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A Importância dos Tardígrados para as Missões Espaciais

15 de março de 2022

 

Não é de hoje que pensamos em colonizar o Sistema Solar. O sonho de estar presente no universo nos fez criar robôs exploradores com informações sobre a humanidade e a Terra. São exemplos desses exploradores as sondas Pioneer, Voyagers e o lender Beresheet, sendo que o último foi além de mostrar nossa cultura e nossa fauna e flora, ele levava consigo cerca de 30 milhões de tardígrados desidratados.

 

O lender Beresheet, de origem israelense, foi enviado à Lua após passar dois meses em órbita da Terra. No dia 04 de abril de 2019 o lender iniciou a órbita em volta do nosso satélite e no dia 11 de abril tentou pouso, mas sem sucesso. O primeiro lender de iniciativa privada se chocou com a Lua, tornando o experimento controlado com tardígrados na Lua uma possível poluição do satélite. 

 

Representação 3D de um tardigrado com sua pernas e patas habilidosas © Getty Images

 

Por que foram levados tardígrados para a Lua?

 

Inicialmente precisamos entender que os tardígrados são seres microscópicos, que apesar de viverem em locais úmidos, como o musgo, podem sobreviver longos períodos na ausência de água. Nessa situação, eles entram em um estado de hibernação nomeado criptobiose, em que o seu corpo é desidratado e assim produz um revestimento extra. A desidratação reduz o metabolismo do tardígrado, inibindo as reações que o levariam à morte. Desidratados, eles permanecem em criptobiose por anos até que tenham contato novamente com a água. Devido a essa capacidade, eles podem sobreviver a condições extremas, como o vácuo e temperaturas que podem variar de -270 °C a 150 °C, semelhantes às de extinção em massa de inúmeras espécies e populações. De acordo com o professor da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara, Joel Rothman, “os efeitos de viagens tão longas na biologia animal podem ser extrapolados para efeitos potenciais em humanos”. 

 

Tardígrados: terráqueos ou extraterrestres?

 

A panspermia é a teoria que defende que a vida na Terra foi trazida por corpos de fora como meteoros, ou seja, defende que o início da vida no nosso planeta é alienígena. Devido a capacidade dos tardígrados em sobreviver em locais inóspitos, algumas pessoas defendem que os tardígrados tenham origem extraterrestre, mas a pesquisadora da Universidade Rural de Pernambuco, Célia Rocha, afirma que é impossível que o tardígrado tenha origem extraterrestre, pois toda a história evolutiva deles, incluindo inúmeros  registros fósseis, está documentada como uma existência desenvolvida no planeta Terra. 

 

Outras missões envolvendo tardígrados

 

No início de junho de 2021, a SpaceX levou à Estação Espacial Internacional (ISS), durante a missão de reabastecimento de carga, 5.000 tardígrados para experimentos em microgravidade que incluem o aumento da exposição à radiação. Os tardígrados já têm seu genoma sequenciado, e é com base em sua expressão gênica que será observado como esses seres são afetados por diferentes condições ambientais. Esses estudos poderiam revelar, por exemplo, que os tardígrados estão produzindo muitos antioxidantes para ajudar a combater o nível de radiação que estão experimentando. Isso poderia dizer aos pesquisadores que os astronautas precisam comer uma dieta mais rica em antioxidantes.

 

Em novembro de 2021 foi publicado um artigo na Angewandte Chemie sobre proteínas exclusivas dos tardígrados que formam géis constituídos de fibras de maneira fortemente dependente da temperatura. Os mecanismos moleculares que conferem essa resistência incomum ao estresse físico permanecem desconhecidos, mas estudos sobre esses organismos em laboratórios na Terra ou no espaço podem contribuir, entre outras áreas, com as futuras missões espaciais.

 

[Texto de autoria de Aline Ribeiro, estagiária do Núcleo de Astronomia.]

 

Para saber mais:

Artigo do estudo da proteína do tardígrado

O incrível Tardígrado, reportagem da Globo no Fantástico

O que aconteceu com o beresheet? 

Site da SpaceIL / aba Beresheet: 

Tartígrado-UFMG

Tartígrados na Lua

Tartígrados e lulas bebes no espaço para testes