Busca no site da UFMG
Nš 1496 - Ano 31
18.08.2005



Um peso, várias medidas

Pesquisadora da Escola de Enfermagem propõe novos parâmetros
para diagnosticar a obesidade

Ana Paula Ferreira

uando deseja saber se está acima do peso, a mulher, além do
espelho e da avaliação das amigas, costuma recorrer à fórmula
denominada Índice de Massa Corporal (IMC). O IMC serve para avaliar se o peso da pessoa é excessivo, ou não, em relação à sua altura.

Apesar de muito utilizado, tanto por leigos quanto por especialistas, o índice apresenta algumas falhas apontadas por estudiosos do assunto. Na UFMG, a pesquisadora Sandra Oliveira defendeu, junto ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem, dissertação de mestrado que propõe a utilização de vários cálculos, além do IMC, a fim de obter diagnóstico mais preciso e detalhado da obesidade.

De acordo com a pesquisadora, o IMC, utilizado isoladamente, apresenta problemas que podem levar a conclusões distorcidas. "É possível encontrar o mesmo índice para um atleta e uma pessoa sedentária. Apesar da equivalência de cálculo, apenas uma é realmente obesa", diz a pesquisadora. Ela explica que, nesse caso, a coincidência de IMC deve-se ao fato de o esportista possuir grande quantidade de massa muscular, o que eleva seu peso, ao contrário das pessoas que não praticam atividades físicas e podem apresentar apenas acúmulo de gordura corporal.

Para realizar uma avaliação detalhada sobre a quantidade de gordura e sua distribuição no organismo humano, a pesquisadora propõe a utilização conjunta das medidas de várias partes do corpo. "Dados como peso, altura, circunferências dos braços, pernas, cintura e quadril e a espessura das pregas cutâneas (coxas, peitoral e panturrilhas), utilizados simultaneamente, refinam o diagnóstico de sobrepeso e eliminam os equívocos", explica Sandra Oliveira.

O IMC foi desenvolvido por meio de estudos científicos e pode ser utilizado por homens e mulheres adultos. Para calculá-lo, basta dividir o peso de determinada pessoa, em quilogramas, pela altura, em metros, elevada ao quadrado. Depois, é só enquadrar o resultado entre os valores de referência da tabela abaixo:
Condição
abaixo do peso
peso normal
acima do peso
obeso

IMC
abaixo de 18,5
entre 18,5 e 24,9
entre 25 e 29,9
acima de 30

Padrões

O conjunto de medidas proposto pela pesquisadora foi utilizado na avaliação de 799 mulheres de 12 a 65 anos, entre janeiro e julho de 2000, e possibilitou a definição de três padrões de adiposidade. O primeiro, chamado adiposidade periférica, é encontrado quando a gordura está acumulada nas pregas cutâneas. Já a adiposidade global corresponde à presença de gordura em toda extensão do corpo e pode ser determinada pelo IMC ou pela medida da circunferência do braço. O terceiro padrão é a adiposidade central, localizada na região do abdômen e obtida por meio da razão entre as medidas da cintura e do quadril. "O acúmulo de gordura nessa região representa grande risco de aparecimento de diabetes e problemas cardíacos", adverte Sandra Oliveira.



Epidemia global

Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), a obesidade alcançou proporções de epidemia global. Em 1995, eram 200 milhões de pessoas obesas no mundo. Oito anos depois, esse número subiu para 300 milhões, sendo que o crescimento é maior nos países em desenvolvimento.

Segundo o professor Jorge Gustavo Melendez, coordenador de grupo de pesquisa sobre obesidade na Escola de Enfermagem, pessoas pobres e com baixa escolaridade tendem a apresentar maiores índices de adiposidade. Em países considerados emergentes, como o Brasil, o processo de urbanização aconteceu de forma brusca, diferentemente das nações desenvolvidos. "Aqui, as pessoas não se prepararam para sobreviver de acordo com o estilo de vida moderno", explica.

A democratização alimentar, ocorrida com a urbanização, disponibilizou alimentos altamente calóricos, ricos em gorduras, sal e açúcares, para a população que migra para a cidade. "A maioria das pessoas não está preocupada com comida saudável. Elas comem para satisfazer suas necessidades imediatas", argumenta Melendez, ao ressaltar a importância de políticas públicas voltadas para a promoção da segurança alimentar. "Elas devem ir além do combate à desnutrição", defende o professor. O conceito de segurança alimentar, explica, está relacionado não apenas à distribuição de alimentos para combater a fome, mas a ações coordenadas de diversos setores, como educação, agricultura, saúde e segurança, a fim de resolver estruturalmente o problema.