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Nº 1911 - Ano 41
06.07.2015

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Sem obstáculos

Escola de Veterinária realiza controle sanitário dos cavalos que disputarão as provas de hipismo nas Olimpíadas de 2016

Luana Macieira


Em 2016, o Brasil vai sediar os Jogos Olímpicos pela primeira vez. A expectativa é de que o Rio de Janeiro receba mais de um milhão de pessoas e, para que as provas de hipismo sejam bem-sucedidas, uma equipe multidisciplinar está trabalhando na infraestrutura que será usada nas competições de salto, adestramento e cross country.

Em parceria com a Universidade Federal Rural do Rio de ­Janeiro (UFRRJ), a UFMG está realizando a reestruturação da Escola de Equitação do Exército – Centro Nacional de Hipismo, onde serão disputadas as provas da modalidade. Enquanto a UFRRJ é responsável pela revitalização da pista de cross country, que fica no bairro de Deodoro, na Zona Oeste da capital fluminense, a Escola de Veterinária coordena projeto de segurança sanitária dos cavalos envolvidos na competição, por meio do controle dos agentes transmissores de zoonoses, como carrapatos, pombos, ratos e insetos.

O projeto Controle sanitário de vetores no Centro Nacional de Hipismo e recuperação e adequação da área de competição do cross country para hipismo teve início em 2005, quando o Rio de Janeiro se preparava para receber os Jogos Pan-americanos. O trabalho é coordenado pelos professores Romário Cerqueira Leite, da Escola de Veterinária, e Fernando Queiroz de Almeida, Carlos Luis Massard e Nivaldo Schultz, da UFRRJ. O Diário Oficial da União publicou, no mês passado, decreto que prevê a liberação de mais R$ 3,7 milhões para o controle sanitário. Até o momento cerca de R$ 10 milhões foram investidos na reestruturação do centro hípico.

Sinal de alerta

“Em 2005, antes dos Jogos Pan-americanos, havia a preocupação de que os animais envolvidos na competição pudessem trazer alguma doença de seus países de origem ou levar daqui alguma doença ao retornarem. Fui procurado pelo Ministério da Agricultura para fazer um trabalho de prevenção contra carrapatos”, rememora Romário Cerqueira. Ele conta que a morte do superintendente de Vigilância Sanitária do município do Rio de Janeiro, Fernando Villas Boas Filho, vítima de febre maculosa, doença transmitida por carrapatos, acendeu o sinal de alerta: a cidade também precisava se preparar no aspecto sanitário para receber o evento. “Percebemos que a prevenção e o controle de pragas no ambiente de realização das provas eram importantes, porque, além dos animais, os atletas e os turistas também corriam riscos”, afirma.

Para os Jogos ­Pan-americanos de 2007, a equipe de veterinários e engenheiros agrônomos realizou trabalho focado no controle dos carrapatos nos animais e no ambiente. “Foram mais de 12 mil banhos com carrapaticidas, durante um ano e meio. Houve também tratamento no campo, com a instalação de armadilhas de gelo seco para detectar e eliminar carrapatos”, relata o professor, que encontrou três espécies do parasita na Escola de Equitação: uma que se aloja no corpo do cavalo, vetor da febre maculosa brasileira, outra que fica em sua orelha e o carrapato de boi, uma vez que no local também havia bovinos. “O controle dessas pragas impede a introdução de agentes causadores de doenças que poderiam afetar os quase sete milhões de equídeos brasileiros e para garantir uma estada sanitária tranquila para os animais atletas de outras nacionalidades”, afirma o professor. Entre as doenças que mais preocupam as autoridades sanitárias brasileiras e que estão no foco do trabalho preventivo da Escola de Veterinária, estão as babesioses equinas, tidas como os principais impedimentos para o trânsito internacional de cavalos.

Em 2011, a equipe do professor Romário foi novamente convocada, dessa vez para os Jogos Mundiais Militares. “Foi um sucesso. Assim como no Pan, não houve qualquer registro de doença e evitamos a entrada de animais contaminados do exterior. Todo cavalo que chegava ao aeroporto já entrava no caminhão e era encaminhado até a Vila Militar para receber a medicação preventiva”, explica.

Para as Olimpíadas, a equipe do professor Romário passou a dar atenção a outras pragas, como ratos, moscas, abelhas, pernilongos e pombos, o que representa uma novidade em eventos desse porte. A intenção é de que a tecnologia desenvolvida seja transferida aos militares para que continuem as atividades de monitoramento mesmo após os eventos esportivos. “Fazemos um controle sanitário integrado e permanente. Estamos comprando todos os equipamentos, desenvolvendo habilidades de controle e transferindo todas as técnicas aos militares”, diz.

Ineditismo nos trópicos

O trabalho, que começou com o controle sanitário de pragas, ganhou nova dimensão. Depois de observar que os cavalos que competiam em pistas de países tropicais estavam mais sujeitos a lesões no aparelho locomotor, em razão da maior dureza do solo, a equipe começou a pesquisar tecnologia para possibilitar a construção de uma pista de cross country em conformidade com as exigências internacionais.

Devido às condições climáticas, as pistas de hipismo no Brasil têm como substrato um solo mais seco e duro. Nos países temperados, onde os terrenos são mais férteis, ocorre uma mineralização mais lenta da matéria orgânica, deixando o terreno naturalmente mais macio e propício às atividades hípicas. “Uma pista mal preparada causa lesões nos cavalos. Criamos uma área experimental com vários tipos de piso para testes. Estamos construindo a pista que vai ser usada nas Olimpíadas, consolidando informações de solo, grama e irrigação. Trata-se de conhecimento inédito”, garante o professor Romário Cerqueira Leite.