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Nº 1871 - Ano 40
11.08.2014
Itamar Rigueira Jr.
A educação a distância (EaD), na medida de seus limites, é alternativa efetiva de formação superior em um país com tantas diferenças regionais, e é particularmente válida a política nacional que visa, por meio dessa modalidade, melhorar a capacitação de professores no Brasil. Essa é uma das conclusões centrais de tese defendida recentemente por Juliana Soares Branco na Faculdade de Educação (FaE). Ela concentrou sua pesquisa nos cursos desenvolvidos pela UFMG e pela Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), envolvendo os polos de apoio presencial de Conceição do Mato Dentro, Conselheiro Lafayete e Governador Valadares.
Estimulada pelo contato com a EaD desde os tempos da graduação em Pedagogia – quando percebeu quanto os professores valorizavam essa formação – e pela carência de pesquisas sobre o tema, Juliana Branco se aprofundou no assunto já no mestrado e resolveu discutir, nos estudos de doutorado, limites e possibilidades da Universidade Aberta do Brasil (UAB), considerando as formas de organização dos polos de apoio presencial nos municípios e das universidades na promoção dos cursos.
“Penso que consegui demonstrar, por meio de pesquisa bibliográfica, documental e empírica, como cursos e polos se organizam e a importância da EaD como oportunidade de formação e melhoria da prática para pessoas que vivem longe de cursos presenciais de graduação, e muitas vezes ainda trabalham e cuidam de suas famílias, o que impossibilita a mudança de domicílio para estudar”, conta Juliana.
De acordo com a pesquisadora, as universidades têm a maior fatia da responsabilidade pelo desenvolvimento do trabalho, uma vez que elaboram e oferecem os cursos, além de acompanhar o desenrolar das atividades e o desempenho dos alunos. É também atribuição das instituições capacitar os tutores. Outro fator fundamental, acrescenta Juliana Branco, é a importância que a gestão municipal confere à política de formação via UAB. “Durante as visitas aos polos e as entrevistas com coordenadores e tutores, ficou claro que o polo possui melhor estrutura quando conta com a preocupação e o envolvimento da prefeitura.”
Juliana salienta também que uma política nacional na área da educação a distância não pode ser rígida. “Cada localidade tem características próprias, que os formuladores não podem prever. Portanto, para que a política se materialize, deve ser possível a adaptação às diversidades durante o processo de implementação”, afirma.
Parte relevante das conclusões da tese de Juliana Branco diz respeito ao papel dos tutores, que são capacitados pelas universidades e mantêm contato direto com os alunos. A pesquisadora revela que eles se mostram muito comprometidos com o trabalho e acreditam que aquela formação faz grande diferença em sua vida pessoal e profissional e na vida dos alunos. “Contudo, se, por um lado, os tutores se sentem valorizados pelo feedback por parte dos alunos e das universidades e polos, por outro, reclamam por melhor remuneração e direitos trabalhistas”, revela Juliana.
As entrevistas da pesquisadora com os envolvidos mostram que a entrada da UAB e das universidades públicas nos municípios traz contribuição social no âmbito local – nas cidades-polos e no entorno delas. Do ponto de vista dos alunos, os cursos geram aumento de autoestima. “Eles se sentem parte de uma universidade federal e capazes de atuar com segurança no mercado de trabalho. A mudança de postura é perceptível, segundo a maioria dos entrevistados”, diz Juliana.
O trabalho de Juliana Branco permitiu concluir também que os cursos a distância contribuem para a prática profissional, visto que favorecem a compreensão do funcionamento das instituições escolares e a difusão de novos materiais e atividades didáticas – como jogos de matemática e oficinas de leitura. “Meus entrevistados destacaram também a questão do letramento digital, já que muitos alunos têm nesses cursos o primeiro contato com equipamentos computacionais e ambientes virtuais. E esse contato abre um leque de oportunidades, pois na web é possível encontrar ferramentas que auxiliam o trabalho docente”, enumera.
De acordo com a orientadora da pesquisa, professora Maria do Carmo de Lacerda Peixoto, Juliana Branco mostra que, “da mesma forma como ocorre com o ensino presencial, estão sendo conduzidos cursos bastante distintos, seja no que diz respeito à estrutura local de oferta, seja no que se refere à condução dos projetos curriculares. Isso evidencia a riqueza do tema e a complexidade da avaliação do ensino superior a distância”.