Pesquisa da Farmácia Universitária mostra

que sobem as vendas de genéricos

Ana Carolina Fleury

m fevereiro deste ano, o lançamento dos remédios genéricos no mercado brasileiro foi motivo de alvoroço. Laboratórios, governo, donos de farmácias e população envolveram-se em intensas discussões sobre a eficácia da iniciativa na derrubada dos preços dos medicamentos. Passado o turbilhão inicial, pesquisa desenvolvida na Farmácia Universitária, que funciona na Faculdade de Farmácia, demonstra ascensão comercial dos genéricos entre janeiro e setembro de 2000. Coordenado pelas farmacêuticas Alba Valéria Souto Melo Moraes e Mariana Linhares Pereira, o estudo comparou a venda dos medicamentos genéricos, de referência e similares na Farmácia Universitária. "Observamos que a comercialização de genéricos superou em larga escala a dos outros dois tipos", afirma Alba.
Para realizar a pesquisa, as farmacêuticas selecionaram os dez medicamentos mais vendidos em setembro e construíram diversos gráficos representativos da evolução de suas vendas nos nove primeiros meses do ano. Foi feito também um levantamento dos respectivos preços, através da Revista ABCFarma. De acordo com Alba Moraes, as razões do crescimento surpreendente da venda dos genéricos estão ligadas não só aos preços baixos, mas também à confiança que eles inspiraram no consumidor. "A Farmácia Universitária se comprometeu a apoiar a campanha do governo pelo uso e divulgação dos genéricos. Disponibilizamos os produtos para venda assim que foram lançados e mantivemos os clientes informados sobre eles", diz a farmacêutica.

Alba Moraes ressalva, entretanto, que o empenho na divulgação e provimento de genéricos é uma realidade particular da Farmácia Universitária. Segundo ela, o crescimento da venda desse tipo de medicamento diminui o faturamento das drogarias, o que as desestimula a incentivar a venda de genéricos. "Mesmo assim, a indústria farmacêutica terá que repensar seus preços", raciocina.

A análise comparativa do desempenho comercial do genérico Maleato de enalapril com seu medicamento de referência Renitec, usado contra hipertensão arterial, é um bom exemplo da evolução de vendas. Em abril, o genérico chegou às prateleiras conquistando 25% dos consumidores. Naquela época, 16% preferiam o Renitec, e os similares abarcavam 59% do total de vendas. Em setembro, mês de levantamento dos dados, as pesquisadoras verificaram que o genérico conquistara ampla fatia do mercado, ficando com 58% das vendas, enquanto o de referência estava com apenas 6%. Os três similares existentes, somados, representavam 36% do comércio. A resposta para tanta velocidade na conquista do mercado pode ser medida, em parte, pelo cifrão. Para enfrentar sua doença, o hipertenso pode optar entre pagar R$ 36,87 e levar para casa o Renitec, ou R$ 15,97, na compra do genérico.

O fato de os genéricos estudados tomarem a parcela do mercado que pertencia aos medicamentos de referência e similares, e ainda ultrapassarem o número habitual de caixas vendidas, segundo Alba Moraes, pode revelar a deficiência do sistema de saúde. A farmacêutica acredita que muitas pessoas que não adquiriam os medicamentos por motivos financeiros, puderam, com a lei dos genéricos, ter acesso aos remédios dos quais precisavam.

 

Entenda as diferenças entre os tipos de remédios

Para quem ainda se confunde com os termos, uma breve explicação: os medicamentos de referência possuem um nome fantasia e são produtos cuja segurança, eficácia e qualidade já foram comprovadas cientificamente pela Vigilância Sanitária. Os genéricos são designados pelo nome de sua substância ativa, que é a mesma das drogas de referência, assim como a dose e a forma farmacêutica. Além disso, foram submetidos a estudos de biodisponibilidade e de bioequivalência, que permitem seu uso em substituição ao de referência. Já os similares contêm as mesmas características dos remédios de referência, mas não podem substituí-los, pois não passaram pelos testes. "Na farmácia, podemos trocar o de referência pelo genérico, mas não pelo similar. Apenas o médico que receitou o remédio pode autorizar essa substituição", frisa Alba Moraes.





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Nº 1304 - Ano 27 - 20.12.2000