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Nº 1602 - Ano 34
26.03.2008
O movimento não é exatamente novo: a música popular vem ganhando espaço na academia. Na Escola de Música da UFMG, a flexibilização do currículo, em 2001, provocou mudança na formação dos alunos, com a opção de estudos em rítmica, improvisação, big band, arranjo e harmonia específicos. Antes disso, por sinal, cursos de extensão levavam artistas para a Escola, como os integrantes do Uakti, que contribuíam para introduzir a música popular no universo acadêmico.
O passo mais recente foi a inclusão, na proposta da UFMG para o Reuni – plano de expansão e reestruturação das universidades federais –, da habilitação em música popular. “O ensino da música popular sempre esteve ligado à tradição oral, e a UFMG, como outras instituições, caminha para a formalização desse processo”, diz Heloisa Feichas, professora da Escola, cuja formação associa educação musical e a vertente popular. Ela ressalta que não se trata de negar a tradição, mas de integrar o erudito e o popular. Mauro Rodrigues, outro professor que participou dos estudos para a proposição da nova habilitação, concorda que a separação é impossível. “Não há como pegar um instrumento e esquecer que existiu Bach”, argumenta Mauro, para quem é fundamental que o estudante tenha visão abrangente antes de escolher seu caminho.
Mas, afinal, qual é a diferença entre música erudita e popular, além de sua localização nas lojas de discos? “Em certo sentido, é meio sociológica, meio mercadológica”, arrisca Carlos Ernest Dias, também professor da Escola de Música. São muito importantes, segundo ele, os sentimentos, as associações e as memórias que a música desperta. Ernest lembra que a música erudita tem sua origem ligada à nobreza da Europa, onde a música popular sempre existiu, representada pela rabeca, viola e trovadores. No Brasil, a arte de Chopin e Beethoven deparou com uma música muito rica, miscigenada.
Mauro Rodrigues diz que a distinção está também na relação com o tempo. “Na música erudita há mais elasticidade, enquanto o músico popular parece trabalhar com o ritmo do tambor, do corpo que dança”, define. “Uma é cerebral, a outra é gestual”, completa Carlos Ernest, que lida na Escola com grupos de câmara e bandas sinfônicas, entre outros grupos, além de ensinar história da MPB.
De formação erudita (oboé), Ernest Dias defende que os graduandos tenham conhecimento de causa para tocar música popular. “Não é difícil encontrar quem executa muito bem um Mozart ou um Bach, mas não domina a linguagem da bossa nova, por exemplo, e se satisfaz em tocar com base em qualquer cifra encontrada na internet”, alerta.
O fortalecimento do ensino de música popular contribuirá também, segundo Heloisa Feichas, para “a produção de novos conhecimentos, através da construção de pontes com outras áreas, como a antropologia”. Em futuro muito próximo, tanto ela quanto Carlos Ernest e Mauro Rodrigues acreditam que os alunos da Escola de Música da UFMG vão dançar ao ritmo ainda mais forte do tambor.