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Nº 1897 - Ano 41
30.03.2015

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O jornalismo como experiência

Livro organizado por professores da Fafich propõe nova leitura do fenômeno jornalístico

Ewerton Martins Ribeiro

Mesmo diante dos despautérios cometidos pela imprensa, ainda há quem, desavisado, tome o jornalismo como uma simples “janela para o mundo” – atividade pretensamente capaz de reportar a realidade com fidelidade e precisão, desconsiderando os vieses e a influência das diversas forças atuantes no processo de construção das notícias.

Para desconstruir clichês como esse, que tanto colaboram para uma percepção simplista do fenômeno jornalístico, professores da UFMG organizaram Para entender o jornalismo (Editora Autêntica, 2014), no qual conceitos consagrados como fonte, canal, veículo, agenda, informação, atualidade, temporalidade, o fático e o fictício são repensados à luz do século 21.

O livro foi organizado por três professores do Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da Fafich: Bruno Souza Leal, Elton Antunes e Paulo Bernardo Vaz. Na obra, estão reunidos 16 ensaios nos quais é analisada a complexidade da notícia como fenômeno pós-moderno. “Uma virada no modo de pensar o jornalismo”, define o professor Luiz Gonzaga Motta, da UnB, na apresentação da obra. No foco, agora está o próprio sujeito e sua percepção do mundo.

“Trata-se de um livro paradidático para o ensino de graduação, uma introdução ao jornalismo. Contudo, não fazemos uma deontologia do jornalismo, não dizemos que ele tem de ser isso ou aquilo. Não se trata de um manual”, explica Elton Antunes. Menos que oferecer uma resposta totalizante, o livro sugere as questões que devem ser apresentadas à atividade no contexto do século 21. “Propomos mais perguntas do que respostas”, diz Elton.

Além da linearidade

Ainda que seja formado por ensaios de diferentes autores, o livro tem “certa organicidade”, diz Elton, e um eixo condutor: a ideia de se pensar o jornalismo não mais pela perspectiva linear, mas com base no conceito de experiência. Nesse sentido, defende o organizador, em vez de se insistir na reflexão pautada por uma lógica de funcionamento interna à atividade, a intenção é estimular a reflexão sobre a experiência jornalística no mundo. “Ela envolve não só os profissionais, mas também outros segmentos sociais. O jornalismo é uma forma de conhecer o mundo e uma forma de atuar no mundo. Esse é o aspecto que mais nos interessa”, diz.

Dividido em quatro partes, Para entender o jornalismo reúne textos de 18 autores – entre eles os organizadores, que assinam um capítulo cada. Os autores são, em sua maioria, doutorandos ou mestrandos em Comunicação Social da UFMG e assinam capítulos relacionados às pesquisas que desenvolveram.

Elton Antunes explica como a reflexão proposta no livro transcende a perspectiva linear da comunicação. “Não se trata mais do trânsito de um pacote de informações de um lugar para o outro, não se trata de oferecer certo saber a alguém que até então o ignora. Este certamente é um aspecto do jornalismo, mas o jornalismo é muito mais do que isso”, diz o professor.

Para entender o jornalismo reúne questões capazes de oferecer ao leitor – especialmente o que se inicia no tema – um panorama sobre a complexidade da experiência jornalística e as formas como ela tem sido tratada no meio acadêmico. Segundo Elton, a tendência da pesquisa tem sido a de refletir o processo comunicativo sob uma “perspectiva relacional da comunicação”.

No último capítulo da obra, ainda foram reunidos, em um glossário, termos pertinentes à profissão, o que também poderá credenciar o livro como uma obra de referência. Em Para saber mais sobre o jornalismo, são revistos desde conceitos clássicos, como “discurso”, “acontecimento” e “convergência”, até aqueles próprios da contemporaneidade, como “hibridização”, “revolução das fontes” e “showjornalismo”.

Livro: Para entender o jornalismo
Organizadores: Bruno Souza Leal, Elton Antunes e Paulo Bernardo Vaz
Preço: R$ 35 (http://grupoautentica.com.br)
Editora Autêntica