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Nº 1911 - Ano 41
06.07.2015

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Trabalho de uma vida

Professor doa à UFMG maior coleção de libélulas da América do Sul

Ana Rita Araújo

Coleção pessoal constituída de 35.250 exemplares de 1.052 espécies de libélulas, reunidas ao longo de 65 anos pelo professor Angelo Machado, foi doada oficialmente à UFMG no último dia 30. “Agradeço, em nome da Universidade, mais esse gesto bonito, entre tantos que o senhor já fez para a nossa Instituição”, disse o reitor Jaime Ramírez, ao assinar o termo de doação. “Sabemos que esse material lhe é muito caro, uma coleção de referência para a ciência, construída desde o início da sua vida e que será de grande proveito para as gerações futuras. Com esse ato, no qual certamente muitos vão se inspirar, o senhor dá mais um exemplo para todos nós”, completou.

Professor emérito da UFMG, ainda exercendo atividades no Departamento de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), Angelo Machado iniciou a coleção aos 16 anos. “Tem toda a minha vida aí, um trabalho que fiz com muito carinho, que entrego para uma instituição muito importante na minha vida”, disse, explicando que decidiu fazer a doação devido a vários fatores, entre os quais o crescimento do Departamento de Zoologia, que hoje oferece curso de pós-graduação em Taxonomia, e a previsão de construção de anexo ao Instituto para abrigar coleções taxonômicas. “Tenho certeza de que enquanto existir a Universidade, que é eterna, a coleção vai ficar aí e ajudar as pessoas”, ponderou.

A diretora do ICB, Andrea Mara Macedo, relatou que recebeu “com incontida satisfação” a intenção do professor Angelo Machado de doar para o Instituto seu acervo de mais de 35 mil libélulas. A professora explica que se trata da mais importante coleção desses insetos (Odonata) da América do Sul, com espécies das regiões neotropical, afrotropical, oriental, neártica, paleártica e australiana. Segundo ela, a doação chega em excelente momento, quando o ICB está terminando de elaborar o projeto de seu novo anexo “que irá abrigar valiosíssimas coleções taxonômicas”.

Foca Lisboa
Exemplar da coleção de libélulas que ficará alojada em anexo ao ICB
Exemplar da coleção de libélulas que ficará alojada em anexo ao ICB

Preservação

Ciência que lida com a descrição, identificação e classificação dos organismos, a taxonomia “está na base de tudo”, enfatizou Angelo Machado. “O grande desafio é saber quais espécies existem no mundo antes que elas acabem, porque a velocidade de extinção está maior do que a de conhecimento. Por isso, estamos tentando documentar as espécies onde elas estão, o que é a base também para proteção”, ressaltou.

Sobre a importância científica das libélulas, disse que poderia citar muitas, mas que “a maior delas é fazer do Angelo Machado um velho feliz”. Embora esteja aberta a pesquisadores, a coleção permanece na casa do professor e somente após sua morte será transferida para o campus Pampulha. “O acervo sempre esteve aberto à pesquisa, faço muita questão disso e, ao longo dos anos, tenho articulado muito bem esse acesso, sobretudo com o Museu Nacional”, afirmou o professor. Segundo ele, há várias teses elaboradas a partir desse material, somado com o que o próprio Museu disponibiliza.

“Hoje há um interesse maior no tema, porque os bichos estão acabando antes de serem descritos”, reforçou, informando que atualmente orienta no ICB a mestranda Déborah Souza Soldati Lacerda na elaboração da dissertação Estudos taxonômicos de Mecistogaster (Rambur 1842) da Mata Atlântica (Odonata: Pseudostigmatidae). “É uma satisfação ser professor de pós-graduação na minha idade”, destacou.

Trajetória

Na conversa com o reitor, o cientista contou que começou a se interessar por libélulas aos 16 anos, quando coletou cinco espécimes do inseto e, ao buscar ajuda com o professor Newton Santos, do Instituto de Educação, para identificar os respectivos nomes, foi instigado a pesquisar por conta própria. “Ele me entregou um manuscrito de uma tese dele. Voltei no dia seguinte, apontei erros no trabalho e no fim do ano eu estava estagiando no Museu Nacional. Como ele não me deu os nomes, lido com libélulas a vida inteira”, resume. Angelo Machado tem 32 animais e uma levedura batizados com seu nome.

Nascido em Belo Horizonte em 22 de maio de 1934, Angelo Barbosa Monteiro Machado é médico, entomólogo e escritor de livros infantis. Possui graduação e doutorado em Medicina pela UFMG e pós-doutorado na Northwestern University (Chicago). É diretor-presidente da Fundação Biodiversitas. Já se dedicou à Neurobiologia, com vários trabalhos publicados nessa área. Tem 36 livros infantojuvenis publicados. Dramaturgo, com seis peças infantis encenadas, quadro delas publicadas e uma premiada, é também autor de duas comédias para adultos, uma das quais premiada.