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Nº 1543 - Ano 32
14.08.2006

Nadando com a maré

Laboratório da UFMG desenvolve técnicas de defesa da saúde dos peixes

Miguel Arcanjo Prado

ensidade populacional e condições de oxigenação da água são questões que não passaram pela cabeça do estudante de Direito Guilherme Lima Públio quando decidiu criar peixes. Por isso, assustou-se ao encontrar mortos, em novembro do ano passado, 32 dos 35 peixes que criava em um lago de cinco metros quadrados, no quintal de casa, no Bairro da Graça, região Nordeste de Belo Horizonte.

Foca Lisboa

Rômulo Leite (à esquerda) com a equipe do Laboratório de Ictiossanidade: apoio à piscicultura

“Não sabia o que poderia ter acontecido. Imaginei que alguém tivesse jogado algo na água”, lembra. Contudo, ao levar os três peixes sobreviventes ao Laboratório de Ictiossanidade da Escola de Veterinária, Guilherme descobriu que não havia traços de contaminação química nos animais. A causa mais provável da morte era a falta de oxigenação. O lago era pequeno para comportar tantos peixes.

Desvendar “mistérios” como o que envolveu a mortandade dos peixes criados pelo estudante é uma das atribuições da equipe do Laboratório de Ictiossanidade, um dos braços de apoio do Laboratório de Aquacultura da Unidade. Ele desenvolve técnicas de criação saudável dos peixes e de controle de doenças, oferecendo orientação gratuita ou consultoria a preço de custo a pequenos produtores. “Grande parte dos estudos são sobre a própria água, uma vez que qualquer modificação no ambiente afeta a fisiologia e o comportamento biológico dos peixes”, explica a pós-doutoranda Luciene Correia Lima. A pesquisadora afirma que é muito difícil a recuperação de um peixe doente. Por isso, a prevenção é considerada a principal aliada da psicultura.

“Cada espécie tem um sistema próprio, e as pesquisas válidas para uma não servem para outra”, diz a pós-doutoranda. Segundo ela, o sucesso da atividade depende, portanto, do conhecimento da espécie com a qual se pretende trabalhar. “Cada uma tem sua faixa de temperatura ideal, seu valor de oxigenação, a profundidade certa para viver. Muitas vezes, o criador, por não levar isso em conta, tem surpresas desagradáveis. Os peixes são muito sensíveis”, reflete Luciene, ao ressaltar que a área ainda se encontra em estágio inicial no país.

Além do suporte sanitário para o Laqua, a equipe do Laboratório de Ictiossanidade desenvolve dois projetos de pesquisa, no valor de R$ 50 mil, financiados pela Fapemig e pelo CNPq.

Pampulha
O laboratório, no entanto, quer alçar novos vôos. Seu coordenador, o professor Rômulo Cerqueira Leite, adianta que um dos objetivos mais imediatos é realizar levantamento das doenças que acometem os peixes da Lagoa da Pampulha, um dos cartões-postais de Belo Horizonte. “É uma região tradicional de pesca, apesar da poluição de suas águas. Por isso, é importante verificar a saúde desses peixes e seus reflexos para a população que os consome”, explica.

As atividades do Laboratório de Ictiossanidade também representam boas perspectivas profissionais para os estudantes da área. “Sempre me interessei por piscicultura, área carente de profissionais qualificados. Atuando no Laboratório, aprendo a cada dia”, diz Ângelo Procópio Costa, estudante de Medicina Veterinária da UFMG. A oportunidade trazida pelo Laboratório também é valorizada por seu colega de curso e estágio, Frederico Osório. “Tenho certeza de que, devido a essa experiência, terei chances maiores no mercado”, acredita.

Laboratório de Aquacultura da Unidade - Espécie de indústria-piloto para a cultura de peixes e de outras espécies aquáticas, o Laqua é o único complexo de pesquisa na América Latina que contempla toda a cadeia produtiva da aquacultura. Dedica suas atividades às espécies surubim e tilápia, peixes muito encontrados nos rios e na mesa dos mineiros.

Criação em cativeiro é alternativa à pesca predatória

A piscicultura cresce a cada ano no Brasil e no mundo. Segundo dados da Secretaria Especial de Aqüicultura e Pesca, desde 1970, a média mundial de crescimento do setor é de 9,2% anuais. No Brasil, esse índice supera os 22% e, segundo dados do IBGE de 2000, cerca de 19 mil pessoas declararam a aqüicultura como sua principal atividade.

Foca Lisboa

Apesar desses números, a pesca predatória e a poluição das águas estão provocando, em todo o mundo, a redução dos peixes em mares e rios. A saída encontrada pelos produtores comerciais é a criação em cativeiro, que exige grandes investimentos. “A pesca extrativista está em declínio, mas a transferência dos peixes para o cativeiro exige que o produtor invista em tecnologia especial”, alerta o professor Rômulo Cerqueira Leite, coordenador do Laboratório de Ictiossanidade da Escola de Veterinária.