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Nº 1543 - Ano 32
14.08.2006

Vera e Thaís, duas guerreiras contra o câncer

ntramos aqui como guerreiras e saíremos vencedoras”. É assim que a promotora de vendas Vera Lacerda define a luta que ela e a filha, Thaís Lacerda, de 13 anos, travam contra o câncer. Em dezembro de 2004, a menina começou a sentir dores fortes na coluna. Houve quem pensasse que o mal era resultado da mochila pesada. Em março do ano passado, Vera chegou com Thaís ao Hospital das Clínicas (HC) da UFMG, com muitas dúvidas e poucas certezas. Após vários exames, foi constatado que a dor era conseqüência de uma doença de nome até então desconhecido: osteoplastoma, um câncer alojado na coluna de Thaís.
Eber Faioli

Vera e Thaís Lacerda: de mãos dadas na luta contra o câncer

Para a menina, apaixonada por skate, a descoberta do câncer foi uma experiência traumática. Ela conta que se assustou com os procedimentos hospitalares, como a sonda, e com termos até então ausentes de seu vocabulário, como biópsia e a própria palavra câncer. A mãe decidiu abrir o jogo. “Expliquei tudo a ela, que poderia perder o cabelo, que a doença era grave. Mas desde o primeiro momento disse à minha filha que precisávamos nos unir nessa luta”. Foram três cirurgias, uma para realização da biópsia e duas para retirada de células cancerosas. Com as internações, Thaís perdeu um ano na escola e hoje cursa a sexta série. “Precisei assinar vários termos, que diziam que minha filha poderia voltar da operação sem andar. Infelizmente, o câncer voltou bem maior, dois meses depois da segunda cirurgia”, lembra Vera.

Ao relatar a história, mãe e filha misturam a dor à alegria de reconquistar a vida numa difícil batalha diária. Diante do diagnóstico a família se uniu como nunca. “Fizemos um pacto: se o cabelo da Thaís caísse, todos passaríamos máquina zero”, lembra a mãe. Entretanto, o sacrifício não foi necessário, já que a quimioterapia e a radiografia não são tratamentos recomendáveis para o tipo de câncer da adolescente.

Em época de internação, é Vera quem controla os horários de remédios da filha, tornando-se uma espécie de assistente da equipe médica do HC, onde Thaís é conhecida como a “garota do piercing”, por conta da jóia do umbigo, que apareceu em uma radiografia. Momentos tristes também fazem parte dessa rotina. “Recentemente morreu uma coleguinha da Thaís que teve câncer. Eu não a deixei ir ao velório e ao enterro”, conta Vera. A mãe faz questão de contar o desespero diante das duas paradas cardíacas que a filha sofreu durante uma cirurgia e atribui a Deus a recuperação. “Muitas vezes não agüentava e chorava, mas dizia a ela que as lágrimas eram devido à lente de contato”, lembra.

Superação
O médico Gilberto Ramos convive com histórias como a de Vera e Thaís diariamente. “Muitos fazem cirurgias, quimioterapia e até transplantes”. Ele conta que as reações são variadas. Quase sempre os pacientes ficam deprimidos nos primeiros dias de internação. “Mas não demoram a sorrir e a sair correndo pelos corredores do hospital”, diz o médico.

Eber Faioli

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Ramos explica que contar a verdade para as crianças sobre todas as fases do tratamento é prática recorrente em sua equipe. “Nossos profissionais fazem o tratamento de uma forma lúdica, carinhosa e compreensiva. A recompensa vem no olhar, no sorriso, na recuperação de cada um”, explica o médico, que não deixa de se emocionar com manifestações de gratidão de seus pacientes. “Dia desses, ligou uma paciente que eu tratei há mais de 20 anos. Hoje está com 35 e tem três filhos. Ela contou que um deles havia passado no vestibular de Administração e queria me conhecer”.

A boa vontade da equipe é ilimitada, mas o mesmo não se pode dizer dos recursos disponíveis. “O número de vagas no hospital é insuficiente para atender à demanda. Na pediatria, os 60 leitos são para todos os pacientes, de todas as doenças”, lembra Ramos. Por causa da falta de leitos, muitos acabam tratados no pronto-atendimento. Ainda assim, o hospital consegue realizar 6,8 mil consultas ambulatoriais por ano de crianças com câncer. Por mês, são 500 internações e 100 meninos e meninas na quimioterapia.