Busca no site da UFMG

Nº 1911 - Ano 41
06.07.2015

y

Seu Salu tem um sítio

Para aproximar crianças das tradições da agricultura familiar, programa de extensão do Instituto de Ciências Agrárias recria ambiente rural em Montes Claros

Jeisy Monteiro

Em Montes Claros, onde está localizado o Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da UFMG, é expressiva a comunidade de agricultores urbanos que dominam técnicas de cultivo e uso dos produtos nativos do Norte de Minas Gerais. Esses conhecimentos tradicionais, entretanto, nem sempre são valorizados, e boa parte das crianças que hoje vivem na cidade não tem com o campo a mesma familiaridade de gerações anteriores.

Um elo entre agricultores e estudantes do ensino fundamental vem sendo estabelecido no campus Montes Claros pelo Sítio de Saluzinho, unidade com dois hectares de terra formada por réplicas de casas de lavradores, pomares e plantações. Nesse ambiente, agricultores da região ministram oficinas. “Nós nos encarregamos de procurar essas pessoas [os agricultores] e conversar sobre a proposta. Eles vão ao campus e lá passam uma manhã ou uma tarde conduzindo oficinas sobre temperos, lavoura e plantas medicinais”, exemplifica o professor Eduardo Magalhães Ribeiro, um dos coordenadores da iniciativa.

Aberto em 2014, o Sítio já havia recebido, até maio deste ano, 2.500 crianças da rede pública urbana de Montes Claros para as jornadas de quatro oficinas de 30 minutos cada. O agricultor escolhe a metodologia que julgar conveniente. Em conversas com os estudantes e em demonstrações de técnicas de cultivo, já foram abordados temas relacionados a vários tipos de plantas: do cerrado, medicinais, de uso cotidiano na alimentação, na conservação das águas e da terra e aquelas que servem como tempero.

Seis bolsistas de pesquisa e extensão apoiam os agricultores na tarefa de ministrar as oficinas e, às vezes, conduzem algumas delas. “Já oferecemos oficinas sobre mata ciliar, uso e conservação da água, reciclagem e alimentação saudável”, enumera Ana Luiza Tauffer Caldas, aluna do 7º período do curso de Engenharia Florestal. “Examinamos o tema dentro da proposta do projeto, pesquisamos, procuramos os agricultores para darem sugestões e enriquecemos o trabalho com os conhecimentos que adquirimos em sala de aula”, explica a estudante.

Depois da fase de demonstrações, as crianças participam de atividade prática com a mesma temática. Na oficina sobre as matas ciliares, por exemplo, elas se reuniram para montar dois quebra-cabeças com imagens contrastantes de paisagens com e sem a mata preservada. No entanto, as discussões sobre os conteúdos não acabam quando os estudantes saem do campus. “Já ouvimos professor relatando que uma visita ao Sítio de Saluzinho rende assunto para dois meses de aula por causa das abordagens nas áreas de ciências, geografia e cultura”, afirma Eduardo Magalhães Ribeiro. Os conteúdos das oficinas coincidem com alguns assuntos do percurso curricular do ensino fundamental, como alimentação saudável e ciclos de germinação.

Lição no lanche

No Sítio de Saluzinho, são aproveitadas todas as oportunidades para aproximar as crianças da agricultura regional. Na hora da merenda, quando costumam abrir as lancheiras repletas de produtos industrializados, outra lição começa: no Sítio são servidas quitandas e sucos feitos artesanalmente a partir de frutas nativas da região.

As 400 crianças que, todos os meses, visitam o Sítio de Saluzinho participam efetivamente da construção do formato do projeto. “Faz-se uma avaliação diária, e os estudantes e professores da rede de ensino fundamental se manifestam sobre o que pode melhorar e o que foi bom. E temos recebido retornos muito criativos”, informa Eduardo Magalhães.

Uma das sugestões incorporadas foi a ampliação dos temas abordados durante a visita, que dura 120 minutos. Antes, havia duas oficinas de 60 minutos; agora, são quatro assuntos abordados em 30 minutos. Outra ideia das crianças, também acatada, foi a implantação de uma oficina de cerâmica.

Na avaliação da bolsista Ana Luiza, o objetivo do programa, que é o de estreitar os laços da nova geração com a agricultura familiar e local, é alcançado com êxito. Além de se sentir contagiada pelo entusiasmo e curiosidade demonstrados pelas crianças, a estudante relata que também aprende muito com o trabalho no Sítio de Saluzinho.

“A troca de experiência com as crianças e os agricultores, que compartilham informações sobre as técnicas regionais, acrescenta muito à nossa formação”, diz.

O programa é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) por meio de editais de apoio à alimentação saudável e à valorização da cultura.