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Nº 1894 - Ano 41
09.03.2015

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Na encruzilhada

Em seminário na UFMG, educadores e estudantes debaterão os rumos do ensino médio brasileiro

Hugo Rafael

Não há consenso a respeito do sentido e da finalidade do ensino médio no Brasil, o que é motivo de debates que envolvem especialistas em educação de todo o país. Para avançar rumo à formulação de propostas efetivas de intervenção, o Observatório da Juventude da UFMG, vinculado à Faculdade de Educação (FaE), promove, em parceria com o grupo EM Pesquisa, o seminário Ensino médio no Brasil: sujeitos, tempos, espaços e saberes.

O evento será realizado nesta semana (de 11 a 13 de março), no Centro de Atividades Didáticas de Ciências Humanas (CAD 2), campus Pampulha. O professor Juarez Dayrell, do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino da FaE e um dos organizadores, destaca que o encontro foi programado em um momento oportuno.

“Este seminário foi pensado em meio a um contexto nacional de disputa de concepções sobre o sentido e a finalidade do ensino médio no Brasil. Em termos legais, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) busca traçar o sentido do ensino médio no país. Recentemente, em 2012, também foram promulgadas as Diretrizes Básicas Curriculares do ensino médio. Mas ainda há uma disputa muito grande de concepções”, avalia o professor.

Diretamente interessada nas discussões que vão nortear políticas públicas para o ensino médio brasileiro, a equipe do Observatório da Juventude espera, de acordo com Juarez Dayrell, que o seminário promova, de forma conjunta, a reflexão sobre elementos para construir propostas de intervenção que levem em conta os principais interessados.

“Queremos contrapor uma série de iniciativas, tanto públicas quanto de outras entidades, que se arvoram no direito de decidir o que é bom e o que é ruim para o jovem e para o professor sem escutá-los. Infelizmente, isso é muito comum na formulação das políticas públicas: a dimensão da escuta ainda não está posta”, reconhece Dayrell.

Currículo: único ou diverso?

A programação do seminário inclui temas fundamentais, conforme avalia o professor. “Vamos iniciar com uma discussão geral acerca dos principais desafios que estão postos: a expansão do ensino médio e o que ela acarretou; a forma de organização escolar no cotidiano. Nesse momento, discutiremos currículos, tempos e espaços escolares”, afirma Dayrell. “Em um segundo momento, pretendemos tratar da dimensão do jovem, que é a razão de ser do ensino médio, entendendo quem ele é, que questões traz e quais suas demandas e necessidades em relação à escola”.

Segundo o professor da FaE, a principal discussão em curso na rede pública também terá espaço no seminário, só que sob outro enfoque. “Existe um grande debate sobre a base nacional comum do ensino médio. Há uma corrente que defende um currículo nacional e outra que enfatiza a dimensão da diversidade”, explica o professor. “Nosso grupo questiona a validade desse debate que põe essa questão como central, reduzindo os problemas do ensino médio à discussão acerca de currículo: se deve haver um comum ou currículos específicos para cada região. Acreditamos que isso é secundário e que não vai resolver os problemas do ensino médio”, pontua Dayrell, para quem “o currículo hoje já está pautado pelo Enem, que define o que deve ser ensinado”.

Na opinião do professor, tal tema tem tomado espaço de uma abordagem que é muito mais urgente. “Queremos propor um debate mais específico acerca da organização curricular no cotidiano do ensino médio. Esse é o grande nó: a nossa escola ainda é do século 17, a forma de organização dos tempos e espaços é muito anacrônica, não conseguiu avançar. Isso é uma das causas da crise que vivenciamos hoje”, sustenta Dayrell.

“Quem está na escola sabe que o desafio não é definir o currículo e o que ensinar. O professor não tem dúvidas sobre o que ensinar, mas sobre como ensinar, em que tempo e com qual estrutura. Essa discussão não chega ao âmago da questão, que é a condição docente, que inclui o aspecto salarial, e a concepção acerca do que é primordial na formação. Nosso desafio é criar um espaço de diálogo que nos aproxime da realidade dos jovens e, a partir daí, avançar em um processo de formação mais amplo”, enfatiza o professor.

Foca Lisboa
Juarez Dayrell discorda das duas correntes que veem o currículo com uma questão central
Juarez Dayrell discorda das duas correntes que veem o currículo com uma questão central

Plenária com os estudantes

Nesta terça-feira, 10, cerca de 80 jo­vens – 40 da Região Metropolitana de Belo Horizonte e outras 40 lideranças nacionais da juventude brasileira – se reunirão em plenária para discutir os rumos do ensino médio. As atividades serão realizadas ao longo do dia como uma prévia das discussões que serão aprofundadas no seminário. “Os principais atores envolvidos no ensino médio precisam ser ouvidos nesse processo de elaboração de propostas”, lembra Juarez Dayrell.

Evasão escolar

Na quarta-feira, em parceria com o Unicef, serão divulgados os resultados de pesquisa inédita sobre evasão escolar no Brasil feita pelo Observatório da Juventude da UFMG. “Esse trabalho foi feito com base em parâmetros internacionais. Utilizamos instrumentos que vão possibilitar, futuramente, comparações com pesquisas realizadas em outros dez países”, pontua Dayrell.

A pesquisa contemplou três perfis de jovens em situação de exclusão: recém-excluídos, que abandonaram o ensino médio; atrasados, com idade para frequentar o ensino médio, mas que ainda não saíram do ensino fundamental, e em situação de exclusão, que estão atrasados dentro do próprio ensino médio. Foram entrevistados 240 representantes de cada grupo, em cinco capitais brasileiras (Belo Horizonte, Belém, Brasília, Fortaleza e São Paulo) e em Santana do Riacho, no interior de Minas.

Evento: Seminário Ensino Médio no Brasil: sujeitos, tempos, espaços e saberes
Telefone: (31) 3409-3799
Mais informações: www.observatoriodajuventude.ufmg.br