artistas sul-americanos em programa de residência

Matheus Espíndola

Como a disposição de espelhos rotatórios em diferentes pontos da cidade pode gerar uma reflexão sobre a relação espaço-tempo? É o que a artista paulista Karina Montenegro tenta transmitir com sua escultura, Relógio, que será montada no Programa de Residência Artística Internacional, que ocorrerá em Tiradentes, de 19 a 28 de julho. “O reflexo é uma imagem do tempo real em forma de luz. O espelho é uma mídia secundária e reflete recortes da paisagem de Tiradentes: tanto históricos quanto de situações atuais”, resume ela. Com seu relógio, que materializa reflexão sobre Tempo e paisagem, tema da residência, a escultora paulista se juntará a criadores brasileiros e de países vizinhos durante estada de 10 dias nesse município histórico.

O artista Cristiano Rosa trabalha com o que chama de “efeito miniatura”, ao buscar detalhes na paisagem por meio de vídeos de longa duração, valendo-se de velocidades alteradas ou estáticas e sons normalmente inaudíveis, subaquáticos e de sismos, além de materiais como folhas, terra, pedras ou plástico em movimento.

Já o argentino Abel Monasterolo desenvolverá intervenções a partir de superfícies transparentes pintadas e instalações luminosas e projetadas, enquanto o compatriota Jorge Castro realizará vídeo com imagens das paisagens no entorno de Tiradentes, mesclando técnicas analógicas e digitais.

“Tiradentes será para eles uma grande casa de criação artística”, afirma o professor da Escola de Belas-Artes Fabrício Fernandino, coordenador-geral da Residência. Membro do conselho curador do evento, o professor Rodrigo Minelli explica que o conceito de residência é bastante usado no meio artístico. “A ideia é juntar artistas de diferentes localidades em determinada cidade, onde possam passar algum período promovendo espetáculos e outras atividades.”

A própria Bienal Universitária de Arte da UFMG, realizada no ano passado em Belo Horizonte, já havia abrigado uma residência artística. “Os resultados foram tão ricos que achamos importante realizar algo do gênero em Tiradentes”, comenta Fabrício Fernandino, lembrando que a iniciativa integra conjunto de ações que visa consolidar o campus cultural estruturado pela UFMG na cidade.

Sob a gestão da Fundação Rodrigo Mello Franco de Andrade, o campus é formado por espaços como o Museu Casa Padre Toledo, restaurado no final do ano passado; o Centro de Estudos, Galeria e Biblioteca Miguel Lins, que abriga o acervo do jurista e ex-ministro do STF e onde são ministrados cursos e seminários; e o Sobrado dos Quatro Cantos, prédio do século 18 que está sendo remodelado para abrigar o Centro de Estudos e Biblioteca sobre o Século XVIII Mineiro. 

Na visão de Rodrigo Minelli, Tiradentes é ambiente propício para que a criação artística dialogue com o espaço urbano e histórico. “É uma cidade extremamente inspiradora por conta de toda sua riqueza artística e arquitetônica. As ruas, casarões e igrejas erguidas há séculos transmitem a aura do passado e fazem emanar a ideia de tempo”, comenta.

Arquivo pessoal
Cristiano Rosa faz demonstração com equipamentos que produzem o que chama de “efeito miniatura”
Cristiano Rosa faz demonstração com equipamentos que produzem o que chama de “efeito miniatura”

Disciplina sem disciplina

Outra frente da Residência serão as chamadas “aulas abertas”, que permitirão a interação de artistas, comunidade local e turistas por meio de intervenções nas áreas de culinária, dança, teatro, fotografia, jogos e paisagens sonoras.

Essas dinâmicas serão realizadas diariamente em praça pública. “Elas dispensam matrícula. Participa quem estiver transitando no local naquele momento. É uma ‘disciplina ministrada sem disciplina’”, afirma Fernandino.

Foram convidados para as aulas abertas o artista Adilson Siqueira, o diretor e professor de teatro Fernando Limoeiro, o fotógrafo Luiz Felipe Cabral, além de Damian Kees, artista argentino que trabalha com recriações e intervenções na paisagem sonora de espaços urbanos.

As aulas abertas acontecerão de 21 a 28 de julho, das 9h às 18h, em locais a serem definidos pelos próprios artistas.