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O boom da nostalgia

Como os jovens vêm retomando o passado, de forma cada vez mais intensa, mesmo não tendo vivido nele?

 

06 de fevereiro de 2024

 

A cada dia, testemunhamos mais e mais o retorno de elementos de sucesso das décadas passadas, seja por meio dos vinis, câmeras analógicas, estilos musicais ou formas de se vestir. O grande boom de brechós e a popularidade de imagens com aspecto analógico nas redes sociais ilustram como essa tendência vem se consolidando entre pessoas jovens. Mas como funciona a nostalgia de quem não vivenciou esses períodos? Pode parecer incomum, mas esse sentimento é mais frequente do que se imagina. 

 

A nostalgia das décadas passadas tem conquistado corações, em grande parte daqueles que não tiveram a chance de vivenciá-las. O conceito foi, inclusive, a palavra mais pesquisada em 2011, no Dicionário Priberam de Língua Portuguesa. Portanto, vamos explorar essa tendência e como ela influencia a sociedade atual e a forma de se relacionar com o mundo.

 

O que é a Nostalgia?

Nostalgia é um termo que se refere a um sentimento de carinho ou saudosismo por algo que aconteceu no passado. Seja uma lembrança específica, uma época da vida ou até mesmo uma cultura ou período histórico. A nostalgia frequentemente envolve uma sensação de apreço pelas lembranças e pode ser acompanhada por sentimentos de conforto e contentamento. O interessante é que, na atualidade, nota-se uma retomada de tendências do passado pelos jovens, que não possuem, necessariamente, memórias pessoais dessas épocas.

 

Mas por que a nostalgia das décadas anteriores é tão atraente para os jovens? Em parte, isso se deve à idealização do passado. As décadas passadas costumam ser vistas como tempos mais simples, cheios de autenticidade e genuinidade. Além disso, a cultura popular, por meio de filmes, séries, livros e as próprias mídias, frequentemente destaca elementos dessas épocas, criando uma conexão emocional com o público mais jovem.

 

Estudos sobre nostalgia e seus efeitos psicológicos e neurobiológicos têm sido conduzidos por pesquisadores em diversas áreas. Publicado na revista Social Cognitive and Affective Neuroscience, liderado por Constantine Sedikides e Tim Wildschut, um estudo examinou os efeitos da nostalgia na atividade cerebral usando ressonância magnética. Os resultados sugeriram que há uma certa interação entre as vias da memória e a sensação de recompensa produzida no cérebro em contato com o sentimento. 

 

Os próprios desafios que a população em geral tem enfrentado no mundo moderno, como a pandemia de covid-19 que trouxe consequências físicas, luto, adoecimento mental e desesperança, acentuaram a volta à “tempos mais simples” como um mecanismo de fuga.

 

Influências na Sociedade Atual

A nostalgia das décadas passadas não é apenas uma onda de saudosismo, ela tem influências significativas na sociedade contemporânea:

 

  • Moda e Estilo de Vida: Roupas, acessórios e penteados inspirados em décadas anteriores estão em alta. O estilo vintage e retrô é uma tendência dominante.

 

Christina Aguilera e Beyoncé utilizando bandanas. (Créditos: Reprodução/Instagram/Glamour).

 

  • Cultura Pop: Remakes de filmes, programas de TV e músicas antigas ganham destaque. 

 

A Bela e a Fera, 2017 e 1991. (Créditos: Reprodução/Dentro da Chaminé).

 

  • Tecnologia: A estética retrô é incorporada ao design de produtos e aplicativos, trazendo elementos do passado para o presente, com acréscimo de novos desenvolvimentos e funcionalidades atuais. Tecnologias do passado também têm sido resgatadas pelas novas gerações.

 

Celulares dobráveis, antigos e atuais. (Créditos: Reprodução/Samsung/Shutterstock/Olhar Digital).

 

A nostalgia é uma poderosa força cultural que ajuda a moldar a sociedade atual. Ela nos lembra que o passado pode ser uma fonte rica de inspiração e conexão emocional, até mesmo para aqueles que não viveram essas épocas.

 

Tecnologias de décadas anteriores em ascensão

Atualmente, os produtos tecnológicos vêm se desenvolvendo cada vez mais rápido. Os celulares nos últimos anos deram lugar às cybershots, utilizadas nos anos 2000 por inúmeros jovens. Isso porque, à medida que novas atualizações são lançadas, as câmeras dos celulares avançam e os aparelhos se tornam ainda mais versáteis, oferecendo uma gama maior de funcionalidades.

 

Câmera cybershot. (Créditos: Reprodução/Techtudo).

 

Há alguns anos se utilizava também aparelhos próprios para escutar música, como o Mp3 ou iPod, sendo necessário apenas um cartão de memória com a playlist salva. Também encontramos essa funcionalidade no celular e, ainda, sem precisar baixar as músicas para ouvir, já que existem aplicativos próprios para isso. 

 

Porém, mesmo com as novas tecnologias sendo capazes de substituir as “velhas”, a internet vem acompanhando essa onda nostálgica da volta do vintage. Por meio de vídeos no Tiktok, muitos adolescentes publicam fotos e vídeos feitos pelas cybershots, mostram customizações no aparelho, maneiras para descarregar as fotos tiradas e falam como conseguiram o aparelho, onde foi comprado ou encontrado. Muitos possuem as antigas câmeras perdidas em algum lugar de casa, já que há muito tempo não eram utilizadas. 

 

Na mesma linha das cybershots, as câmeras analógicas ganharam o coração de muitas pessoas. Tanto as mais simples quanto as mais profissionais são utilizadas para o registro de momentos especiais e também por quem quer fazer experimentações com a fotografia. Os filmes das câmeras analógicas possuem poucas poses e você nunca sabe exatamente como a foto ficou até revelá-la, uma experiência interessante e bem diferente do que todos estão acostumados na época do imediatismo. 

 

Os discos de vinil também vêm ganhando popularidade, através das coleções tanto de discos mais antigos, comprados em sebo ou simplesmente herdados da família, quanto de discos mais atuais, agora com alguns artistas lançando álbuns também em LP. A recuperação desta notoriedade pode ter relação com a experiência singular de ouvir música de uma forma mais significativa, transformando o escutar em um verdadeiro evento. O ritual de retirar o disco da embalagem e colocá-lo na vitrola proporciona uma experiência incomparável à reprodução digital, como no celular. 

 

À medida que abraçamos a nostalgia, percebemos como essa conexão transcende as gerações. Isso reflete não só a busca por autenticidade em um mundo de novidades, mas também a capacidade da memória cultural de unir pessoas. Essa celebração é uma busca constante pela identidade, conectando-nos com quem fomos e quem desejamos ser. E, assim, podemos notar como as tendências se tornam cíclicas em todas as dimensões. 

 

[Texto desenvolvido durante a disciplina de Produção de Conteúdo para Web, do Departamento de Comunicação Social da UFMG. Graduandos autores: Ana Clara Silva Mascarenhas, Eduardo Martins Cardoso, Letícia Rodrigues Ferreira, Luana de Oliveira Gomes e Maria Eduarda Cardoso da Silva]

 

Referências

Dicionário Priberam; Nostalgia.

Por que sentimos nostalgia?