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Nº 1879 - Ano 41
06.10.2014

opiniao

O texto turístico e a produção de sentidos

Charles de Oliveira Fonseca (*)

Vagner Luciano de Andrade (**)

As técnicas contemporâneas de comunicação caminham cada vez mais para perspectivas de interdisciplinaridade, tornando o processo comunicativo, indispensável à vida em sociedade, mais eficaz e integrado em diferentes níveis. Nesse contexto, faz-se imprescindível uma comunicação de âmbito não apenas social, mas sobretudo ambiental, cultural, econômica, educacional e política. Além dos fundamentos teóricos que permeiam a comunicação social e dialogam direta e indiretamente com as ciências sociais e humanas, é possível perceber que ela estabelece conexões com diversas outras áreas do conhecimento.

Os diálogos entre a comunicação social e a área de meio ambiente consolidam uma série de realidades e possibilidades, como o jornalismo científico e o ambiental, de modo a construir novas modalidades de comunicação de cunho, essência e intenção socioambiental. Essas novas vertentes do jornalismo – científica e ambiental – estabelecem complexas e interessantes relações teóricas, epistemológicas e metodológicas com outras áreas socioambientais como a ecologia, a geografia e a história. Um dos mais relevantes diálogos é aquele que se estabelece para a área do turismo. Aqui não nos referimos apenas à informação turística aplicada à comunicação social, mas, sobretudo, à escrita, à revisão, à formatação e à publicação do texto turístico, destacando seu sentido ideológico, mercadológico e existencial na busca do encantamento pelas paisagens e áreas de visitação turística.

O texto é uma manifestação escrita ou falada que explicita as ideias de um autor. Posteriormente, ele é apropriado por diferentes leitores que o interpretam de acordo com seus conhecimentos culturais, existenciais e linguísticos. Todo texto, como ocorrência linguística de qualquer extensão, é dotado de unidade sociocomunicativa, semântica e formal, apresentando sentido e forma, ou seja, estrutura, coesão e coerência.

Um exemplo: um turista que visita Ouro Preto com o objetivo de compreender as nuances do barroco mineiro e os resquícios históricos do Brasil Colônia lidará com diferentes estilos e formas textuais que caracterizam, contextualizam e exemplificam o cenário visitado. Como se absorve o complexo mundo de sentidos, signos e significados do espaço visitado? Como se dá tal apropriação textual? Como ela é transposta para a realidade percebida? Entram em cena diferentes meios e mecanismos para a produção de sentidos por intermédio de diferentes textos turísticos: placas, agentes, guias, livros, inventários e panfletos. A produção textual na área do turismo é de extrema relevância e complexidade. Uma modalidade de texto muito presente na realidade dos profissionais do turismo, sem desmerecer ou desqualificar as outras formas, é o inventário turístico, que se destaca pela riqueza de detalhes que permeiam sua construção e pela busca de sentidos e significações que possibilitam sua aplicação à realidade, sua apropriação e o consecutivo repasse de informações.

A ideia do inventário parte da coleta de vários dados turísticos que passam a ser integrados, quando organizados em um texto, a fim de se ter uma visão de totalidade, de conjunto que, por sua vez, subsidiará o planejamento e orientará ações. Sem a construção do texto, os dados fragmentados, sejam geográficos, históricos ou ecológicos, permanecem isolados e sem conexão com o todo investigado.

Tão importante quanto a questão da coleta dos dados no inventário é o texto resultante da análise e união desses fragmentos. A produção textual possibilita ações subsequentes de extrema relevância, como a roteirização e a informação turística. Assim, o inventário de dados se consolida como forma de comunicação, seja ela escrita ou falada, destacando-se aqui a importância da atuação de comunicadores específicos no repasse de textualidades distintas do turismo: o agente e o guia. A produção textual e sua apropriação não estão ligadas somente aos dados, inventários, comunicadores ou formas de comunicação, mas, sobretudo, a estratégias indispensáveis à divulgação e à promoção de um destino turístico. Evidentemente, profissionais de jornalismo não devem atentar apenas para outras áreas da comunicação social, como a publicidade, a propaganda e o marketing, mas precisam estar profissionalmente conectados à necessidade de uma contínua produção de sentidos nos textos turísticos.

Por último, destacam-se ainda meios textuais mais acessíveis e democráticos de comunicação socioambiental destinados à divulgação de um determinado destino turístico. Nesse contexto, a produção de sentidos textuais recorre a diversas fontes da ecologia, da geografia, da história e na produção de diferentes textos, contribuindo para a consolidação de uma nova área profissional, a do jornalismo turístico. Com essa nova modalidade em ascensão, destinos turísticos regionais, nacionais e internacionais são textualmente divulgados, motivando visitações e permitindo a apropriação e o gozo de paisagens e de culturas distintas. Dessa forma, amplia-se o intercâmbio e instituem-se outros processos comunicativos, indispensáveis à vida em sociedade, fazendo a produção de sentidos no texto turístico tornar-se efetivamente um caminho para a interação cultural de diferentes pessoas e realidades.

(*) Bacharel em Turismo (IGC/UFMG) e mestrando em Geografia (área de concentração Análise Ambiental) pelo IGC/UFMG

(**) Agente mobilizador da Rede Ação Ambiental, com formação em Ecologia, Educação, Geografia, Patrimônio e Turismo