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Nº 1591 - Ano 34
19.11.2007

 Brian Stone

A ponte entre o homem e a tecnologia

Bruno Vieira dos Santos

Oito de novembro é o Dia Mundial da Usabilidade, área de pesquisa que surgiu para diminuir dificuldades de manuseio de aparelhos tecnológicos. Nesta data, o Instituto de Educação Continuada da PUC-Minas, com o apoio da UFMG, promoveu palestras e workshops abordando o tema. Um dos palestrantes foi o professor Brian Stone, da Ohio State University (EUA), onde leciona Comunicação Visual.

Stone é reconhecido como um dos maiores especialistas mundiais em usabilidade, e seus estudos estão centrados na criação de mecanismos que possibilitam a interação homem-tecnologia. Tais soluções são materializadas em forma de produtos como websites, CD-ROMs interativos, apresentações multimídia e mensagens tipográficas em movimento.
“A usabilidade facilita o acesso universal à tecnologia e aos serviços”, diz o professor Brian Stone, nesta entrevista ao BOLETIM, na qual também discorre sobre o caráter interdisciplinar da área, que tem seus conceitos apropriados por designers, engenheiros, antropólogos, sociólogos e outros profissionais.

Foca Lisboa
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Stone: universidade terá papel determinante na evolução da área de usabilidade

Como o senhor conceituaria usabilidade?

A usabilidade é um conceito que surgiu para simplificar o manuseio dos produtos tecnológicos. Ele está associado à tentativa de facilitar a interface produto-consumidor, já que o design de produtos está ficando cada vez mais complexo.

Como resolver o impasse de grupos sociais que demonstram grande dificuldade para incorporar as novas tecnologias e que contribuição a usabilidade pode oferecer para alterar esse cenário?

É verdade que a tecnologia tem causado dificuldades para vários grupos de pessoas, e o que nós temos que fazer é diminuir barreiras para fazer com que os produtos sejam fáceis de lidar e alcancem uma parcela maior da população. A usabilidade deve contribuir para propiciar um acesso mais universal aos serviços.

Nos Estados Unidos, o conceito de usabilidade já é pensado na perspectiva da inclusão ou ainda estaria no estágio de facilitar o acesso daqueles que já estão incluídos?

Infelizmente, o que a usabilidade faz nos Estados Unidos ainda é facilitar o acesso daquelas pessoas que já o possuem. Os EUA precisam entender que fazem parte de um ambiente global e devem olhar para o exterior e não apenas para a sociedade norte-americana.

A indústria, por falta de tempo e até por causa de seu modus operandi, não tem capacidade para avaliar com profundidade as técnicas que dimensionam a capacidade de usabilidade de seus produtos e serviços. Cabe então à universidade produzir uma massa crítica e teórica sobre o assunto. Em sua avaliação, a academia vem se saindo bem no cumprimento desse papel?

A academia tem muito trabalho pela frente. Há elementos na cultura das universidades que não existem nas empresas, como a curiosidade dos estudantes, as oportunidades de atuar em nível interdisciplinar e a capacidade de disseminar o conhecimento, característica inerente à academia. A Apple, fabricante de computadores, descobriu vários aspectos de usabilidade e não os compartilha pelo fato de que eles constituem vantagem competitiva. O aprendizado em usabilidade deve vir de locais como a UFMG, a Ohio State University e outras universidades espalhadas pelo mundo. Além da pesquisa, a universidade tem um papel muito importante na criação de novos métodos relacionados à disciplina de usabilidade.

Em sua participação no Dia Mundial da Usabilidade, o senhor abordou o futuro da usabilidade e os conceitos da área que se projetam. Que conceitos são esses?

Um dos conceitos é a relação entre linguagem associativa (ou comunicação não-linear) e usabilidade que, na verdade, abre espaço ou leva em consideração esse tipo de comportamento. As redes sociais interligam-se, na verdade, de uma maneira não-linear. É difícil dizer quem é o responsável pela disciplina de usabilidade: designers, engenheiros, antropólogos, sociólogos e os profissionais que atuam na interação homem-máquina estão trabalhando com usabilidade sob pontos de vista diferentes. A usabilidade está se expandindo e se tornando mais reconhecida. No Dia Mundial da Usabilidade, realizado há três anos, não tínhamos certeza sobre os desdobramentos da área. Mas agora temos um evento anual, que é aguardado com expectativa no mundo inteiro. Eu não sei como o será o futuro, mas estou muito otimista em relação à evolução da área.

O futuro da usabilidade não poderia estar na transdisciplinaridade e na sua capacidade de influenciar a atuação de outras disciplinas?

É o que eu espero. A usabilidade é uma área muito poderosa e é preciso ter um grande nível de responsabilidade para estudá-la, pois você consegue mudar comportamentos das pessoas de maneira positiva ou negativa. É possível que façamos dela um campo de conhecimento que se consolide efetivamente como uma disciplina. Para isso, ela precisa ser marcada por valores como transparência e avaliação crítica e capaz de disseminar informações na área acadêmica.