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Nº 1591 - Ano 34
19.11.2007

O átomo a serviço da pecuária

Com ajuda de reator nuclear do CDTN, pesquisa da Veterinária analisa contaminação

Ricardo Bandeira

Uma pesquisa desenvolvida na Escola de Veterinária da UFMG, como parte de uma tese de doutorado, chegou a resultados que podem ter impacto significativo na agropecuária brasileira. O engenheiro Artur Canella Avelar estudou oito fontes de fósforo (fosfatos) largamente utilizadas como suplementos de rações e descobriu que nenhuma delas apresenta traços de contaminação que possam afetar o consumo humano de carne. Em duas fontes, no entanto, a concentração de flúor, se não traz prejuízos à alimentação humana, compromete a produtividade dos rebanhos.

A tese de Avelar ainda não foi defendida, mas já rendeu ao pesquisador a inclusão de sua biografia na publicação norte-americana Who´s who in Science and Engineering (2008-2009 Edition). O trabalho tem o título provisório de Análise por Ativação Neutrônica de Fontes de Fósforo na Nutrição Animal. A defesa está prevista para dezembro, no doutorado em Ciência Animal.

A expressão “ativação neutrônica” é a chave para entender a relevância da pesquisa. Trata-se de um método de análise que permite identificar a contaminação de fosfatos por substâncias que podem se associar às rochas fosfáticas, no momento de sua formação geológica. Entre essas substâncias estão cromo, arsênio, tório, urânio e alumínio, que podem ser nocivas à saúde humana.

O uso da técnica de ativação neutrônica foi possível graças a uma parceria da Escola de Veterinária com o Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN), no campus Pampulha. No Centro, funciona um dos dois reatores nucleares do país nos quais esse método de análise do fosfato é possível. O outro está na USP.

“A análise por ativação neutrônica consegue quantificar 70% dos elementos da tabela periódica com uma única amostra”, explica Avelar. Isto significa que o método permite verificar a presença ou não da maioria das substâncias capazes de contaminar o fosfato usado na alimentação animal, bem como suas concentrações. As técnicas tradicionais de análise não conseguem detectar tantos elementos e algumas são menos sensíveis que a ativação neutrônica, capaz de quantificar a presença de contaminantes até mesmo em quantidades baixas (da ordem de partes por bilhão).

Arquivo pessoal
coelhos
Coelhos usados nos testes:
animais sensíveis à contaminação

Análise em coelhos

A pesquisa de Artur Canella Avelar não identificou contaminação significativa em nenhuma das oito fontes de fósforo analisadas: farinha de ossos calcinada, fosfato bicálcico, fosfato supertriplo, fosfato supersimples, fosfato monoamônico, fosfossulfato de amônio, polifosfato de cálcio e amônio e um sal mineral bovino fabricado em uma pequena propriedade mineira.

No fosfossulfato de amônio e no sal mineral bovino, no entanto, foi detectada concentração de flúor incapaz de contaminar a carne, mas com resultados prejudiciais ao desenvolvimento físico dos animais, o que gera impactos negativos na produtividade do rebanho. Ou seja, o gado alimentado com rações compostas por essas duas fontes de fósforo tende a crescer menos e a produzir menos carne no momento de abate.

Para testar os efeitos dos fosfatos, Avelar utilizou o coelho, modelo biológico consagrado na pesquisa animal. “Usar um rebanho bovino teria custo elevado, além de demandar, no mínimo, dois anos de testes. Com os coelhos, foram necessários 72 dias até o momento de abate”, afirma o pesquisador. Outra vantagem é que esses animais são bastante sensíveis à contaminação, característica importante para evidenciar a presença de substâncias tóxicas nos fosfatos.

Foram utilizados na pesquisa 96 coelhos, 12 para cada uma das fontes de fósforo analisadas, sendo seis machos e seis fêmeas, em cada grupo. Nos primeiros 30 dias de vida, as cobaias foram alimentadas com leite da coelha, o que afastou a possibilidade de contaminação prévia por substâncias externas. Após o desmame, eles se alimentaram de ração por 42 dias. Avelar usou oito tipos diferentes de ração, que variaram apenas nas fontes suplementares de fósforo, representadas em cada caso por um dos oito fosfatos.

Cada grupo de 12 coelhos ingeriu apenas um tipo de fonte mineral. Em seguida, todos foram abatidos e a carne, analisada. Nenhuma cobaia morreu por contaminação, mas os animais que usaram o fosfossulfato de amônio e o sal mineral bovino do experimento, com maior presença de flúor (cerca de 400mg/kg), atingiram, em média, peso de 1,7 kg, enquanto os restantes alcançaram 2,1 kg, diferença significativa para o produtor rural.

O fósforo é elemento essencial na alimentação de todos os animais, inclusive do homem, por possibilitar transferências de energia no organismo. Na alimentação humana, há diversas fontes desse elemento químico. Na nutrição do gado, no entanto, é necessário acrescentar fosfatos à ração, já que os pastos tropicais são pobres em fósforo.

Tese: Análise por Ativação Neutrônica de Fontes de Fósforo na Nutrição Animal (título provisório)
Autor: Artur Canella Avelar
Previsão de defesa: dezembro/2007, junto ao Doutorado em Ciência Animal, da Escola de Veterinária
Orientador: Walter Motta Ferreira (Departamento de Zootecnia)
Co-orientadora: Maria Ângela Menezes (CDTN)