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Nº 1605 - Ano 34
14.04.2008

Sem trégua para o Aedes

Ações de monitoramento e de vigilância sanitária combatem
o mosquito da dengue no campus Pampulha

Flávio de Almeida

Há pouco mais de um ano, para ser mais exato no dia 21 de março de 2007, 231 unidades do MosquiTRAP, armadilha usada para capturar o mosquito Aedes aegypti, começaram a ser espalhadas por 36 unidades acadêmicas e administrativas do campus Pampulha. Desde então, a “arapuca” já capturou cerca de 6,7 mil fêmeas do mosquito, matando “pela raiz” o vetor de transmissão da dengue.

Esse número é ampliado exponencialmente quando confrontado com a quantidade de ovos que as fêmeas deixam de lançar no meio ambiente. Cálculos da pesquisadora Rosemeire Aparecida Roque, professora do ICB e coordenadora do Projeto Monitoramento Inteligente da Dengue (MI-Dengue), revelam que cada fêmea despeja de 50 a 70 ovos por postura. Considerando que cada uma tem de três a cinco posturas em sua vida, o número de ovos pode chegar a 350. “Se fizermos uma projeção com as 6,7 mil fêmeas capturadas durante esse período, podemos dizer que entre 1 milhão e 2,3 milhões de ovos do mosquito deixaram de ser lançados no meio ambiente”, diz Rosemeire, integrante da equipe do professor Álvaro Eiras, que desenvolveu a armadilha.

A presença do Aedes no campus Pampulha é monitorada semanalmente. Dois estudantes saem a campo na quarta e na quinta-feira recolhendo os dados e armazenando-os em planilhas eletrônicas. As informações são enviadas às sextas-feiras para a empresa Ecovec, que utiliza os dados para a geração de gráficos, tabelas e mapas georreferenciados. O resultado é repassado à Prefeitura de Belo Horizonte e hospedado na página eletrônica do projeto MI-Dengue.

Em um ano de monitoramento, a equipe do projeto identificou as unidades com as maiores taxas de positividade e negatividade – presença e ausência – do mosquito. Hospital Veterinário, ICB, ICEx, Centro Pedagógico, Faculdade de Letras, Fafich, Faculdade de Educação e Escola de Belas-Artes são, pela ordem, as de maior incidência do vetor. Já o Centro Esportivo Universitário, a Escola de Música, a Estação Ecológica e o anexo da Escola de Belas-Artes são os prédios menos freqüentados pelo Aedes.

Nas últimas semanas, marcadas por forte calor e chuvas, a presença do mosquito aumentou. “Na semana de 23 a 29 de março, por exemplo, o Aedes foi encontrado em 34 das 36 unidades monitoradas”, comenta Rosemeire Roque. Para o professor Álvaro Eiras, especialista no controle do mosquito, a situação exige atenção e cuidados redobrados. “Mas não é motivo de alarme. Nunca houve no campus um monitoramento tão intenso quanto o que fazemos hoje”, garante o professor.

Fotos: Paulo Cerqueira 
O Monitoramento Inteligente (MI-Dengue) vale-se dos produtos MosquiTRAP e o AtrAedes, desenvolvidos sob a coordenação do professor Álvaro Eduardo Eiras. O MosquiTRAP é uma espécie de vaso preto, com água ao fundo, que imita o criadouro do mosquito. Nele, é depositado o AtrAedes, fabricado em forma de pastilhas, que libera um odor que atrai a fêmea adulta do mosquito. Ao entrar na armadilha, o inseto fica preso a um cartão adesivo, colocado na parede do vaso, e não consegue depositar seus ovos. Por meio da análise do cartão, é possível detectar a concentração do inseto na região onde a armadilha foi instalada.

Parceria

O combate ao mosquito da dengue do campus envolve também uma parceria entre a UFMG e a Prefeitura de Belo Horizonte. Há cerca de um ano, o controle foi intensificado com a presença diária de dois agentes de zoonoses da Regional Pampulha no campus para verificar as condições de proliferação do mosquito. “Sob esse aspecto, o campus hoje é bem mais seguro. Realizamos reuniões periódicas com os funcionários da limpeza, além de palestras e cursos sobre o assunto”, afirma Alcione Aguiar Souza, vice-coordenadora do Programa de Gestão de Resíduos do Departamento de Serviços Gerais (DSG).

Segundo Cristiano Fernandes da Costa, gerente regional de Controle de Zoonoses da Pampulha, a mobilização é um dos pontos fortes dessa ofensiva. Ele lembra que, pouco antes do início do semestre letivo, no final de fevereiro, cerca de 40 profissionais da Vigilância Sanitária comandaram uma ampla vistoria nas unidades do campus. O trabalho também reserva atenção especial para os locais de maior risco, chamados de sentinelas. São os casos das obras e de unidades como o ICB e o Hospital Veterinário, onde a presença do mosquito é comprovadamente maior. “No caso da Veterinária, praticamente conseguimos eliminar um dos principais fatores, que são os focos nas baias. Fizemos um trabalho de limpeza em 95% delas e agora basta garantir manutenção permanente para termos um controle eficiente”, diz Cristiano Fernandes.