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A Quarentena mais produtiva da história

 

Vivemos, desde o começo de 2020, uma grande crise de saúde mundial devido à pandemia da COVID-19, doença provocada pelo novo coronavírus. Na maioria dos países, serviços não essenciais foram temporariamente suspensos e o distanciamento social foi implementado como forma de reduzir a velocidade do contágio e o colapso dos serviços de saúde. Com o fechamento de escolas e faculdades, a vida dos estudantes ao redor do mundo foi particularmente afetada. Isso nos remete à história de um jovem do século XVII que, durante uma quarentena, apesar das dificuldades impostas pela doença, mudou o rumo da ciência para sempre. 

 

A Grande Praga

Na segunda metade do século XVII, em 1665 e 1666, Londres registrou milhares de mortes em decorrência da Grande Praga, uma epidemia de peste bubônica que afetou a Inglaterra. Como na época não existiam procedimentos médicos capazes de interromper a disseminação de uma doença contagiosa, quem vivia em grandes centros urbanos tinha mais chances de contraí-la. Portanto, tanto Londres como as cidades próximas tiveram uma grande evasão de pessoas, que procuraram refúgio em regiões campestres e menos habitadas para viverem a quarentena. Com isso, diversas instituições de ensino decidiram fechar as suas portas até que a Grande Praga acabasse, incluindo o Trinity College da Universidade de Cambridge, que enviou para casa todos os seus frequentadores, incluindo um jovem rapaz de 23 anos de idade, chamado Isaac Newton.

 

 

A quarentena de Newton

Poucos meses após receber o seu diploma de graduação, Newton foi obrigado a suspender os seus estudos e voltar para Woolsthorpe, o vilarejo onde sua família morava. Foi lá que ele morou por aproximadamente um ano e meio, até poder regressar para Cambridge e seguir com a sua carreira acadêmica.

 

 

Mas se engana quem pensa que ele não aproveitou esse período de uma maneira produtiva. Durante a reclusão, a criatividade de Newton floresceu de maneira extraordinária. Sozinho, ele produziu trabalhos inéditos nas áreas da Matemática e da Física que revolucionaram diversas áreas da ciência da época. A sua incrível produção intelectual foi tamanha, que até ele mesmo reconheceu esse fato. Existe um relato pessoal, de 1710, dizendo que, durante a época da quarentena, ele estava no auge de sua fase de invenção e que se interessava pela Matemática e pela “Filosofia Natural” mais do que em qualquer ocasião posterior.

 

Grandes avanços na Matemática

Foi justamente nesse período em que viveu isolado que Newton desenvolveu os principais conceitos sobre o Cálculo Diferencial e Integral e produziu um tratado onde constam as principais ideias da Teoria das Fluxões. Também na área de Matemática ele desenvolveu o Método das Séries Infinitas e o Binômio “de Newton”

 

Revolução na Física

Já na área da Física, Newton realizou grandes estudos de Ótica, ao elaborar a Teoria das Cores. Dentro de seu próprio quarto e utilizando instrumentos simples, ele promoveu experimentos de tamanha precisão que até hoje são reproduzidos, por sua relevância. Em um deles, Newton fez um pequeno buraco na persiana da sua janela, de maneira que apenas um pequeno feixe de luz entrasse no quarto e atravessasse dois prismas, decompondo a luz do Sol nas cores do arco-íris. Com isso, ele pôde calcular o ângulo de refração de cada cor e chegar à conclusão que a luz branca é a somatória de todas as outras cores. 

 

 

Foi também durante a quarentena que Newton elaborou as primeiras ideias sobre a Teoria da Gravitação Universal, contribuindo com os conhecimentos sobre a Mecânica Celeste da época. Apesar de realmente existir uma macieira próxima à sua casa, a história de que uma maçã o atingiu na cabeça e então ele teve a ideia sobre a Gravidade é provavelmente fictícia. O que não é falso é a quantidade de trabalho que ele teve para desenvolver essa teoria, uma vez que foi publicada apenas no ano de 1687, no famoso livro Os Princípios Matemáticos da Filosofia Natural.

 

 

Ano Miraculoso de Newton

A enorme quantidade de descobertas científicas que o ilustre estudioso fez durante esse período foi tão grande, que o ano de 1666 ficou conhecido como Annus Mirabilis de Newton. Essa é uma expressão em Latim, cujo significado é Ano Miraculoso. Além dele, apenas um outro físico teve um Ano Miraculoso: Albert Einstein, em 1905. 

 

 

 

 

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[Texto de autoria de Cristiano Friedlaender, estagiário do Núcleo de Astronomia]