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Nº 1872 - Ano 40
18.08.2014
Hugo Rafael
O professor Andrés Zarankin, coordenador do Programa de Pós-graduação em Antropologia da UFMG, completa, em 2015, 12 viagens ao continente antártico, cinco delas nos últimos seis anos, período em que suas pesquisas passaram a integrar o Proantar. O projeto Paisagens em Branco: Arqueologia Histórica na Antártica, desenvolvido desde 1995, busca compreender o processo de exploração humana na região ao longo dos dois últimos séculos.
Ainda não há consenso sobre a história oficial da Antártica, explica Zarankin. As pesquisas arqueológicas na região têm revelado que a incorporação do continente à geopolítica mundial não foi feita por exploradores científicos ou por países que buscavam soberania, mas por personagens comuns – pessoas que buscavam sua sobrevivência por meio da caça de animais marinhos, como baleias, focas e lobos. “Grande parte das versões foram construídas com o objetivo de embasar pedidos de soberania sobre a Antártica e, obviamente, eram apresentadas de acordo com as pretensões de cada nação. Como consequência, foi produzida uma história factual e parcial sobre o passado polar, na qual os exploradores de recursos marinhos da região foram esquecidos e silenciados”, conta.
Em cerca de duas décadas de trabalho, a equipe de Zarankin vem juntando as peças desse quebra-cabeça: os vestígios deixados por grupos de foqueiros e baleeiros, ignorados pela história oficial, que se deslocavam pela região nos meses de verão dos séculos 18 e 19. “Os resultados têm permitido a construção de histórias alternativas do continente e de importantes contribuições teórico-metodológicas, fundamentais para compreender as primeiras ocupações”, afirma Zarankin.
Com o apoio de pesquisadores argentinos, chilenos e norte-americanos, a equipe coordenada por Zarankin viaja, anualmente, nos meses de janeiro e fevereiro, para fazer a escavação arqueológica dos sítios antárticos. O trabalho de campo no início do próximo ano dará continuidade à coleta de informações que alimentarão o mapa arqueológico das Ilhas Shetlands do Sul, em elaboração desde 2010.
A princípio, a equipe do projeto elaborou mapa para a ilha Livingston, com a localização dos sítios dos caçadores de focas do século 19. Em um segundo momento, o mapa incluiu os sítios das Ilhas Shetlands do Sul, de foqueiros e baleeiros. “Estamos na fase de criação de um programa específico que permite associar imagens, como fotografias e plantas dos sítios, informações textuais, como grau de conservação, tipo de trabalho arqueológico realizado, relatórios e publicações sobre o lugar, e vídeos das reconstruções virtuais dos sítios”, informa o professor da Fafich. A ideia é tornar a plataforma compatível com o Google Earth, que permite a navegação por meio de um globo virtual e a visualização de imagens, mapas, terrenos e construções em 3D, via satélite.
O foco no estudo do passado e do presente da ocupação humana da Antártica, por meio da interação de Arqueologia, História e Antropologia, garante ao trabalho uma posição de referência. Segundo Zarankin, grande parte dos novos livros e publicações sobre a Antártica vale-se do trabalho desenvolvido pelo projeto a fim de repensar tanto a história antiga da ocupação humana do continente quanto as mudanças culturais e sociais na relação entre o homem e o continente ao longo do tempo.
Até 24 de agosto, pesquisadores que vão participar pela primeira vez da expedição fazem o Treinamento Pré-Antártico (TPA), promovido pela Marinha do Brasil no Centro de Adestramento da Ilha da Marambaia, em Mangaratiba, no Rio de Janeiro. Entre eles, estão profissionais do Centro de Comunicação (Cedecom) da UFMG, que vão acompanhar e registrar o trabalho de pesquisadores de um dos projetos relacionados à Universidade: Juliana Botelho, responsável pela Coordenadoria de Comunicação Científica (CCC), Luiza Carvalho, bolsista do mesmo núcleo, e Samuel do Vale Vieira e Ian Lara, ambos da TV UFMG.
O treinamento é composto de atividades teóricas e práticas. Durante sete dias, os participantes assistem a palestras de preparação para a expedição e são submetidos a testes físicos. O objetivo é garantir a segurança e a eficiência na realização de atividades no continente, de acordo com as regras do Programa Antártico Brasileiro (Proantar).