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Nº 1872 - Ano 40
18.08.2014

Sobrevivendo ao extremo

Projeto pioneiro de professora da UFMG vai mapear condições de saúde vivenciadas por pesquisadores e militares que trabalham no continente

Hugo Rafael

Condições extremas como temperaturas abaixo de zero, tempestade de neve e ventos de até 150 quilômetros por hora são alguns dos desafios com os quais pesquisadores brasileiros vão deparar na 33ª Operação Antártica (2014-2015). É nesse cenário que a médica e professora Rosa Maria Esteves Arantes, do Departamento de Patologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), iniciará, em janeiro, mapeamento pioneiro das condições de saúde vivenciadas por pesquisadores e militares no continente.

“Há 30 anos, o Brasil participa de expedições na Antártica e ainda não há estudos em desenvolvimento sobre as condições de saúde dos pesquisadores e dos militares na região”, ressalta a professora, que coordena o projeto Sobrevivendo no limite: a medicina polar e a antropologia da saúde na Antártica Entre os pesquisadores que já experimentaram as condições extremas da Antártica, estão outros dois coordenadores de projetos vinculados à UFMG no Proantar, que vão, mais uma vez, enviar equipe a campo na próxima expedição, programada pela Marinha para o período de outubro deste ano a fevereiro de 2015. Um deles é o professor Andrés Zarankin, que há cerca de duas décadas desenvolve trabalho de referência internacional na área de arqueologia histórica antártica. O outro é Luiz Henrique Rosa, do ICB, que estuda, desde 2006, os fungos da Antártica.

É a segunda vez que a professora se prepara para passar uma temporada no continente. Em janeiro deste ano, ela participou da equipe coordenada pelo professor Zarankin. Sua expectativa é de que o trabalho sirva como ponto de partida para novas pesquisas na área de saúde no âmbito do Proantar, cujos projetos têm-se concentrado em cinco eixos: Gelo e clima, Ecossistemas, Oceano austral, Geologia e geofísica e Alta atmosfera.

Dificuldades

A primeira etapa das atividades de campo, segundo a professora, inclui levantamento geral das condições de trabalho médico na Antártica, a fim de perceber o contexto diferenciado em que opera o sistema de atendimento às pessoas que vão para a região. “Em geral, os programas de pesquisa médica se preocupam em determinar de que forma os efeitos do frio, a solidão e o isolamento afetam pesquisadores e militares”, explica.

O próprio Zarankin, que frequenta o “continente gelado” há quase duas décadas, é testemunha das adversidades. “Tem sido cada vez mais difícil, no período de férias, deixar família e encarar uma viagem que dura cerca de dois meses, sendo 15 dias só para chegar à Antártica, muitas vezes atravessando o mar de Drake, um dos mais perigosos do mundo. Isso sem falar do desafio que é a adaptação às condições radicais do lugar”, conta.

Além das adaptações físico-psíquicas impostas ao organismo, a investigação pretende lançar luz sobre aspectos que perpassam a qualidade de vida. “Meu contato com a antropologia é essencial para entender a depressão, potencializada pelas condições de isolamento e frio, dentro de um cenário de desamparo e isolamento aos quais o homem moderno é submetido”, explica Rosa Arantes, que atualmente cursa graduação em Antropologia.

Rosa Arantes elaborou um sistema de visita a várias bases, aproveitando o trajeto até a Estação Comandante Ferraz. A expectativa da pesquisadora é visitar no mínimo dez bases, incluindo as de países sul-americanos como Chile, Uruguai e Argentina, onde a equipe pretende conversar com as referências médicas, fazer registros fotográficos e consultar prontuários e outros documentos relacionados às questões de saúde. Esse processo, no entanto, se encontra em fase de negociação, uma vez que há casos em que será necessária mediação diplomática.

Na opinião de Rosa Arantes, é preciso dar atenção às condições de segurança que serão encontradas por quem se desloca para a Antártica. “Meu interesse também é revisar aspectos das doenças, lesões, acidentes e procedimentos médicos registrados ao longo de três décadas de atividade do Proantar”, explica a professora, para quem é necessário observar também aspectos relacionados a atividades de campo, a protocolos de evacuação, a suprimentos e a seleção e treinamento de equipe. “Queremos entender ainda como é vista, por profissionais e por usuários, a questão da saúde da população antártica temporária, aquela que ocupa a região em períodos específicos para pesquisa”, aponta.

Projeto: Sobrevivendo no limite: a medicina polar e a antropologia da saúde na Antártica
Coordenação: Rosa Maria Esteves Arantes, do ICB
Financiamento: CNPq/Proantar
Colaboração: Andrés Zarankin (arqueólogo, UFMG), Erica Souza (antropóloga, UFMG), Solange Murta (médica, Marinha do Brasil), Paulo Roberto Ceccarelli (psicólogo, Círculo Psicanalítico de Minas Gerais e UFMG)