De onde vieram as luzes de Natal? – Espaço do Conhecimento UFMG
 
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De onde vieram as luzes de Natal?

22 de dezembro de 2022

 

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Dezembro é, de várias formas, um mês muito bonito. As praças ficam cheias de pessoas ansiosas para ver as luzes, tirar fotos com os enfeites extravagantes, a casa se enche com o perfume da farofa e do pernil que sai do forno depois de horas em fogo médio… É a época quando lambemos os dedos com o caramelo da rabanada e sentimos aquele encanto natalino. 

 

Para marcar o fim de 2022, neste texto do Blog do Espaço falaremos de algumas curiosidades sobre tradições natalinas como a árvore de natal e também as luzes que iluminam as noites das cidades neste fim de ano. 

 

 Praça da Liberdade em 2022 – Foto: Fred Magno / O TEMPO

 

Talvez você não saiba, mas o natal vem de várias celebrações comemoradas há séculos ao redor do mundo. Apesar de associarmos hoje em dia a data com o nascimento de Cristo, na verdade o feriado é uma adaptação cristã de diversas festas e rituais pagãos, com influências gregas e também nórdicas. Vários povos e culturas tinham o costume de festejar os ciclos naturais do planeta como solstícios e equinócios e muitos desses eventos eram regados com presentes, árvores enfeitadas com pinhas, ramos verdes e também muitas luzes iluminando noites frias do inverno.

 

Povos celtas, germânicos e russos, por exemplo, tinham o costume de nos meses de dezembro, celebrar o Yule, uma festa de inverno cheia de bebida, canções, fogueiras e sacrifícios para os deuses em agradecimento ao ano que se passou e em desejo de prosperidade no ano seguinte. Nas festanças noturnas, várias piras eram acesas para espantar a escuridão e o frio na noite mais longa do ano e também para celebrar a volta dos dias mais longos. 

 

Outra festa bastante antiga que marcava a passagem do ano e a mudança das estações era a Saturnália, comemorada na Roma antiga. Nela, os cantos e orações eram dedicadas à Saturno, o deus da fertilidade e do tempo que trazia o renascimento da luz e do ano em um ciclo eterno. Na festa bastante carnavalesca, a ordem social e os estigmas eram invertidos, com homens e mulheres trocando seus papéis sociais e com presentes sendo trocados tanto entre si, quanto também dedicado aos deuses para seu agrado.

 

Saturnália – boas-vindas ao inverno

 

Havia também a festa do aniversário de Mitra, comemorada também pelos romanos no dia 25 de dezembro para festejar em homenagem ao renascimento do sol invicto, ou, Natalis Solis Invicti. 

 

Era costume de alguns povos erguer árvores em seus vilarejos, cidades e casas como um símbolo de fertilidade e prosperidade nessa época, além de também servirem como oferendas a seus deuses e afugentarem os maus espíritos que vinham com as trevas. Os primeiros registros de árvores de Natal parecidas com as que usamos hoje vem da Alemanha do século XVI em pequenos vilarejos e igrejas. Desde essa época, elas já eram enfeitadas com frutas, nozes, fitas e outros adornos para divertir a aparência do ambiente.

 

Outra tradição muito forte do Natal é, sem dúvidas, o culto quase despercebido pela luz. Por ter essa ligação com o solstício, quando a noite é mais longa do que o dia, era habitual acender várias velas, tochas e lanternas para enfrentar a escuridão. A luz trazia calor e simbolizava a esperança acesa nos corações e a vida nesses festivais. O fogo foi logo substituído por lâmpadas elétricas no início do século passado com a difusão da eletricidade nas casas do mundo inteiro, e a tradição se adaptou ao tempo e, como sabemos, persiste até hoje.

 

Hoje devemos essas celebrações à adaptação desses rituais pagãos pelo cristianismo crescente na Europa como forma de atrair fiéis na época de sua expansão. A data que marcava o renascimento de deuses solares, do ano, ou dos dias mais longos, se transformou no dia do nascimento de Jesus Cristo e, gradativamente, as celebrações de fim de ano foram arraigadas à cultura cristã, mas isso veio muito depois do real nascimento de Cristo.

 

Prova disso é que apenas em 449 o Papa Leão I consagrou o 25 de dezembro como nascimento oficial do Messias cristão e, quase um século depois, em 529, o imperador romano Justiniano declarou a data como feriado oficial do império.

 

Hoje, se enfeitamos nossas casas com lâmpadas enroladas em fios, globos de vidro, guirlandas com sinos e pequenos presépios, é por conta de uma herança muito ampla de culturas que se ramificaram e se mesclaram com o passar dos anos e o que conhecemos é o resultado da transformação do tempo. Mas, pagão ou cristão, pouco importa, pois o que torna essas datas especiais é realmente o encontro uns com os outros, a troca de gentilezas e do acolhimento entre todos nós. É uma época especial pois nos lembra que, mesmo sem lâmpadas coloridas enroladas em longos fios ou fogueiras quentes e acolhedoras, temos sempre de nos lembrar da esperança de um dia mais longo do que foi ontem.

 

[Texto de autoria de Gabriel Barcelos, graduando em Jornalismo e bolsista de som no Núcleo de Comunicação e Design]