Inaugurada no dia 19 de outubro de 2022, “Feito de folhas e penas” é a nova exposição de curta duração do Espaço do Conhecimento UFMG. Por meio do manto tupinambá, recriado por Glicéria Tupinambá e desenhos narrativas, de Japira Pataxó, convidamos o público a conhecer um pouco mais sobre os saberes tradicionais de seus povos.
Em diálogo com a Mundos Indígenas, exposição que acontece no 2º andar do Espaço do Conhecimento UFMG até 31 de janeiro de 2023, Feito de folhas e penas amplia a presença dos mundos indígenas, criando a situação de encontro entre duas pesquisadoras e artistas de grande importância para a manutenção e a divulgação dos saberes tradicionais de seus povos.
O eixo apresenta a história da volta do assojaba, o manto tupinambá, que foi recriado por Glicéria Tupinambá em diálogo com os Encantados, com as anciãs e com toda a comunidade dos vivos da Serra do Padeiro, na Bahia.
Como explica a artista da aldeia Serra do Padeiro, localizada na Terra Indígena Tupinambá de Olivença, no sul do Estado da Bahia: “O Assojaba representa pra nós, tupinambá, a revitalização da nossa cultura, a nossa língua, dos nossos fazeres e técnicas e, embora o manto tenha sido feito por mim, a confecção envolveu todas as pessoas da comunidade, das crianças aos anciões: na busca das penas, na coleta da cera de abelha tiúba e no ensino das técnicas de tecelagem por anciões da comunidade”. Glicéria participa da vida política e religiosa dos Tupinambá, sobretudo, em questões relacionadas à educação, à organização produtiva da aldeia e aos direitos das mulheres.
O manto em exposição no Espaço do Conhecimento UFMG foi confeccionado em 2020, partindo de uma base de cordão de algodão cru encerado com cera de abelha tiúba da aldeia, sobre a qual foram colocadas as penas. A base de algodão foi trançada seguindo a técnica de tecelagem do jereré, ferramenta de pesca utilizada pelos anciões da aldeia. A cor predominante é o marrom, e é composto de penas de aves nativas da região onde se encontra a aldeia: galinha, galo, gavião, pato, peru, pavão, tururim, sabiá-bico-de-osso, canário-da-mata, gavião-rei, gavião-perdiz e arará.
A confecção do manto traz saberes guardados pelas mulheres tupinambá: tecelagem, trançagem, uso de vários utensílios (principalmente a agulha de tucum) e preparação do cordão feito de algodão com cera de abelha.
Reúne desenhos e narrativas de Japira Pataxó, conhecida pelo manejo, catalogação e pelo reconhecimento do poder de cura das plantas e de outros seres, humanos e não humanos, que povoam os jardins ancestrais dos Pataxó no extremo sul da Bahia.
No eixo, a mestra Japira Pataxó registra os conhecimentos curativos, ecológicos, poéticos e históricos dos Pataxó, nunca antes descritos com tamanha profundidade desde uma perspectiva própria. Está tudo lá. “As coisas que estão nesta exposição fazem parte da minha história e de todos os que me acompanham também”, reforça a artista. Como explica a mestra Japira, “O conhecimento das plantas, saber o modo de colher as folhas e seus usos, como fazer os preparos e como usar eles, conhecer dos banhos, saber as ervas boas e as venenosas: tudo isso passou pelas gerações Pataxó. Os mais velhos passam isso para os mais novos, nem sempre explicando. É vivendo perto deles que esse conhecimento vai passando”. “Saberes dos matos Pataxó” reúne desenhos, pop cards, fotos e narrativas de Japira Pataxó.
Desde a infância, Japira Pataxó, que reside na Aldeia Pataxó Novos Guerreiros, na Bahia, é guardiã de saberes, educadora, formadora, líder política, xamã, curadora, condutora de cantos e danças e contadora de histórias de seu povo. Mestra da oralidade, Japira não faz uso da escrita alfabética e mesmo assim está entre os titulados com o reconhecimento do Notório Saber concedido pela UFMG, equivalente ao título acadêmico de Doutor. “Para mim as plantas são como um imã, elas mostram seus saberes e força para mim. O que eu aprendi sobre elas veio dos espíritos dos antepassados e das conversas com os mais velhos”, explica a mestra.
A abertura da exposição integrou a Semana do Conhecimento 2022 da UFMG, assim como a diplomação de 15 mestras, mestres e artistas do Notório Saber. A exposição Feito de folhas e penas: Saberes dos matos Pataxó & Assojaba Tupinambá segue aberta ao público até 04 de dezembro, de terça a domingo, das 10h às 17h (sábado das 10h às 21h).
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