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Nº 1888 - Ano 41
08.12.2014

Dura na queda

Tese premiada pela Capes investiga mecanismos de sobrevivência da bactéria causadora da brucelose em bovinos e humanos

Luana Macieira

A brucelose é uma doença bacteriana que afeta bovinos e humanos. Enquanto nos primeiros ela provoca abortos, nas pessoas, a doença tem como sintomas febre intermitente, aumento de órgãos como baço e fígado e alterações nas articulações. Como sua manifestação é crônica, a tese Mechanisms of Brucella abortus survival during chronic infection: the role of Il-10 and PPARy, defendida na Escola de Veterinária da UFMG e vencedora do Prêmio Capes 2014 na área de Medicina Veterinária, investigou como o  agente causador da brucelose, a Brucella abortus, consegue sobreviver por tanto tempo no organismo dos portadores da doença.

A pesquisa foi dividida em duas etapas. Na primeira, o objetivo era entender como a bactéria persistia no organismo infectado e impedia o sistema imunológico de “perceber” que ela estava no corpo. “Observamos a resposta imunológica da fase aguda da doença, que ocorre mais ou menos uma semana depois que a pessoa foi infectada pela bactéria. Constatamos que a Brucella induz à produção de uma proteína anti-inflamatória chamada Il-10. É essa proteína que faz a resposta imune do organismo não ser forte o suficiente para eliminar a bactéria do corpo”, explica a autora da tese, Mariana Xavier.

No segundo momento, já com a descoberta da ação da proteína Il-10, foi estudada a fase crônica da manifestação da doença, na qual a pesquisadora percebeu que a bactéria consegue permanecer dentro dos macrófagos, células do hospedeiro (homem ou animal) que possuem a função de destruir agentes invasores. No caso da Brucella, os macrófagos acabam servindo-lhe de “moradia”. “Percebemos que uma quantidade de glicose se acumula nos macrófagos e passa a ser usada como fonte de energia pela bactéria. A partir do momento em que usa essa glicose para se alimentar, ela sobrevive por mais tempo no organismo do portador da doença”, explica a pesquisadora.

Além da medicina veterinária

Enquanto a brucelose bovina é prevenida com vacinas e não existe tratamento – o gado diagnosticado com a bactéria é sacrificado –, em humanos, a doença, que atinge cerca de 500 mil pessoas todos os anos, pode ser tratada com antibióticos. Segundo Mariana Xavier, estudos que explicam como se dá a resistência de micro-organismos são úteis porque é cada vez mais comum a existência de superbactérias que os antibióticos mais comuns não conseguem combater. “Esse tipo de pesquisa possibilita o desenvolvimento de novas drogas antibacterianas e vacinas”, diz.

A pesquisa foi desenvolvida nos laboratórios da Escola de Medicina Veterinária da UFMG e da University of California at Davis. Nos Estados Unidos, os experimentos concentraram-se nas análises em camundongos, uma vez que os testes nesses roedores são capazes de reproduzir o comportamento da bactéria em humanos. “Usamos técnicas da medicina veterinária para estudar também o comportamento da bactéria em humanos. Dessa forma, conseguimos produzir resultados úteis não só para o tratamento do gado, mas também de pessoas nas quais a Brucella se manifesta de forma perigosa e crônica”, conclui a pesquisadora.  

Tese: Mechanisms of brucella abortus survival during chronic infection: the role of il-10 and PPARy
Autora: Mariana Noyma Xavier
Orientadores: Renato de Lima Santos, da Escola de Veterinária da UFMG, e Renée Tsolis, da University of California at Davis
Defendida em junho de 2013 no Programa de Pós-graduação em Ciência Animal da Escola de Veterinária da UFMG