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Nº 1869 - Ano 40
28.07.2014
Encarte
Itamar Rigueira Jr.
A versão para coro da ópera Lamento d’Arianna, de Claudio Monteverdi (1567-1643), reproduz a intensa dramaticidade da versão original, para o palco, e oferece aos cantores, em virtude da grande oscilação de emoções, rara possibilidade de expressão. Os quatro madrigais que compõem a peça estão entre os pontos altos das apresentações do Ars Nova – Coral da UFMG e do repertório desenvolvido a partir de abril de 2013, quando o grupo, com 55 anos de história, retomou suas atividades.
Esse material foi gravado nos últimos dias de julho, no auditório da Escola de Música da Universidade e na Igreja de São José, no Centro de Belo Horizonte, e será reunido em CD. O objetivo é registrar e divulgar o trabalho feito nessa primeira etapa, e o CD, que será distribuído entre universidades e outras instituições, também poderá ser vendido nos concertos do Ars Nova. O álbum deverá ser lançado até o fim do ano. Serão também produzidos vídeos para divulgação em plataformas como o Youtube.
O repertório atual do coro inclui peças renascentistas, barrocas, contemporâneas e brasileiras. A professora Iara Fricke Matte, diretora e regente do Ars Nova, destaca que o grupo tem buscado estética vocal baseada em sonoridade mais clara, sem ênfase no vibrato (oscilação de altura das notas). “No romantismo, o vibrato passa a ser fundamental para projeção da voz sobre grandes orquestras, mas as músicas antiga e contemporânea são marcadas por outra maneira de encarar o vibrato. É um meio expressivo, uma forma de modular a voz”, explica Iara.
Além do Lamento d’Arianna, Monteverdi estará presente no CD com o madrigal Quel augellin che canta. De acordo com a regente, o compositor italiano deu à música e à palavra o mesmo peso em suas obras. O novo CD do Ars Nova terá também um representante do início da Renascença, Orlando Gibbons, que punha a construção musical em primeiro plano, ao buscar uma perfeição quase matemática.
A gravação do CD vai incluir também as dissonâncias de Henry Purcell, do Barroco tardio, os silêncios do estoniano Arvo Pärt, a Ave Maria do mineiro Nelson Salomé e a Alleluia de Randall Thompson, entre outras. Um moteto de J.S. Bach – Singet dem Herrn ein neues Lied – foi adicionado mais recentemente ao repertório do coro porque explora a virtuosidade dos cantores e pede o acompanhamento do órgão positivo recém-adquirido pelo grupo.
O lançamento do CD vai coroar uma etapa que merece balanço extremamente positivo, segundo Iara Fricke Matte. Em pouco mais de um ano foram realizados cerca de 20 concertos gratuitos, que, em sua percepção, foram muito bem recebidos pelo público. “Difundimos a arte coral e levamos o nome da UFMG a várias comunidades”, destaca a maestrina. Ela anuncia que o Ars Nova já pode captar recursos via Lei Rouanet para projetos como o de circulação nacional e internacional, com apresentações em universidades, teatros e igrejas de quatro países europeus.
Iara destaca também o desenvolvimento técnico do grupo, que tem 22 integrantes, entre os quais oito alunos da UFMG. “Além de excelentes vozes, eles têm curiosidade sobre questões interpretativas, o que ajuda na compreensão e na construção do repertório. É um privilégio contar com cantores comprometidos e dispostos a se aproximar das obras para encontrar a melhor forma de interpretá-las”, elogia a diretora do Ars Nova.
O Ars Nova – Coral da UFMG recebeu no fim de maio um órgão positivo (transportável) produzido pelo luthier Henk Klop, na pequena cidade holandesa de Garderen. Com pequenos tubos de madeira, o instrumento ajuda o coral a trabalhar a sonoridade de acordo com a estética do repertório. Como são distribuídos em oitavas e quintas, os registros do órgão auxiliam o trabalho de afinação de intervalos justos ou puros.
“Os intervalos coincidem com a série harmônica, e os acordes ressoam mais ‘redondos’ para os nossos ouvidos. As notas combinam mais facilmente entre si”, diz Iara Fricke Matte. “Além disso, diferentemente do que acontece com o piano (cordas percutidas) e com o cravo (cordas pinçadas), o órgão se aproxima da produção vocal, uma vez que também tem sons produzidos pela passagem do ar”, completa a maestrina.