Busca no site da UFMG

Nº 1871 - Ano 40
11.08.2014

Adorno para o século 21

Professor da UFMG lança coletânea de ensaios sobre arte e sociedade em que revisita papel da indústria cultural na manutenção do capitalismo

Ewerton Martins Ribeiro

Desde que Adorno e Horkheimer publicaram a sua Dialética do esclarecimento, no final dos anos 1940, o mundo mudou muito. Por um lado, houve extraordinária evolução tecnológica dos meios de produção e difusão audiovisual. Por outro, o mundo se reconfigurou geopoliticamente reiteradas vezes com o fim da Segunda Guerra, com o início da Guerra Fria e seu término, com a queda do Muro de Berlim e com o advento da globalização. Um cenário que estimula a pergunta: é possível aproveitar algo desse modelo crítico para se refletir sobre a atuação da indústria cultural na contemporaneidade?

Para Rodrigo Duarte, professor do Departamento de Filosofia da Fafich, muitas reflexões dos expoentes da chamada Escola de Frankfurt ainda fazem sentido. “O que a indústria cultural tem de essencial é uma apropriação de meios tecnológicos com vistas a garantir um tipo específico de dominação política e econômica, que coexista com democracias liberais. Isso, a despeito das incríveis mudanças tecnológicas e geopolíticas que aconteceram, não mudou de lá para cá”, sustenta o pensador.

A indústria cultural, contraposta às idiossincrasias do contemporâneo, baliza parte das reflexões feitas pelo filósofo e atual pró-reitor de Pós-graduação da UFMG nos textos reunidos em Varia aesthetica: ensaios sobre arte & sociedade, livro que será lançado na manhã do próximo sábado, dia 16, em Belo Horizonte. Os artigos são representativos da trajetória de pesquisa do professor nos últimos dez anos, e focalizam questões teóricas do domínio da estética referentes ao período que vai de 2000 aos dias de hoje. “São reflexões que visam colaborar para uma compreensão crítica de fenômenos muito complexos e tendencialmente preponderantes das manifestações culturais­­­ hodiernas”, explica.

Terceira coletânea de ensaios publicada por Rodrigo Duarte, Varia aesthetica está estruturada em ordem quase que estritamente cronológica. Dessa forma, o leitor que atravessar as quase 400 páginas do livro acompanhará, ao mesmo tempo, a produção do autor ao longo dos últimos anos e a reflexão sobre temas que de alguma forma se sucedem.

Missão: salvar o capitalismo

Uma das temáticas que perpassam os ensaios agora reunidos por Rodrigo Duarte é a função exercida pela indústria cultural na manutenção do capitalismo. “Quando o capitalismo monopolista surgiu, entre o fim do século 19 e o início do século 20, os países com tradição democrática precisaram de mecanismos que garantissem que a dominação econômica advinda desse novo modelo persistisse coexistindo com algum tipo de liberalismo político. A indústria cultural surgiu justamente com esse papel: facilitar a convivência entre capitalismo não concorrencial na economia e liberalismo no âmbito político”, diz o professor. “De certa forma, a indústria cultural nasce com a tarefa sistêmica de salvar o capitalismo. E ela sempre desempenhou bem esse papel. Na verdade, cada vez mais a indústria cultural pode ser considerada a ponta de lança do capitalismo”, critica.

Para além da importância da indústria cultural como meio de dominação política no mundo contemporâneo, os ensaios de Varia aesthetica alcançam temas variados – do papel da propaganda na mobilização das massas nos regimes autoritários ao potencial subversivo e de questionamento político da arte contemporânea. Assuntos como autonomia e fim da arte, desartificação e reprodutibilidade técnica também são revisitados na obra.

Livro: Varia aesthetica: ensaios sobre arte & sociedade
Relicário Edições
Lançamento: 16 de agosto, às 11h, na Livraria Quixote (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi)
Informações: 3227-3077
Preço: R$ 45