Busca no site da UFMG

Nº 1543 - Ano 32
14.08.2006

O filão da microeletrônica

Cursos de especialização da UFMG preparam profissionais para um mercado ainda inexistente no país

Manoella Oliveira

ão milhões de celulares no Brasil, todos eles compostos por circuitos eletrônicos integrados fabricados no exterior. O custo do desenvolvimento dessa tecnologia é alto, por isso cerca de 70% do valor do aparelho retorna aos pólos geradores do produto. Os 30% que permanecem em terras tupiniquins são absorvidos pela massa salarial da equipe de montagem e alguns componentes de baixo valor agregado, como carregadores de bateria.
Foca Lisboa

Diógenes da Silva Júnior: UFMG tem tradição em microeletrônica

Os pesquisadores brasileiros projetam circuitos integrados, mas eles são materializados fora do país, mesmo que a maior parte do silício que os compõem saia, ainda em forma bruta, do Brasil. Para reverter essa situação, é preciso criar indústrias nacionais voltadas para microeletrônica que gerem demanda por empregos.

A inexistência de postos de trabaho nessa área tem como conseqüência a falta de cursos de graduação voltados especificamente para esse mercado. Para ajudar a preencher essa lacuna, a UFMG oferece, de setembro deste ano a março de 2007, a pedido do governo de Minas Gerais, dois cursos de especialização: Microfabricação, ofertado pelo Programa de Pós-Graduação em Física, com carga de 360 horas aula, e Projeto de Circuitos Integrados, oferecido pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, com 390 horas-aula.

Com esse investimento em capacitação de mão-de-obra especializada, o Governo Estadual está preparando terreno para a formação de um pólo de eletro-eletrônicos ancorado por fábrica de semicondutores. “Por uma questão de praticidade e demanda, optamos pela especialização que vai aprofundar o conhecimento adquirido na graduação e resultar em possíveis mestrados e doutorados”, explica o professor Diógenes Cecílio da Silva Júnior, autor da proposta do curso Projeto de Circuitos Integrados.

Os candidatos podem ser graduados em Ciência da Computação, Física e nas engenharias Elétrica, Eletrônica, de Controle e Automação e afins. A idéia é complementar a formação desses profissionais, com foco na fabricação de semicondutores e na elaboração de projetos de circuitos integrados digitais de grande complexidade. “Os cursos de graduação da área de exatas normalmente ofertam disciplinas sobre circuitos digitais de pequeno porte, o que não atende à demanda que virá das futuras empresas”, explica o professor.

Segundo Diógenes da Silva Júnior, o Projeto de Circuitos Integrados objetiva o estudo de metodologias necessárias à composição de circuitos integrados digitais que compõem desde máquinas de lavar a aparelhos de MP3. Já o curso de Microfabricação abarca o processamento e a fabricação de dispositivos eletrônicos, tanto discretos quanto integrados. Cada curso terá 30 vagas.

Os interessados devem necessariamente optar por um dos cursos, já que o regime será intensivo e exclusivo. Como não podem manter vínculo empregatício, os alunos receberão uma bolsa da Fapemig no valor de R$ 1 mil.

A seleção será feita por análise de currículo, histórico escolar e carta de recomendação – esta última com peso menor no processo de escolha. Os alunos de melhor rendimento serão selecionados para estagiar durante nove meses em empresas dos Estados Unidos ou da Europa, com todas as despesas pagas pela Fapemig, que financia o projeto no valor de R$2,6 milhões. “Os cursos terão uma carga maior de aulas teóricas e é preciso que os alunos adquiram experiência prática. Transmitir conhecimento necessário para trabalhar com microeletrônica leva tempo. Estamos concentrando atividades para acelerar o processo”, conta o professor.

Semicondutores
A realização dos cursos é um desdobramento da proposta do Governo Estadual de criar um Pólo de Microeletrônica em Confins, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Nossa região é tida como ideal para implantação de um empreendimento do gênero por causa justamente da UFMG, que reúne todas as condições para dar suporte a ele”, justifica o professor Diógenes, ao lembrar que a Universidade tem larga tradição na área de microeletrônica, “tanto na parte de estudos de Física de semicondutores quanto em grupos de pesquisa, existentes há cerca de 20 anos, que se dedicam à concepção de projetos de circuitos integrados”.

O Pólo terá como âncora a Companhia Brasileira de Semicondutores (CBS), fábrica de circuitos integrados e semicondutores que, por enquanto, existe como figura jurídica. A expectativa é que, além dela, outras organizações da cadeia produtiva de eletro-eletrônicos sejam aglomeradas no Pólo, como empresas de projetos de circuitos integrados, de integradores de circuitos que componham equipamentos de eletrônica avançados e fornecedores de insumos.

Cursos: Microfabricação e Projetos de Circuitos Integrados
Período de Inscrições: até 23 de agosto
Local de inscrições: www.fisica.ufmg.br/prograd/inscricao-ME, www.cpdee.ufmg.br/cemicopci e www.fundep.br.
Financiamento: Fapemig