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Nº 1870 - Ano 40
04.08.2014

Luzes sobre um gênio esquecido

UFMG cria circuito cultural para dar visibilidade à obra de Vieira Servas, escultor português do período barroco

William Campos Viegas*

Ao circular por municípios do Médio Rio Piracicaba, é possível visitar fazendas em estilo barroco. Em Catas Altas do Mato Dentro, a decoração da Matriz de Nossa Senhora da Conceição impressiona os visitantes. E, em São Gonçalo do Rio Abaixo, o recém-descoberto altar-mor da Igreja de São Gonçalo do Amarante, com seus sacrários e arbaletas entalhados em madeira, atrai olhares de admiração. Trata-se de exemplares da arte barroca mineira que levam a marca do escultor e entalhador português Francisco Vieira Servas, cuja obra ainda é desconhecida.

Parte desse patrimônio, datado das décadas de 50 e 60 do século 18, ainda é um enigma para muitos brasileiros. A implantação do Circuito Cultural Vieira Servas, programa de extensão da UFMG, pretende dar-lhe visibilidade, por meio de discussões como as que serão realizadas nesta sexta-feira, dia 8 de agosto, no II Seminário do Circuito Cultural Vieira Servas, em São Gonçalo do Rio Abaixo.

“A intenção é manter um fórum de discussão que permita renovar o debate sobre o patrimônio histórico-cultural da região e avaliar as atividades do programa”, explica Edite Cunha, coordenadora do Circuito.

O Médio Rio Piracicaba, região de Minas Gerais que reúne um complexo de obras do segundo período do barroco mineiro, é foco do programa Circuito Cultural Vieira Servas. Além de resgatar a obra de Servas para gestores, educadores, representantes de associações, artistas, artesãos e moradores dos 17 municípios que integram o circuito, são trabalhados aspectos de educação patrimonial, formulação de políticas públicas de cultura, mapeamento dos bens patrimoniais e preservação da identidade histórica e cultural da região.

A iniciativa conta com ações permanentes de mobilização e capacitação. “Há alguns anos, temos investido na valorização da cultura da cidade. Em fevereiro, sediamos a primeira reunião itinerante de trabalho do colegiado gestor do programa que envolve representantes de todos os municípios. Isso despertou o interesse da população”, comemora João Victor Dias, assessor de patrimônio cultural da Prefeitura de São Gonçalo do Rio Abaixo.

Para Edite Cunha, o programa inova ao estabelecer uma coordenação colegiada formada por representantes dos municípios, de diversos departamentos da UFMG, de instituições de gestão cultural nos âmbitos federal e estadual e de outros parceiros que se reúnem mensalmente para compartilhar ideias e proposições para a estruturação do Circuito.

O grupo envolvido no projeto também mapeou o patrimônio cultural dos municípios, o que servirá de base para futuras pesquisas. “Entre outras ações, estamos levantando obras de Servas em cidades que desconheciam esse patrimônio, como São Gonçalo do Rio Abaixo. Em Rio Doce, há pouco mais de um mês, foi descoberta uma imagem do artista em uma capela numa comunidade rural”, afirma João Victor Dias.

Esse trabalho deu origem ao livro As Geraes de Servas: Circuito Cultural Vieira Servas, que reúne reflexões de 13 autores e será lançado durante o Seminário.

Na UFMG, o programa reúne pesquisadores das escolas de ­Arquitetura e de Belas-Artes e faculdades de Educação e de Filosofia e Ciências Humanas.

Janela de projeção

Em 18 de novembro, comemora-se o Dia do Barroco Mineiro. A data foi instituída pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais, para preservar, valorizar e divulgar o patrimônio histórico, artístico e cultural vinculado à obra de Aleijadinho e aos demais expoentes desse estilo. Em 2014, também é celebrado o bicentenário de morte do mestre do barroco, contemporâneo de Servas. “Aleijadinho é uma mola propulsora para divulgar todos os artistas do período. Vejo esses 200 anos como uma janela para projetar e conhecer o talento de Servas”, observa João Victor Dias.

* Bolsista da Assessoria de Comunicação da Pró-reitoria de Extensão da UFMG