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Nš 1496 - Ano 31
18.08.2005



Pensamento silencioso

Ciclo de conferências discute papel dos intelectuais em tempos de crise

Maurício Guilherme Silva Jr

ara Jean Paul Sartre (1905-1980), as angústias humanas diante da vida provêm, muitas vezes, da necessidade de realizar escolhas. O indivíduo não encontra paz nem mesmo ao decidir pela não-escolha. Afinal, a abstenção, em si, configura um posicionamento político. No ano do centenário de nascimento do pensador francês, intelectuais brasileiros, por iniciativa do Ministério da Cultura, se reunirão para discutir a aparente _ e angustiante _ paralisia da classe diante da crise contemporânea.

Em Belo Horizonte, o Centro Cultural UFMG será o palco, nos meses de agosto, setembro e outubro, do ciclo de palestras O silêncio dos intelectuais, primeiro evento de uma trilogia ligada ao projeto Cultura e pensamento em tempos de incerteza, financiado pela Petrobrás. A primeira fase da iniciativa acontece na capital mineira, em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Salvador. As discussões serão transmitidas, por videoconferência, para as principais universidades do País.

Grandes nomes do pensamento nacional participam da iniciativa, que retoma o ideal das ágoras gregas, espaço onde os cidadãos debatiam as questões da pólis, como forma de compreender a "perigosa" ausência de vozes intelectuais. Segundo seu organizador, o escritor Adauto Novaes, o ciclo buscará discutir, em primeiro lugar, as características específicas do intelectual, que lida com a construção do "pensamento desinteressado". Como exemplos de causas da distância dos pensadores em relação ao espaço público, Novaes cita a crise dos ideais universais, o relativismo e o ceticismo. "O intelectual perdeu a voz, em parte, devido ao relativismo que tomou conta da política e da cultura", completa.

Em extinção?

O ciclo será aberto oficialmente pelo ministro da Cultura, Gilberto Gil, no dia 22 de agosto, no Rio de Janeiro. A primeira conferência do evento, da professora Marilena Chauí, da USP, discute o tema Intelectual engajado, figura em extinção?. Até o dia 5 de outubro, em dias esparsos, haverá, nas quatro capitais brasileiras, apresentações de intelectuais como Franscisco de Oliveira, Marcelo Coelho, Franklin Leopoldo e Silva, Sérgio Paulo Rouanet, Jean-François Sirinelli, Newton Bignotto, Antônio Cícero, José Miguel Wisnik e Renato Janine Ribeiro. Para a diretora do Centro Cultural, professora Regina Helena Alves da Silva, o ciclo de conferências poderá ajudar os intelectuais a traçarem novos caminhos. "Precisamos sair de nossos muros tão bem guardados", ressalta a professora. Segundo Alfredo Manevy, assessor do Ministério da Cultura, o ciclo investe em algo vital para o país: o pensamento. "Os anos de autoritarismo nos deixaram defasagens sensíveis. É importante que as discussões intelectuais encontrem terreno para florescer", completa.

Mais informações sobre o projeto Cultura e pensamento em tempos de incerteza na página www.cultura.gov.br/foruns_de_cultura/cultura_e_pensamento/index.php.

O silêncio dos intelectuais em BH

Todas as conferências serão realizadas no Centro Cultural, sempre às 19 horas. Confira.

No silêncio do pensamento único: intelectuais e política no Brasil
Francisco de Oliveira - 24 de agosto

Contra as paixões políticas
Marcelo Coelho - 25 de agosto

Novo intelectual, nova classe?
Fernando Haddad - 26 de agosto

O imperativo ético de Sartre
Franklin Leopoldo e Silva -1o de setembro

O cientista e o intelectual
Renato Janine Ribeiro - 31 de agosto

A crise dos universais
Sérgio Paulo Rouanet 2 de setembro

Dilemas trágicos do intelectual
Francis Wolff - 14 de setembro

Marx, o jornalista e o espaço público
Géraldine Muhlmann - 15 de setembro

O peso das palavras
Michel Déguy - 16 de setembro

O pastor da noite
Jean-François Sirinelli - 21 de setembro

Intolerância religiosa e a morte de um intelectual
Newton Bignoto - 22 de setembro

A sedução relativa
Antônio Cícero - 23 de setembro

O silêncio dos céticos
Raimundo Maia Neto - 28 de setembro

Ave, palavra
Haquira Osakabe - 29 de setembro

Palavra sobre palavra
José Miguel Wisnik - 30 de setembro