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Nº 1871 - Ano 40
11.08.2014

Vida depois dos 60

Uma das principais iniciativas de extensão da UFMG, Projeto Maioridade tem abordagem que combina envelhecimento saudável, cultura e socialização

Ana Rita Araújo

A ideia de que idosos não aprendem mais vem sendo desmitificada há 22 anos pelos participantes do Projeto Maioridade – Universidade Aberta para a Terceira Idade, iniciativa da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional que orienta para o envelhecimento saudável e com qualidade. Destinada a pessoas a partir de 60 anos, a programação, que transcorre anualmente de agosto a dezembro, inclui palestras, mesas-redondas, oficinas, dinâmicas, atividades físicas e socioculturais. “Tenho aprendido muito. Desde que participei pela primeira vez, há seis anos, não saí mais”, comenta a pedagoga aposentada Ana Luci Fonseca Gonçalves, 68 anos, que destaca como ganho adicional as amizades que perduram além do período de cada curso.

Para a coordenadora Marcella Guimarães Assis, a longevidade do projeto se deve a características peculiares, como o uso de metodologias ativas que propiciam a interação, bem como a inovação na abordagem dos temas. Ela destaca que as quatro temáticas permanentes do curso – Envelhecimento e saúde; Movimento e qualidade de vida; Aspectos psicológicos e sociais; Cotidiano e cultura – são expostas de forma inovadora. “O corpo docente é formado por profissionais, pesquisadores e clínicos com experiência na área do envelhecimento, e sempre convidamos pessoas diferentes, que podem abordar uma mesma temática com outro enfoque”, explica. Ao fim de cada edição, docentes e alunos sugerem temas a serem trabalhados nos anos seguintes.

Com relação à troca de saberes, Marcella Assis comenta que cada idoso pode enriquecer o curso ao compartilhar conhecimentos adquiridos ao longo da vida. “Criamos um momento específico, o Cotidiano do Maioridade, para que eles transmitam esse conhecimento. Assim, um advogado, por exemplo, pode trazer um conteúdo jurídico, enquanto uma pessoa que escreva contos pode falar sobre a produção desse tipo de texto. Também há aulas práticas, com receitas e técnicas de atividades manuais”, descreve a professora do Departamento de Terapia Ocupacional.

Ao longo de duas décadas, a clientela do curso se definiu naturalmente: a maior parte das 50 vagas anuais é preenchida por mulheres – o público masculino não ultrapassa 15%. As idades dos participantes variam de 68 a 74 anos. “A literatura confirma que o público feminino tem mais interesse em desenvolver atividades de socialização e buscar informações para melhorar o processo de vida. Já os homens, depois da aposentadoria, se envolvem mais em atividades sindicais e esportivas”, informa a professora, lembrando ainda que a maioria da população idosa é composta por mulheres.

Funções cognitivas

Especialista na área de memória, a pesquisadora Marcella Assis explica que a busca constante por aprendizado alarga as possibilidades do idoso. Em grupo, tal prática se torna mais rica, pois os participantes percebem a importância de integrar uma rede e fazem novos amigos que são preservados depois do curso. Trata-se, segundo a vice-coordenadora do Projeto, professora Rosângela Dias, de “uma forma de empoderá-los como cidadãos e pessoas ativas na sociedade”.

Além de ampliar as relações interpessoais, o curso mobiliza o idoso, estimulando-o a se manter alerta, assegura Marcella Assis. Como exemplo, ela cita a informática. “Se aprende a criar um perfil numa rede social, a pessoa passa a conversar com o neto que mora fora e, principalmente, começa a lidar com uma série de aportes cognitivos que estimulam memória, atenção, concentração e resolução de problemas.”

Tais experiências, quando aliadas a mudanças na alimentação e em outras práticas cotidianas, propiciam o envelhecimento saudável. “Aulas de atividades físicas, como tai chi chuan, exigem equilíbrio, concentração, força, amplitude de movimento, coordenação motora, o que faz com que a pessoa trabalhe outras áreas”, completa a professora, lembrando que o processo de aprendizagem pode ocorrer durante todo o curso da vida. “Algumas características na forma de aprender vão mudando. Na velhice, o aprendizado pode ser mais seletivo, mas tem maior profundidade, em razão da experiência”, diz Marcella Assis.

Ganho acadêmico

Aposentada do Departamento de Fisioterapia, a professora Rosângela Dias comenta que os alunos de pós-graduação que se preparam para atuar como pesquisadores ou docentes e são convidados a ministrar aulas, palestras ou oficinas no curso “ganham uma vivência inestimável com uma audiência idosa que mostra curiosidade e vivacidade, e saem de lá renovados”.

A aluna de graduação Giselle Nobre Lukashevich, bolsista do Projeto há três anos, cita a gerontologia como área de seu maior interesse profissional. Segundo ela, a experiência adquirida no projeto é fator determinante para a construção do seu desenvolvimento na área, por proporcionar “uma saudável convivência com os idosos e um grande contato com relevantes temas relacionados à velhice, resultando em ótimas trocas de conhecimento e numa excelente experiência da extensão universitária”.