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Nº 1895 - Ano 41
16.03.2015
Fabíola de Paula*
Fotos:acervos de Barbara Fulgêncio e Laís Reis |
Apesar das deficiências de infraestrutura, a educação em São Tomé e Princípe vive momento de expansão e investimento |
Em uma escola pública da ilha de São Tomé, na África, com pátio amplo e arborizado, as crianças brincam no ambiente e até comem as frutas colhidas das árvores. Há um elemento nesse espaço, porém, do qual elas ainda não se apropriaram tanto. “Percebo que as crianças não têm o hábito de fixar cartazes nas paredes das salas e nos corredores da escola”, observa a estudante de Pedagogia da UFMG Laís Reis, que realiza intercâmbio de dois meses em São Tomé e Príncipe.
Laís integra o segundo grupo de intercambistas de graduação da UFMG que participa do projeto Formação de professores brasileiros e santomenses e o aprendizado inicial da língua portuguesa pelas crianças santomenses, sob coordenação da professora Francisca Maciel, da Faculdade de Educação (FaE), que é resultado de parceria entre UFMG e USTP. A iniciativa integra o Programa de Mobilidade Capes/AULP.
Ao promover a ida de professores e estudantes de graduação, mestrado e doutorado da UFMG para o país africano e também possibilitar a vinda de estudantes universitários santomenses para o Brasil, o projeto busca uma formação de mão dupla. “Durante essa experiência estou desenvolvendo um olhar mais observador sobre a prática escolar e, com isso, entendendo melhor o cotidiano do que seja ser professor”, conta Laís.
Em atividade com turma da 1ª classe (equivalente ao 1º ano do Ensino Fundamental no Brasil), Laís Reis pediu às crianças que se sentassem em roda para ouvir uma história. Enquanto narrava, fazia perguntas aos alunos, que respondiam e participavam ativamente. Em seguida, a turma ilustrou a história em um grande papel com muitas cores. E assim surgiu o primeiro cartaz daquela sala feito pelos próprios alunos.
Na UFMG, o projeto é coordenado pela professora Francisca Maciel, que integra o Centro de Alfabetização, Leitura e Escrita (Ceale) da FaE. Os trabalhos realizados por Francisca em países africanos, em especial em São Tomé e Príncipe, foram iniciados em 2006, quando se tornou representante da UFMG para atuar na formação de coordenadores de educação de jovens e adultos, na área da alfabetização, leitura e escrita. Nesse atual projeto, a proposta tem como foco os anos iniciais da escola básica.
Segundo Francisca, o objetivo da parceria não é levar conhecimentos do Brasil para São Tomé e Príncipe. Pelo contrário, espera-se construir conhecimentos durante o projeto. Para isso, a imersão dos intercambistas é o ponto de partida. “Pela minha experiência, aquilo que chega pronto pode não ser bem assimilado, até por uma diferença cultural, linguística, assim como não é pertinente fazer uma ingerência”, afirma Francisca.
Bolsista da primeira equipe do projeto que viajou no ano passado, a estudante de Pedagogia da UFMG Bárbara Fulgêncio descreve algumas características observadas nesse processo. “Lá, aulas de dança são muito comuns. A dança é uma manifestação muito própria de São Tomé. Eles falam o português bem mais próximo ao de Portugal, mas há também o crioulo. Seus livros são editados em Portugal, mas trazem características de São Tomé”, relata.
Diante de tantas informações novas da cultura santomense, Bárbara observou, ainda, as carências de formação dos docentes da educação básica. Em São Tomé e Príncipe, a maioria dos professores de séries iniciais ainda não possui formação superior. “Eu já defendia a formação continuada e, depois de ir a São Tomé, vi a importância da formação básica e também da continuada”, afirma a estudante.
Segundo Francisca Maciel, apesar de encontrar diferenças culturais e muitas dificuldades no país, como a pobreza, a falta de saneamento básico e de infraestrutura, São Tomé e Príncipe vive progressos perceptíveis, entre os quais um maior investimento na área da educação: “Hoje chego lá e vejo a ampliação de acesso das crianças às escolas. A salas de aulas estão lotadas. São, em média, 45 alunos por sala, todos querendo aprender, felizes por estarem ali, apesar da falta de infraestrutura”, conta Francisca.