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Nº 1887 - Ano 41
01.12.2014

Encarte

A pedra

Em coletânea de entrevistas, jornalista investiga flertes da narrativa jornalística com a literatura

Ewerton Martins Ribeiro

No meio do caminho (do ato de escrever) tinha uma pedra – e a pedra era a própria linguagem. Como transpô-la? Há séculos, jornalistas e escritores enfrentam o dilema. Uns, mais pragmáticos, escolhem simplesmente ignorar sua existência, com a pretensão de fazê-la transparente. Outros preferem jogar com sua inerente opacidade.

O livro No meio da notícia tinha uma pedra: conversas sobre um jeito narrativo de informar, de autoria do jornalista Ennio Rodrigues, está centrado nesse segundo grupo de profissionais e em sua forma de encarar o ofício da escrita, ou seja, tomando a linguagem como um instrumento de criação em seu sentido mais amplo. A obra será lançada na noite desta segunda-feira, 1º de dezembro, na Livraria Quixote.

Rodrigues entrevistou nove profissionais da escrita, integrantes de distintas gerações da imprensa nacional: Armando Antenore, Bernardo Biagioni, Humberto Werneck, Lucas Figueiredo, Natalia Viana, Pedro Alexandre Sanches, Sabrina Abreu, Sergio Vilas-Boas e Vanessa Barbara. São jornalistas e autores brasileiros que em seus textos escapam do estilo técnico recorrente na grande mídia – flertam com a própria literatura em suas produções. “Eles optam por um jeito narrativo de informar”, afirma o autor.

A obra é um desdobramento de seu trabalho de conclusão de curso, defendido na Fafich em 2012. “Nas aulas de narrativas jornalísticas, os outros alunos e eu analisamos textos teóricos e exemplos de produções jornalísticas que escolhem não se submeter a certas regras da área, como a pirâmide invertida e o lide. Ao mesmo tempo, em formação complementar no curso de Letras, tive a oportunidade de estudar o modernismo brasileiro. Essas experiências contribuíram para a composição do livro”, explica.

Do somatório desses estudos, conta Ennio, nasceu a possibilidade de ler o poema “No meio do caminho”, de Drummond, pela perspectiva da linguagem e deslocar sua apreciação para o campo da comunicação. “Fui pensar nessa possibilidade da tal ‘pedra no caminho’ ser lida como a própria linguagem com a qual o jornalista precisa lidar no seu dia a dia”, diz o autor.

Nas entrevistas reunidas na obra, os profissionais manifestam sua visão crítica em relação à imprensa brasileira, dão dicas de leitura, contam casos inusitados de suas carreiras e falam sobre seus processos criativos. No meio da notícia tinha uma pedra também traz textos dos próprios entrevistados. “Pedi que cada um deles escolhesse um fragmento de sua produção que melhor ilustrasse o seu estilo”, explica o autor. Os trechos introduzem cada entrevista do livro.

Disposição para ouvir

Em sua maioria, as conversas que compõem a obra foram realizadas pessoalmente ou por telefone. “Segui as recomendações de Tom Wolfe [escritor norte-americano expoente do New journalism, gênero jornalístico que mobiliza técnicas literárias em sua produção] e tentei conhecer de fato os meus personagens, falar com eles. Evitei entrevistas por e-mail”, conta o autor, que só recorreu ao recurso quando manteve contato com a jornalista Vanessa Barbara, que estava na França.

A despeito da natural diversidade de experiências e de estilos narrativos dos entrevistados, Ennio percebe um ponto comum entre suas produções: a dedicação ao personagem e a disposição para ouvir. “Todos parecem entender, de uma forma ou de outra, que o que sustenta um bom texto é a profunda história de seus personagens. Conversando com eles, pude perceber a importância que eles dão ao detalhe”, diz.

Livro: No meio da notícia tinha uma pedra
Autor: Ennio Rodrigues
Editora Letramento
Lançamento: 1º de dezembro, às 19h, na Livraria Quixote
(Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi)
Informações: 3227-3077
Vendas online: www.editoraletramento.com.br
112 páginas / R$ 32 (preço de capa)