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A primeira mulher negra que dançou no espaço

29 de novembro de 2022

 

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Como muitas crianças que cresceram em Chicago, Mae Carol Jemison sonhava em ser tantas coisas como designer, arquiteta, cientista, dançarina e também astronauta. Desde jovem ela era obcecada em admirar as estrelas, imaginando que um dia viajaria até elas e exploraria seus mistérios; nessa idade ela também estudou todas as missões espaciais que tinham acontecido até então, além das que viriam a acontecer, e nesses estudos ela percebeu uma coisa que a deixou profundamente incomodada: os astronautas eram em suma maioria homens brancos.

 

Em 1992, com trinta e seis anos de idade, a Doutora Mae Jemison realizou seu sonho e se tornou a primeira mulher negra a viajar para o espaço na missão STS-47 que durou oito dias. Hoje falaremos da história dessa mulher extraordinária que serve como símbolo para a luta de meninas e mulheres negras.

 

Mae Jemison em órbita da Terra na missão Enterprise (Créditos: NASA)

 

Mae Jemison nasceu em 1956 na cidade de Decatur, no estado de Alabama, nos Estados Unidos. Filha caçula de um carpinteiro e faz tudo de uma organização sem fins lucrativos, e de uma professora de inglês do primário, ela cresceu ouvindo que seus sonhos de ir ao espaço eram loucura, ou fora de sua realidade, afinal, era uma mulher negra em um país extremamente segregacionista. Porém, não deixou se abalar e decidiu, ainda jovem, que um dia conheceria o espaço de perto, assim como a Tenente Uhura, interpretada por Nichelle Nichols, uma das personagens principais da série televisiva de ficção científica Star Trek que desde os anos 60 revolucionou a ficção científica ao mostrar orgulhosamente a diversidade da espécie humana na tripulação da fantástica Enterprise. 

 

Além de sonhar com as estrelas, Mae também tinha um enorme apreço pela dança. Segundo ela, a dança é uma forma de explorar o mundo fisicamente. Em seu último ano do ensino médio, ela teve de decidir entre a faculdade de medicina ou a carreira de dança profissional. Guiada pelos conselhos de sua mãe, que dizia “você ainda pode dançar se for uma médica, mas não pode ser uma médica se for dançarina.” ela seguiu a carreira médica. 

 

Aos dezesseis anos ela se formou no ensino médio e recebeu uma bolsa de estudos da Universidade de Stanford, uma das mais requisitadas dos EUA, e lá se formou em engenharia química e também em estudos afro-americanos. Após isso, ela ainda se formou em 1981 na escola de medicina da Cornell.

 

Após a graduação em medicina, Mae atuou como voluntária em campos de refugiados cambojanos na Tailândia, fez parte da equipe médica das Forças da Paz na Serra Leoa e na Libéria. Lá ela escreveu manuais de autocuidados, atuou nas pesquisas para desenvolvimento de vacinas contra hepatite B, atuou em campo como médica, além de ter desenvolvido diretrizes para o trabalho voluntário na área de saúde dos EUA. Tudo isso com apenas 27 anos de idade!

 

Mesmo após esses anos atuando fora do país em trabalhos voluntários e oferecendo assistência médica para várias pessoas, ela não pôde esquecer de seu sonho de ir para o espaço. Então, após dois anos fora dos EUA, retornou para casa e começou a estudar engenharia, ao mesmo tempo em que trabalhava na CIGNA, empresa de saúde estadunidense. 

 

Em 1985, Mae se candidatou para o programa de astronautas da NASA e, junto a outras 14 pessoas, foi escolhida dentre outros 2000 candidatos para a formação e treino de astronautas. 

 

Tripulantes da missão STS-47 (Créditos: NASA)

 

Após sete anos de formação e treinamento, no dia doze de setembro de 1992, a finalmente astronauta  estava a bordo da missão STS-47, que ficou em órbita por oito dias. Lá ela supervisionou estudos sobre o comportamento de girinos no espaço, além de ter analisado as células ósseas de seus companheiros durante o voo. À bordo da missão,  trouxe um poster da bailarina negra Judith Jamison, uma estátua bundu e também uma insígnia da primeira irmandade de universitárias afro-americanas, objetos esses que, segundo a mesma, representavam pessoas que nem sempre são incluídas. 

 

De volta à Terra, a astronauta dedicou seus esforços em pesquisas que buscavam relacionar tecnologias avançadas com a vida de pessoas comuns. Para isso fundou várias organizações de pesquisa científica e inclusão social como o Jemison Group. Atualmente, ela lidera uma organização que busca levar a humanidade para além de nosso sistema solar nos próximos 100 anos, chamada 100 years starship. 

 

Em 1993, Mae realizou outro sonho quando fez uma participação especial na série Star Trek: Nova geração, sucessora da série que a inspirou muitos anos antes e também conheceu Nichelle Nichols, a atriz que deu vida para a personagem Tenente Uhura, que inspirou Mae anos antes e continua inspirando meninas negras que compartilham desse mesmo sonho.

 

Créditos: NASA

 

E mesmo após viajar para o espaço, cruzar o mundo como médica voluntária e pesquisadora, organizar e criar organizações pró-ciência e buscar sempre a inclusão de pessoas menos favorecidas, Mae Carol Jemison nunca deixou de dançar.

 

[Texto de autoria de Gabriel Barcelos, graduando em Jornalismo e bolsista de som no Núcleo de Comunicação e Design]