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Como se guiar pelos astros

Conheça maneiras de se orientar por meio do céu noturno!

 

16 de abril de 2024

 

Em uma era antes da tecnologia moderna, as estrelas eram a principal ferramenta para achar as direções. Saber ler os céus era uma habilidade essencial para qualquer navegador, comerciante, aventureiro e viajante. Na atualidade, essa foi uma habilidade que acabamos perdendo devido ao surgimento de novas tecnologias. No entanto, saber encontrar as direções de qualquer lugar do mundo é um conhecimento que sempre será útil. Afinal, satélites e celulares podem parar de funcionar ou estragar, mas as estrelas nunca irão parar de brilhar e de nos indicar o caminho. Os próprios astronautas da Apollo levaram sextantes, instrumentos usados por navegadores desde o século XVIII, a bordo de suas missões.

 

Astronautas da Apollo XVIII com um sextante, em 1970. (Créditos: NASA).

 

Para descobrir como se orientar através das estrelas, é necessário escolher um cenário, sem a tecnologia de GPS, em que vamos precisar desse conhecimento. Para isso, nosso único limite se torna a imaginação: podemos nos imaginar como piratas, perdidos em alto mar e sem nenhuma bússola… astronautas da Estação Espacial que tiveram que fazer um pouso de emergência na Terra… ou até mesmo sobreviventes em um apocalipse zumbi que precisam viajar de noite para não atrair os mortos-vivos.

 

O próximo passo é identificar o Hemisfério no qual estamos. Para isso, podemos usar as constelações. Se olharmos para o céu noturno e identificarmos as quatro estrelas criando o padrão de uma cruz, acompanhada por duas estrelas brilhantes à sua esquerda, estamos provavelmente na região Sul do mundo e esta é a constelação do Cruzeiro do Sul, com suas duas guardiãs, Alpha e Beta Centauri. É importante saber que o Cruzeiro do Sul não aponta necessariamente para o Sul geográfico, mas sim para o ponto que conhecemos como Pólo Sul Celeste. Essa é a região do nosso céu que se alinha com o eixo de rotação da Terra, o que faz com que pareça não se mover, e que serve como um ponto de referência, no qual todas as demais estrelas do céu giram à sua volta.

 

Como achar o Sul por meio da constelação do Cruzeiro. (Créditos: BASE Magazine).

 

Para acharmos o Sul celeste, iremos considerar a altura do braço principal do Cruzeiro, no sentido do topo para a base da cruz, e estender esse braço aproximadamente quatro vezes e meia. Quando terminarmos de fazer esse alongamento, o ponto no céu em que pararmos será o Sul celeste. Então, basta descer em linha reta, em direção ao horizonte, e estaremos apontando para o Sul Geográfico (como pode ser visto na ilustração acima, no ponto onde as linhas brancas e amarelas se encontram). Se acharmos o Sul e olharmos para essa direção, o Norte estará às nossas costas, o Leste à nossa esquerda e o Oeste à nossa direita. Assim, já podemos escolher corretamente alguma direção para seguir.

 

Contudo, se olharmos para o céu e não acharmos o Cruzeiro do Sul é porque muito provavelmente estamos no Hemisfério Norte. Nesse caso, é necessário buscar uma constelação completamente diferente, a Ursa Menor. Conhecida também como a pequena concha ou pequena colher, essa constelação é sempre acompanhada pela Ursa Maior, ou grande concha. Ao olharmos para o céu do Hemisfério Norte, iremos encontrar estes dois desenhos muito parecidos e próximos um do outro. Dentro da constelação da Ursa Menor há uma estrela extremamente útil para a navegação: Polaris, que se alinha quase perfeitamente com o Polo Norte Celeste.

 

Ursa Maior e Ursa Menor indicando Polaris. (Créditos: VailDaily).

 

Para a encontrar, iremos procurar pela ponta da cauda da Ursa Menor ou o fim da haste da colher. É uma estrela muito identificável devido ao seu brilho intenso. Feito isso, estaremos virados para o Norte, com o Sul às nossas costas, o Leste à nossa direita e o Oeste à nossa esquerda.

 

Para determinar o Hemisfério em que estamos também é possível buscar pela Lua cheia. Devido ao formato redondo da Terra, a Lua acaba sendo vista de “cabeça para baixo”, dependendo de onde estamos no nosso globo. Se estivermos no Hemisfério Norte, as manchas da superfície da Lua se concentram mais na parte superior. Caso estejamos no Hemisfério Sul, aparecem mais manchas na parte inferior do nosso satélite natural.

 

Fases da Lua vistas a partir do Hemisfério Norte e Sul. (Créditos: The Open University).

 

A Lua também pode ser usada para nos apontar as direções, pois, assim como o Sol, ela nasce no Leste e se põe no Oeste. Se conseguirmos observar em qual ponto ela começa a se erguer acima do horizonte, é possível identificar o Leste. Se observarmos ela indo para abaixo do horizonte, descobriremos a direção Oeste. Mais além, se soubermos a fase em que a Lua se encontra, nem precisamos esperá-la se mover para saber as direções, pois a Lua crescente sempre aponta com seu lado iluminado para o Oeste e a Lua minguante, para o Leste.

 

Podemos também recorrer à constelação de Órion para achar as direções. Mais precisamente, podemos usar uma das estrelas do cinturão de Órion, aquela que é a primeira a subir acima do horizonte e a primeira a se pôr, chamada “Mintaka”.

 

Órion visto do Hemisfério Norte. (Créditos: EarthSky).

 

O cinturão de Órion, que é conhecido também como as Três Marias, pode ser visto em praticamente todo o planeta. Essa estrela sempre se encontra a no máximo um grau de distância do Leste e do Oeste geográficos, ao seu nascer e pôr, sendo ainda mais precisa do que a Lua para encontrarmos tais direções.

 

Mas caso você se encontre em uma noite sem Lua, na qual não consiga identificar nenhuma dessas constelações, ainda é possível achar as direções com apenas dois gravetos. Para isso, basta cravá-los no chão, a mais ou menos um metro de distância um do outro. Depois, é necessário se deitar próximo a um deles, lembrando que o graveto que estiver mais distante deve estar um pouco mais elevado que o outro. Alinhe ambos com qualquer estrela usando sua visão e apenas observe o que vai acontecer com a estrela escolhida: se ela subir, é porque você está olhando para o Leste e se ela descer, Oeste. Caso a estrela se mova para a esquerda, você está olhando para o Norte e para a direita, você está olhando para o Sul. Se o movimento for uma combinação de movimento vertical e horizontal, você está olhando para alguma subdireção, como Noroeste ou Sudeste. A vantagem deste método é que ele acaba sendo útil para identificar direções além dos pontos cardeais.

 

Os astros também podem ser usados para calcular as nossas coordenadas no planeta Terra, medir distâncias entre pontos do nosso planeta e até mesmo medir a velocidade com a qual viajamos. Entretanto, todas estas possibilidades requerem um certo nível de proficiência matemática que foge do nosso objetivo aqui. Afinal, queremos apenas garantir que você, caro leitor, saiba identificar de qual direção os zumbis estão vindo, no caso do fim do mundo, ou que possa achar o caminho para fora de uma floresta desconhecida e até traçar uma rota para o próximo tesouro que sua aventura de pirata te leve a encontrar.

 

[Texto de autoria de Thiago Araújo, estagiário no Núcleo de Astronomia do Espaço do Conhecimento UFMG]

 

Referências

Aprenda a se orientar pelos astros

How accurate is celestial navigation compared to GPS

How to navigate by the Stars

Navigating by Stars

Navigating Space

Moon Questions and Answers