Período da Residência: 04 de abril de 2022 e 03 de abril de 2023

Residente do IEAT, Fabio Bonfim é doutor em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (2003). De 2009 a 2010, atuou na Universidade de Massachusetts como professor visitante, período durante o qual desenvolveu atividades em projetos sobre morfossintaxe de línguas indígenas, sob a supervisão da professora Ellen Woolford. Em 2017, foi professor visitante na Universidade de Toronto, desenvolvendo pesquisa com bolsa de estágio sênior da Capes. Atualmente é professor associado 4 e vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos/Poslin da Faculdade de Letras da UFMG. Coordena vários projetos de pesquisas, tendo como objetivo o estudo da sintaxe de línguas indígenas brasileiras e de línguas africanas. Em suas pesquisas adota como suporte teórico, intuições da teoria tipológica e desenvolvimentos recentes da teoria gerativa. São interesses de pesquisa: o engatilhamento dos sistemas ergativos e dos sistemas cindidos, os quais são muito recorrentes nas línguas indígenas dos Troncos Tupí (Família Tupí-Guarani) e Macro-Jê(Famílias Jê e Maxacali). Além destes temas, tem atuado na investigação dos sistemas de marcação diferencial de objeto em línguas bantu, como a língua Changana, Rhonga, Shimaconde e Emakhwa, as quais são faladas em Moçambique. Além disto, coordena um projeto de documentação e descrição da língua Tentehar, cujo objetivo é a construção de uma gramática descritiva e a produção de material linguístico a ser utilizado nas escolas indígenas.


DIVERSIDADE LINGUÍSTICA NO BRASIL

A presente proposta justifica-se porque busca investigar aspectos da gramática de línguas minoritárias faladas no Brasil, no intuito de testar hipóteses teóricas que vêm sendo discutidas no âmbito da linguística descritiva e teórica. Outro objetivo é contribuir com o trabalho de descrição, documentação e revitalização dessas línguas, pois muitas estão seriamente ameaçadas de extinção. Conforme Krauss (1992), 90% das línguas do mundo podem desaparecer até o final do século XXI, situação que então justifica ações práticas e concretas no intuito de se conduzirem trabalhos científicos que ajudem a evitar o desaparecimento dessas línguas. Legère (2015), por sua vez, considera que existam no mundo cerca de 6500 línguas, sendo que dois terços dessas podem ser extintas até o final deste século. Já em relação à América do Sul, especialistas estimam que haja cerca de 500 línguas autóctones no continente. Dentre estas, estima-se que haja cerca de 420 línguas ameríndias em sério risco de desaparecimento seja devido à pressão que sofrem das línguas majoritárias seja pelo simples fato de o número de falantes nativos ser muito reduzido. Já em relação ao Brasil, Rodrigues (2013) afirma que ‘embora a maioria dos brasileiros tenha a impressão de viver num país monolíngue, o Brasil é na verdade uma nação multilíngue, pois são aprendidas como línguas maternas cerca de 180 línguas indígenas’. Supõe-se que a população indígena em 1500, quando da chegada dos portugueses ao continente, era de cerca de uns três a cinco milhões, de sorte que, em várias partes do Brasil, as populações indígenas eram muito mais densas, quando se comparam com os dados estatísticos atuais. Sabe-se, por exemplo, que, nas várzeas dos grandes rios amazônicos, assim como no litoral, viviam diversos grupos étnicos, tais como os índios Tapajós e os índios Kambeba, os quais foram totalmente extintos. A mesma situação se observa em relação aos índios Tupinambás que habitavam a faixa litorânea do território brasileiro. Dados etnográficos disponíveis apontam que os aldeamentos tupinambás compunham-se de uma população bastante elevada para a época e que se estendiam desde onde hoje situa o estado do Pará até o Rio de Janeiro. A exceção, todavia, era a divisa entre o Ceará e o Maranhão, a região da foz do rio Paraíba, a região limítrofe entre o sul da Bahia e o norte do Espírito Santo, tendo em conta que, nessas regiões, predominavam grupos étnicos pertencentes ao Tronco Macro-Jê. Em suma, são urgentes ações que promovam o trabalho de descrição e documentação das línguas indígenas faladas no Brasil, pois muitas estão seriamente ameaçadas de desaparecer. A expectativa é a de que este projeto contribua, de alguma maneira, para incrementarmos ainda mais os estudos científicos que venho desenvolvendo nos últimos vinte e cinco anos com as línguas minoritárias faladas no Brasil e na América do Sul. Dentre as línguas que vêm sendo investigadas no âmbito deste projeto, as línguas Maxacali, Ka’apor, Tembé, Guajajara, Terena, Chapakura, Apâniekra, Apinajé, Parkatejê, Gavião, Kuikuro, Katukina, dentre outras. Convido os leitores interessados sobre o tema a visitarem o portal www.letras.ufmg.br/portal_laliafro e www.letras.ufmg.br/fbonfim, em que se encontra parte da produção científica alcançada por mim e minha equipe nas últimas décadas sobre a gramática dessas línguas indígenas brasileiras.