Data: 15 de outubro de 2011
Local: Auditório da Escola de Música da UFMG

A crítica genética se origina na área de letras e, tal como a conceituam seus proponentes, é um método de enfoque da literatura que visa não a obra concluída, mas o processo da escrita. Neste sentido, trata-se de decifrar não o que o escritor queria dizer, mas o que ele disse. Mais ainda: trata-se de decifrar como se processou o que de fato ele disse.

Como crítica da gênese do processo criativo, a proposta da investigação aqui comentada é deslocar a crítica genética do território da literatura trazendo-a para a música. Busca-se demonstrar que é possível reencontrar os atos de criação de um compositor através dos traços que ele deixou atrás de si, como se mais uma vez o processo compositivo se desenrolasse em tempo real; busca-se redesenhar o movimento da mão sobre o papel, naquilo que ficou de traço da atividade compositiva feita momento a momento.

As etapas sucessivas da composição musical são testemunhadas pelas reescritas e pelas idas-e-vindas do pensamento do criador e sua análise é possibilitada pelos índices contidos no espaço gráfico do manuscrito, no dizer de Almuth Grésillon. Para essa pesquisadora, “os manuscritos não são textos terminados, mas sim rascunhos. Os avant-textes são em geral constituídos de unidades ‘in statu nascendi’, em vias de escritura”.

Os princípios da crítica genética têm sido apropriados pela área da composição musical principalmente em obras produzidas a partir da segunda metade do século passado. No Brasil, a incorporação dos princípios da crítica genética na música ainda é tímida. Neste sentido, o trabalho deste pesquisador coloca-se em paralelo a estudos de crítica genética desenvolvidos particularmente no Núcleo de Apoio à Pesquisa em Crítica Genética da USP e no Centro de Estudos de Crítica Genética da PUC/SP e pretende ampliar a abordagem em direção ao processo criativo em composição musical.

A composição musical, como processo de tomada de decisões, pode ser o seu próprio objeto de investigação. Nesta direção a crítica genética apresenta um procedimento científico viável, com seus princípios metodológicos que, se em princípio aplicados a outras áreas do conhecimento, pode ser transposto tal e qual para a música. Como mergulho na gênese do processo criativo através de suas evidências, a crítica genética em música pode investir de especificidade o estudo do processo de decisões que caracteriza o exercício da composição musical. Os seus pressupostos podem desvelar um processo, sempre único, através dos traços de diferentes ordens que o compositor foi deixando pelo caminho.

Palestrante: Professor Celso Gianenetti Loureiro Chaves – Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.

Debatedores: Professor Maria Zilda Cury – Falcudade de Letras da UFMG
Professor Flávio Terrigno Barbeitas – Escola de Música da UFMG.