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Nš 1496 - Ano 31
18.08.2005




O melhor amigo do homem (e da mulher)

Estudos sobre osteoporose em ratas ajudam a entender o comportamento
da doença no ser humano


                                                  Eber Faioli
Rogéria Serakides: prêmios com estudo sobre a doença em ratas
                                  

Flávia Camisasca

izem que o cão é o melhor amigo do homem. Mas para a ciência nenhum outro animal tem contribuído tanto para desvendar o comportamento de doenças que acometem o homem como o rato. Isso ficou comprovado mais uma vez pelo trabalho de um grupo de pesquisadores da Escola de Veterinária da UFMG que acaba de ganhar um prêmio da Revista Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia.

O estudo usa ratas como modelo para investigar a osteoporose, doença que, de acordo com a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, atinge uma entre três mulheres e um a cada oito homens acima de 50 anos, no mundo. "A rata tem sido o melhor modelo para observar o comportamento da osteoporose e compará-la com a osteoporose humana", afirma a professora Rogéria Serakides, da Escola de Veterinária.

Intitulada Efeito da associação hipotireoidismo-castração nos ossos e na paratireóide nas ratas adultas, a pesquisa relaciona duas doenças, a osteoporose e o hipotireoidismo, à menopausa. Sob a coordenação da professora Rogéria Serakides, foi desenvolvida por Ana Flávia de Carvalho Ribeiro, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Vera Alvarenga, professora aposentada da UFMG, e Natália de Melo Ocarino, doutoranda da UFMG.

O estudo induziu as ratas a um processo semelhante ao da menopausa. Com isso, chegou a resultados que ajudam a medicina a entender melhor o que acontece com as mulheres que estão na menopausa e que têm problemas na glândula tireóide. Rogéria explica que o hipotireoidismo causa a diminuição da massa óssea. "Quando associado à disfunção das gônadas (glândulas sexuais), o hipotireoidismo agrava o efeito da osteoporose", afirma Rogéria Serakides, para quem o estudo também tem o mérito de alertar as mulheres que chegam à menopausa para o diagnóstico do hipotireoidismo que, muitas vezes, não apresenta uma sintomatologia nítida.

Iniciação científica

Outra pesquisa sobre o assunto foi desenvolvida por alunas de iniciação científica. O trabalho Atividade física em ratas durante o crescimento causa osteoporose em ossos não-submetidos ao impacto mecânico direto ganhou o prêmio de artigo original no XII Encontro Nacional de Patologia Veterinária (Enapave), realizado na UFMG de 16 a 21 de junho.

A pesquisa trabalhou com dois grupos de 20 ratas wistar, sendo um de controle. No grupo testado, os animais foram submetidos, durante dois meses, a exercícios diários em esteira adaptada. Ao final do experimento, foram sacrificados para que se fizesse a histologia dos ossos.

Os resultados surpreenderam a professora Rogéria Serakides, que orientou o projeto. A pesquisadora explica que não esperava que ossos não-submetidos diretamente ao impacto da atividade física (como os das fossas nasais) tivessem perda de massa, enquanto aqueles envolvidos na atividade física (fêmur e tíbia) não apresentaram alterações. A razão disso ainda é um mistério para as pesquisadoras. "Só com este experimento não temos condições de responder", afirma a professora.

Mas há hipóteses. Uma delas é levantada pela própria cientista. "A exemplo do acontece na menopausa, há uma supressão do eixo hipófase-gônada, inibindo o GNRH, substância que estimula as gônadas a produzirem hormônios sexuais", diz Rogéria Serakides. Ela explica que, com essa supressão, o osso, provavelmente, não recebe estímulo dos hormônios sexuais, ocorrendo então uma osteoporose semelhante à verificada durante a menopausa. "Com a inibição do eixo hipófase-gônada, o ovário não produz progesterona e estrogênio, importantes na síntese de massa óssea", conclui a pesquisadora.

O que acontece com as "atletas roedoras" é uma osteoporose por deficiência de hormônios sexuais. Apesar de se manifestar de forma semelhante à da osteoporose da menopausa, a das ratas jovens ocorre por uma supressão momentânea das gônadas. O caso das ratas também guarda analogia com a situação humana. "Trata-se de mais um alerta às jovens mulheres. Excesso de atividade física pode causar efeitos deletérios nos ossos de indivíduos em fase de crescimento", afirma a professora.

Pesquisa: Efeito da associação hipotireoidismo-castração nos ossos e na paratireóide nas ratas adultas
Autores: Ana Flávia de Carvalho Ribeiro, Natália de Melo Ocarino, Rogéria Serakides, Vera Alvarenga Nunes
Financiamento: Fapemig

Pesquisa: Atividade física em ratas durante o crescimento causa osteoporose em ossos não-submetidos ao impacto mecânico direto.
Autores: Carolina Costa Rocha, Cristiane Guimarães e Lauana Borges Santiago
Orientadora: Rogéria Serakides
Financiamento: CNPq e Fapemig

Devido à falta de hormônios sexuais, a mulher está mais propensa à osteoporose durante a menopausa. Com o diagnóstico de hipotireoidismo, essa situação agrava-se, já que a síntese de massa óssea é ainda menor.