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Nº 1602 - Ano 34
26.03.2008

 

Exercício físico combate obesidade infantil e riscos de doenças do coração

Rita
crianca

Estudo de doutorado recomenda ampliação da carga horária das aulas de educação física

Alessandra Ribeiro*

Nos últimos 20 anos, as taxas de obesidade infantil mais que
duplicaram no Brasil, acompanhando tendência observada nos Estados Unidos, Canadá e na Europa. A situação preocupa: o excesso de peso é um dos fatores de risco para as doenças cardiovasculares, a principal causa de morte no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Resgatar brincadeiras simples como correr, jogar bola e pular corda pode ser uma solução simples. Parece trivial, mas o desafio é incluir essas atividades no cotidiano de crianças confinadas em casa devido à insegurança nas ruas e à falta de tempo dos pais, freqüentemente compensadas pela combinação videogame-televisão-computador.

O aumento da carga horária das aulas de Educação Física nas escolas é proposto pela fisioterapeuta Márcia Braz Rossetti, autora da tese de doutorado Impacto da atividade física na cardioproteção de crianças e adolescentes com sobrepeso e obesidade, defendida recentemente no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG.

A pesquisa dá continuidade a um trabalho sobre aspectos inflamatórios decorrentes da obesidade infantil, realizado pela médica Adriana Reis Brasil, no Ambulatório de Doenças Nutricionais do Hospital das Clínicas da UFMG. Os dois estudos foram orientados pela professora Rocksane de Carvalho Norton, do departamento de Pediatria.

Tratamento

Entre 245 crianças e adolescentes obesos e não-obesos avaliados por
Adriana Brasil, a fisioterapeuta Márcia Braz Rossetti selecionou 45 crianças e adolescentes na faixa etária de oito a 16 anos, com sobrepeso ou obesidade, e que moram na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Este critério foi adotado porque a maioria precisava de ajuda financeira para custear despesas com transporte de suas residências até o local do tratamento.

Eles receberam acompanhamento de uma equipe multidisciplinar, constituída de pediatra, nutricionista, psicóloga e fisioterapeuta. Dos 45 pacientes que consentiram em participar da pesquisa, 27 foram encaminhados ao Centro Desportivo da PUC Minas, onde Márcia Rossetti é professora do curso de Fisioterapia. Lá, participaram de 50 minutos de exercícios recreativos, três vezes por semana, ao longo de doze semanas, supervisionados pela professora e por estudantes de fisioterapia.
Para a verificação do impacto da atividade física na saúde das crianças e adolescentes, eles foram submetidos a coletas sangüíneas para dosagem da proteína C-reativa e perfil lipídico, além de testes físicos: antropometria, plicometria (medida da espessura das pregas cutâneas) e teste funcional. O peso corporal não mudou significativamente, pois, segundo Márcia Rossetti, nessa faixa etária o crescimento e desenvolvimento são contínuos.

Em apenas três meses, as crianças que participaram das atividades recreativas monitoradas tiveram queda de 1% no IMC (Índice de Massa Corporal), redução de 18% do colesterol total, melhora de 15% na capacidade funcional aeróbica (nível de condicionamento físico) e queda de 25% nos níveis de proteína C-reativa, fator de risco que favorece o desenvolvimento de doenças cardiovasculares.

Já entre os 18 participantes que receberam acompanhamento-padrão (médico, nutricional e psicológico), mas não se submeteram aos exercícios supervisionados, houve aumento de 31,7% nos níveis de C-reativa. Ou seja, o potencial de risco de doenças cardiovasculares futuras aumentou significativamente. Além disso, o IMC, os níveis de colesterol e a capacidade funcional não apresentaram variações importantes no grupo que não participou de atividades físicas monitoradas.

O acompanhamento profissional das atividades recreativas é fundamental, segundo a autora do estudo, porque ajuda a monitorar a intensidade do esforço. “Foram realizadas atividades dinâmicas, semicontínuas, que exigem o uso de grandes grupos musculares”, explica a fisioterapeuta, citando como exemplos corrida de saco e cama elástica.
Além dos estudantes de Fisioterapia, também foram incluídos monitores dos cursos de Educação Física e Psicologia, com a transformação do trabalho em projeto de extensão conjunto da UFMG e da PUC Minas. Agora, a expectativa da autora é que os resultados da pesquisa possam incentivar a incorporação de mais atividades físicas ao cotidiano infantil, com a mobilização das famílias e das escolas. “Atualmente, a maioria das escolas determina apenas uma aula de educação física semanal. É preciso que haja maior exposição das crianças à atividade física em ambiente supervisionado”, defende Márcia Braz Rossetti.

*Jornalista da Assessoria de Comunicação da Faculdade de Medicina